Para repensar a escola

5 lições da neurociência para a escola

O que as pesquisas apontam sobre como funciona o cérebro que aprende

Ilustração:Bárbara Malagoli

Neurociência é palavra recente para um campo de estudos que começou no século 19, já com perfil interdisciplinar. Ela aglutina colaborações da medicina, da matemática, da química, da engenharia, da psicologia, da filosofia, das artes, da computação e da linguística. Além dessas áreas, tem oferecido contribuições importantes para a educação. Conheça, abaixo, o que dizem pesquisas recentes da neurociência sobre o cérebro e a aprendizagem.

1) A emoção reforça os caminhos neurais
O cérebro evoluiu para preservar conteúdos que tenham acervo emocional. Quanto mais vezes a amígdala (porção cerebral associada às emoções) for ativada em uma experiência, maiores serão as chances de um evento ser guardado. A proposta, portanto, é balancear o aprendizado “racional” com aspectos da vida cotidiana e sentimental do aluno.

2) Sono ajuda na aprendizagem
Diferentes regiões do cérebro são restauradas pelo sono e dependem dele. Crianças bem descansadas mentalmente, que tiveram um sono reparador, terão melhor desempenho na sala de aula a curto e a longo prazo. Algumas pesquisas indicam que o início mais tardio das aulas no período da manhã é uma opção interessante para adolescentes em particular, com expressiva melhora no aprendizado e na interação social. Uma das frentes de estudo sobre sono e aprendizagem acontece no Brasil, no Instituto do Cérebro (UFRN). Uma pesquisa testou os efeitos de uma soneca curta em alunos do Fundamental com resultados animadores: aumentou em até 10% a retenção dos conteúdos.

3) O cérebro é plástico
Por si, sem cirurgias nem medicamentos, o cérebro tem a capacidade de se transformar. Essa neuroplasticidade permite que adquiramos novas habilidades se bem estimulados. No livro O Cérebro Que se Transforma, Norman Doidge relata vários casos de pessoas que, submetidas a técnicas baseadas na neuroplasticidade, conseguiram avançar em áreas nas quais antes tinham dificuldade.

4) A influência da organização da sala de aula
Pesquisa mostrou que duas crianças interagem melhor face a face. Se você mudar a posição delas e pedir que conversem olhando para o restante da classe, o desempenho e a sincronia cerebral são menores porque se perde a empatia que “amarrou” os dois cérebros. “Isso é interessante porque a posição das crianças na sala é uma variável que precisa ser considerada na Educação”, afirma o neurocientista Roberto Lent. Daqui a cinco a dez anos, completa ele, a neurociência poderá dar sugestões sobre a geometria da sala de aula.

5) Cérebro do professor e do aluno sincronizam-se
O neurocientista Roberto Lent, no livro O Cérebro Aprendiz, trata da plasticidade transpessoal, a sincronia entre um cérebro e outro. Ele e sua equipe acompanharam o cérebro de quatro universitários durante uma aula teórica expositiva. Dividiram os 40 minutos da aula em quatro blocos de 8 a 10 minutos e descobriram que só houve sincronia na atividade cerebral dos quatro estudantes durante o primeiro bloco. Nos demais, os cérebros se ativaram de forma diferente. Uma das hipóteses: depois dos 10 minutos, cada um pensou em algo diferente.

 

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