Para repensar a escola

Como funciona a memória? A neurocientista Cristina dos Santos Cardoso de Sá explica

Em entrevista, professora da Unifesp fala sobre os diferentes tipos de memória

Ilustração: Bárbara Malagoli

A capacidade do cérebro humano de registrar e memorizar informações é essencial para a aprendizagem. Entenda mais sobre o assunto na entrevista abaixo.

Como funciona a memória?
Se a aprendizagem é o processo de aquisição de qualquer informação, a memória é a retenção dessas informações. Ela pode ser sensorial, de curto prazo e de longo prazo. A sensorial é transitória e dura segundos, quando o percebido não parece assim tão útil. A de curto prazo é algo mais perene, como o número da vaga de um estacionamento no shopping, que você normalmente descarta do cérebro quando sai do prédio, juntamente com o ticket. Já a de longa duração pode durar meses, anos ou a vida toda. Um bom exemplo: andar de bicicleta. Você pode ficar 10 anos sem andar que tem armazenada aquela memória motora. Na hora em que for exposta ao estímulo novamente, a habilidade vem à tona. Pode perder em desempenho, mas o programa está lá.

O que seria a memória declarativa?
A declarativa é a memória consciente. Está relacionada a informações e ao que fazer. Eu digo “11 de setembro de 2001” e você logo se lembra do fato e de onde estava nesse dia. A não declarativa é o “como”. Se eu lhe perguntar como se anda de bicicleta, você vai dizer “Não sei, eu subo e pedalo”. Ou então vai sentar no banco e pedalar para me mostrar como se faz. São reações condicionadas, que muitas vezes precisam de bastante repetição. No caso da declarativa, às vezes com uma única repetição a pessoa já aprende. Vai depender do grau de importância que a informação tem.

A alfabetização, então, é declarativa?
Sim, e, dentro da declarativa, é uma memória semântica. Se a criança aprendeu a ler e escrever, vai guardar o aprendido para a vida toda porque isso tem um significado pra ela, sabe que precisa disso para se comunicar. Já quando o significado é fraco, ela acaba esquecendo. Algumas crianças têm dificuldade em matemática porque, tirando as operações de soma e subtração, não sabem a aplicação palpável disso no dia a dia. Se no meu aprendizado de matemática eu tivesse recebido essa noção pragmática, entenderia melhor alguns dados estatísticos, por exemplo.

A memória também tem seus momentos certos?
O cérebro da criança é uma esponja, mas tem limite. Aos 7 anos, ela consegue gravar na memória de curta duração um número de 6 dígitos, por exemplo. Mais que isso, é difícil.

*Cristina dos Santos Cardoso de Sá é doutora em Neurociências e Comportamento pela USP e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)

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