Geografia: como replanejar as aulas do 6º ao 9º ano
Da seleção de conteúdos ao planejamento de uma eventual volta, conheça alguns caminhos para redesenhar 2020
Por conta da pandemia do novo coronavírus, professores têm se organizado para selecionar conteúdos, adaptar aulas para o contexto remoto, redesenhar o ano letivo e manter contato com os estudantes. No caso do ensino de Geografia nos anos finais do Ensino Fundamental, como fazer esse trabalho de replanejamento?
Para apontar alguns caminhos, ouvimos Leandro Fabrício Campelo, professor de Geografia formado pela UFJF e doutor em Didática, Teorias de Ensino e Práticas Escolares pela Faculdade de Educação da USP, e Murilo Vogt Rossi, doutor em Ensino de Geografia e Cartografia pela UFPB, ambos especialistas do Time de Autores de NOVA ESCOLA. Leandro é também o consultor desta caixa e colaborou na criação de todos os conteúdos, incluindo esta reportagem.
Por onde começar o replanejamento em Geografia no 6º, 7º, 8º e 9º ano?
É consenso que alguns conteúdos terão de ser “sacrificados” neste momento. Para Leandro Campelo, o ideal é se amparar na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e escolher conteúdos mais interessantes para o atual contexto. Temas ligados à pandemia são uma ótima pedida.Além disso, é importante refletir sobre a prática. “Não sabemos como será a volta, e o ensino híbrido [metodologia que mescla ensino presencial e a distância] tende a se tornar primordial. Daí a relevância de se pensar não só no conteúdo”, comenta Leandro.Para ampliar o campo de visão, um caminho é se desprender de aulas puramente conteudistas ou do livro didático e buscar outros fundamentos e linguagens para se comunicar com os alunos a distância, aconselha Murilo Rossi. “Estamos em outro ritmo, correndo atrás do prejuízo e, por isso, é crucial repensar as próprias práticas, estabelecer regras com as turmas e, também, com as famílias, dentro do possível”, reforça.
Como o professor de Geografia pode engajar os estudantes e se comunicar com eles nas aulas remotas?
O primeiro passo para gerar engajamento é, antes de tudo, ter disposição para dar aulas mais interativas. A dica do professor Murilo é começar com uma conversa informal, perguntando ao aluno como ele está e o que tem feito no dia a dia. Ao conhecer um pouco sobre a realidade de cada um, é possível pensar em conteúdos que dialoguem com o cotidiano da turma e, com isso, estimulá-los mais. Para ele, o vínculo entre professor e estudante é fundamental para o engajamento, e isso pode acontecer de diversas formas (em redes sociais, fóruns de debate etc.).
Outro ponto indispensável, de acordo com Leandro, é saber como usar ferramentas e plataformas para, em seguida, transpor metodologias ativas para a aula remota. “Não adianta dar somente uma aula expositiva porque os alunos acabam se distraindo”, pondera. Por isso, a recomendação do especialista é pensar em ações propositivas que coloquem o aluno no centro da aula. Uma boa sugestão para aumentar a interação durante as aulas é dar um passeio virtual em museus do mundo todo.
Como avaliar o aprendizado remotamente?
Outro consenso entre os especialistas é de que é hora de o professor se desprender de notas. O intuito agora é que todo o processo seja avaliado a partir de um acordo com os alunos, levando em consideração a realidade de cada turma. Uma sugestão é estabelecer registros e critérios de avaliação, de forma que o estudante seja avaliado por todo o processo e não somente por uma prova.
O que o professor deve fazer quando o aluno não tem acesso à internet?
Quando a conexão digital não existir ou for limitada, o professor pode pensar no ensino híbrido. Para fazer isso, conheça a realidade de cada aluno e tente descobrir quais são suas dificuldades. Assim, será possível pensar em adaptações que abranjam tanto o livro didático e mapas quanto o material impresso que pode ser entregue na escola. Os especialistas também consideram essencial que toda a comunidade escolar participe da busca por alternativas para esse problema de acessibilidade.
Como organizar a volta para a sala de aula?
A volta às aulas deve ser pensada com cuidado, no sentido de repensar todo o espaço. Para Leandro, temos de visualizar as experiências nas nações que estão voltando ao normal agora. “Esses países mostram que temos de repensar o ambiente escolar, uma vez que trabalhar em salas fechadas não será o mais adequado para o momento”, observa. Murilo enfatiza que a gestão precisa reunir-se com toda a comunidade escolar, ainda que virtualmente, para discutir os próximos passos. “É como o planejamento que fazemos no começo do ano: é importante que todos apresentem um diagnóstico de como foi esse período do ensino remoto e, com isso, construir o replanejamento”, completa.
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