Como a colaboração entre disciplinas na pandemia pode ser uma boa estratégia
Projetos interdisciplinares podem ajudar no desenvolvimento de competências sociomocionais e estimular o aprofundamento dos alunos sobre problemas complexos como a própria covid-19
Superar a “fragmentação radicalmente disciplinar do conhecimento”. Esse é um dos principais fundamentos pedagógicos da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Ao afirmar seu compromisso com a Educação integral, que propõe a formação e o desenvolvimento global dos estudantes, o documento convida os professores brasileiros a pensarem em como suas áreas do conhecimento podem se combinar para ajudar o aluno a assumir protagonismo em sua aprendizagem e na construção de seu projeto de vida.
Sendo assim, trabalhar de forma interdisciplinar é uma boa estratégia em qualquer realidade. Mas no contexto da pandemia de covid-19, há aspectos que fazem desse tipo de proposta algo ainda mais estimulante e capaz de engajar gestores, professores e alunos. Com a ajuda de docentes e especialistas, levantamos abaixo algumas das vantagens de adotar projetos que envolvam diferentes disciplinas - ou componentes curriculares, para usar a linguagem adotada pela BNCC - como estratégia de ensino neste momento.
Uma boa hora para desenvolver competências socioemocionais
Em qualquer circunstância, uma das grandes vantagens dos projetos interdisciplinares são as atividades em grupo, em que os professores e os alunos são convidados a interagir e atuar em equipe para resolver problemas e propor soluções. Em um momento de pandemia, esse tipo de abordagem pode trazer de volta um pouco das discussões e trocas que ocorrem no dia a dia da escola, observa Renata Capovilla, sócia da Íntegra Educacional e membro do Time de Autores NOVA ESCOLA . “É fundamental pensarmos nas competências socioemocionais dos alunos. É possível desenvolver habilidades fora da escola com trabalhos individuais, mas os projetos tornam mais palpável para os professores o desenvolvimento dessas competências.”
Ela lembra que trabalhar com pares também é um grande desafio para os professores, que vão precisar ceder, abrir-se para o colega e fazer um esforço grande de empatia para um projeto ser bem-sucedido no contexto remoto.
Resolver problemas e aprender coletivamente, uma exigência atual
Estamos todos diante de um problema bastante complexo em 2020: a pandemia de covid-19. O esforço de médicos, profissionais de saúde. cientistas, especialistas e de toda a população mundial para encontrar saídas para a crise de saúde mostra a importância da cooperação e do trabalho em equipe para superar desafios. São elementos muito importantes para a formação dos alunos, e que ganham nova dimensão com a pandemia.
“Nenhum problema complexo com que o estudante se depara será resolvido com uma disciplina isolada”, comenta Leandro Holanda, gestor de tecnologia e inovação na Tríade Educacional e especialista na área de Química do Time de Autores NOVA ESCOLA. “Para pensar na covid-19, por exemplo, ele terá de usar os conhecimentos de Ciências para entender o vírus e a doença, a Matemática para compreender os gráficos, a História para saber que pandemias a humanidade já enfrentou, a Geografia para entender as crises econômicas etc.”
Uma chance para correlacionar habilidades prioritárias
Renata destaca que uma das vantagens dos projetos no atual contexto é a capacidade de se trabalhar várias habilidades previstas pela BNCC de forma integrada. “Será um ano com perdas, o aluno não vai desenvolver tudo que poderia desenvolver. Agrupar habilidades prioritárias em um mesmo projeto pode ser uma boa saída para o momento.”
Há alguns professores que podem ter resistência aos projetos por acreditarem que as habilidades de seu componente curricular previstas na BNCC não serão trabalhadas de forma exclusiva, mas complementar. Por esse motivo, Leandro ressalta que se deve mapear bem o que será desenvolvido,para que os projetos não sejam “sobremesa, mas o prato principal” da Educação.
Do projeto interdisciplinar ao projeto de vida
Uma das competências gerais previstas na BNCC incentiva conhecimentos e experiências que possibilitem aos alunos entenderem as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas relacionadas à cidadania e a seu projeto de vida. Em um momento em que muitos alunos não têm acesso às aulas remotas, problemas como a defasagem e a evasão escolar, já comuns no Ensino Fundamental 2, podem piorar ainda mais.
A professora com licenciatura em História Genice Friso da Silva têm feito um trabalho interdisciplinar interessante com seus alunos nas escolas estaduais Irmão Getúlio e Nossa Senhora da Oliveira, em Vacaria (RS). Além de enviar vídeos motivacionais para os alunos neste momento difícil, ela vai desenvolver de forma remota o projeto “encontro de gerações”, em que os jovens entrevistarão seus avós para perceber mudanças no tempo e no espaço, com apoio da História e da Geografia, e pensarem sobre a trajetória profissional de seus parentes e o que desejam para seu futuro. “Eu procuro sempre trabalhar com projetos que estimulem os alunos a buscarem uma razão e um objetivo em suas vidas”, orgulha-se a docente.
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