Para repensar a prática

O que fazer (e o que não fazer) na hora de elaborar um projeto interdisciplinar

Alinhamento com a gestão escolar, foco no planejamento e outras dicas de especialistas para acertar na hora de propor atividades interdisciplinares

Saiba como colocar em prática suas ideias de projetos interdisciplinares. Ilustração: Nathalia Takeyama/Nova Escola

Na primeira reportagem desta caixa, ressaltamos algumas das vantagens de se trabalhar de forma interdisciplinar no contexto remoto. Mas desenvolver um projeto colaborativo com outros professores é sempre um enorme desafio. Além de uma boa comunicação com a gestão escolar e de um planejamento criterioso, é preciso encontrar formas de manter os alunos engajados e avaliá-los de forma consistente durante o percurso. 

Pensando em como ajudá-lo a colocar no papel (ou na tela do computador) suas ideias de projetos interdisciplinares, NOVA ESCOLA conversou com especialistas que destacam o que é importante considerar na hora de propor um trabalho em equipe com outros professores. 

1. Esteja alinhado com a gestão escolar

Para que um projeto seja bem-sucedido, ele deve ser previamente combinado com os gestores de sua escola. Para Leandro Holanda, gestor de tecnologia e inovação na Tríade Educacional, é importante que haja espaço nos encontros formativos para os educadores pensarem juntos que projetos valem a pena ou não apostar: “Geralmente, os gestores têm muito desejo de que os professores colaborem dessa forma, mas nem sempre acham o momento certo na formação para levar à frente essa iniciativa.”

A formadora de professores Renata Capovilla recomenda aos docentes organizarem um mapa mental com aquilo que se almeja desenvolver, para tornar a proposta mais palpável para a direção da escola. “Quando se mapeia as habilidades com as quais os professores envolvidos irão trabalhar e se estabelece um cronograma, é difícil que o diretor da escola não se engaje na causa.”

2. Diferencie uma abordagem interdisciplinar de multidisciplinar 

O professor interessado em realizar um projeto desse tipo deve entender a diferença entre uma proposta multidisciplinar e interdisciplinar. No livro Steam em sala de aula - a aprendizagem baseada em projetos integrando conhecimentos na educação básica, Leandro e a especialista Lilian Bacich explicam que um abordagem multidisciplinar se dá quando os estudantes aprendem conceitos e habilidades separados em cada componente curricular, mas com um tema em comum. Um exemplo: os biomas brasileiros são temas comuns às Ciências e à Geografia, mas não necessariamente são trabalhados em um mesmo projeto. 

Já uma abordagem interdisciplinar é aquela na qual os estudantes aprendem conceitos e habilidades interligados de duas ou mais disciplinas e desenvolvem um aprendizado profundo. Em uma das sugestões de projetos desta caixa (veja aqui), a professora de Ciências Cristina Craveiro percebeu como o tema dos biomas também era comum à Geografia e convidou colegas do outro componente curricular para organizar um projeto com os alunos. 

3. Valorize o planejamento com os pares e com os alunos

Em um projeto interdisciplinar, é importante garantir que todos estejam a bordo para encarar o desafio. Um planejamento colaborativo com os professores é uma etapa importante para se levantar as habilidades da BNCC que se pretende trabalhar, além de organizar o cronograma de entregas e possíveis rubricas de avaliação. “É preciso procurar colegas que tenham essa abertura para trocar com outros componentes”, recomenda Renata. Segundo a formadora de docentes, muitos professores resistem a trabalhar com projetos por não terem conhecimento de como a iniciativa pode render frutos positivos para todos. “Se você tem o pensamento criativo voltado para um projeto, com certeza você vai ligar essa chavinha em outros colegas. O professor tem uma criatividade inata, basta mostrar a ele que é possível.”

A professora Cristina reforça ainda a importância de garantir que os alunos estejam engajados desde o início: “Às vezes, temos ideias mirabolantes, mas os estudantes podem não gostar delas. No projeto que desenvolvemos, debatemos a proposta com eles e todo mundo gostou. Eles não foram pegos de surpresa”. 

4. Acompanhe as entregas dos alunos e auxilie-os no processo 

Leandro considera que um projeto bem-sucedido envolve alcançar de uma maneira saudável o objetivo pretendido, em um movimento no qual as áreas de conhecimento consigam ajudar os alunos a chegarem ao produto final.  “É importante que os estudantes tenham acompanhamento durante todo o processo e que o projeto não tome todo seu tempo de estudo”, observa. “Quando a iniciativa dá certo, é possível ver a mão do aluno ao final do processo. Não faz sentido se o professor tiver que assumir a produção do projeto.”

Cristina explica que, em seu trabalho interdisciplinar com os alunos do Colégio Parthenon, em Guarulhos (SP), estabeleceu um prazo de pouco mais de 30 dias. Na primeira fase, ela deu 20 dias para a entrega de um texto, mas estimulou que os alunos o enviassem antes da data para ter tempo de contribuir e trocar com os estudantes antes da versão final. “Nesses 20 dias, esse texto podia ir e voltar quantas vezes fosse necessário” (para lembrar: você encontra os detalhes do trabalho de Cristina nesta caixa). 

5. Não deixe a forma de avaliação dos alunos para o final

A avaliação de um projeto pode ser considerada na nota bimestral de um aluno, por exemplo. Mas, mais do que atribuir um valor numérico às entregas, é interessante acompanhar o desenvolvimento dos estudantes  no processo. Renata sugere trabalhar com rubricas definidas em conjunto com os professores e alunos, para que todos saibam como suas tarefas e habilidades desenvolvidas serão avaliadas: “A avaliação não precisa ser feita apenas ao final do projeto, mas durante todo o processo.” 

O professor pode também pedir que os alunos preencham um formulário (é possível usar o Google Forms) com os três principais aprendizados de uma aula ou atividade e sugerir ainda uma autoavaliação aos estudantes. “Se o aluno tiver quatro ou cinco entregas ao longo de dois meses, é interessante que os grupos de estudantes façam essa autovaliação”, recomenda Leandro. Ele ressalta ainda que as rubricas de avaliação podem ser modificadas durante o processo, caos não atendam às necessidades de professores e alunos. 

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