Para repensar a escola

10 situações de indisciplina desafiadoras - e como lidar com elas

Telma Vinha indica saídas possíveis para cenários conflituosos dentro da escola

Quando está diante de uma situação de descumprimento de regras definidas para aquele ambiente escolar, o educador precisa analisar o cenário e buscar uma saída efetiva para o problema. Conflitos podem expor condutas perturbadoras ou condutas violentas, alerta Telma Vinha, professora de Psicologia Educacional da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pesquisadora do Gepem, o Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral.

O primeiro grupo inclui atitudes como a indisciplina, que rompem com acordos preestabelecidos, mas que não são tão graves quanto os do segundo grupo, que envolvem agressões físicas e emocionais bastante impactantes para alunos e educadores. Com isso em mente, NOVA ESCOLA contou com o apoio da especialista para propor respostas para dez situações. Confira.

O que fazer diante de condutas perturbadoras

 1. Conflitos entre alunos: como apoiar uma saída amigável
Conflitos são oportunidades para aprender, já que sempre transmitem, indiretamente, alguma mensagem sobre uma situação que precisa de atenção, como bullying e preconceito, entre outras. Nesses casos, o professor pode atuar como mediador. O foco precisa ser o diálogo e a cooperação - isso mesmo para os casos de professores especialistas, que ficam pouco com cada turma. Nessa interação, busque estimular que os alunos falem um com o outro, que exponham seus pontos de vista e esclareçam seus interesses, que enfrentem o problema, deixando o passado de lado e olhando para o futuro, e que criem juntos uma saída consensua.

2. Alunos que provocam e testam o professor
Dentro da situação, não reaja abertamente à provocação. É mais indicado demonstrar confiança e indiferença à ofensa ("E daí? Quem liga pra isso? Eu não"), por exemplo. Mas se esse cenário se tornar frequente, você pode buscar nos alunos com esse tipo de postura a origem dessas atitudes: eles possuem algum tipo de comportamento que repele os demais colegas de sala ou faltam a eles algumas habilidades sociais, talvez? Em sala, o tema pode ser colocado em discussão a partir debates de situações comuns da provocação (“O que você faria se visse…”), mas sem que os alunos provocadores sejam mencionados ou colocados no centro da discussão.

3. Conversas paralelas durante a aula, mesmo depois de serem repreendidos
Quando as conversas acontecem isoladamente, o professor pode agir de algumas formas: interromper a fala e silenciar para gerar atenção, usar o bom humor para retomar a audiência (exemplo: começar a falar com a porta), ou também aproximar-se do grupo falante e continuar a explicação. Se as conversas paralelas acontecerem de forma recorrentes, o professor deve avaliar se a aula não poderia ganhar mais momentos de participação dos alunos e estimular mais essa interação. Também é válido abrir o tema para uma discussão com os alunos para buscar as causas do desinteresse específico por aquela aula ou disciplina, e, de quebra, já iniciar o processo de definição de combinados com eles. 

4. Respostas irônicas de alunos
Quando usa de ironia para se relacionar, o zombador pode ter sempre a desculpa de que não queria chatear o atingido ou acusá-lo de não ter senso de humor. “Caso o problema seja coletivo, discuta-o com todos para que reflitam sobre como se sentem quando são o alvo. Se for algo individual, esclareça que os pontos de vista do aluno são importantes, mas estão sendo colocados de modo inadequado. Convide-o a se expressar de outra maneira”, avalia Telma Vinha.

5. Conversas no celular durante a aula
Importante alertar logo no início da aula sobre o uso do celular na sala. Será usado em alguma atividade? Então o uso está liberado naquela situação. Não poderá ser manuseado em nenhum momento? Avise a turma sobre essa regra então. Se o aluno acionou o celular, mesmo depois do aviso, peça que o guarde ou até sugira ficar com o aparelho até o fim da aula. Lembrando que normas como estas devem constar nos combinados feitos com a turma.

E quando se trata de condutas violentas?

1. Depredação da escola
Importante entender e classificar os níveis de depredação, que podem ir de uma parede rabiscada a uma cadeira arremessada no meio do pátio. Em qualquer um dos casos, é importante realizar atividades para sensibilizar alunos sobre a importância do bem coletivo. Quem realizou o dano deve providenciar o reparo ou pelo menos ser envolvido na busca pela solução. Se o aluno que danificou não foi identificado para reparar o dano, o grupo pode definir em conjunto uma estratégia para realizar o reparo coletivamente. Assim, uma atitude de agressão pode se tornar também uma atividade escolar sobre civilidade e cuidado com o espaço público.

2. Agressões verbais ao professor
Em um conflito com o professor, com xingamentos e desentendimento, os processos de mediação são os mais indicados para a busca de uma saída pacífica. Existem muitas metodologias possíveis: a negociação entre as partes (quando o professor chama o aluno para uma conversa particular e busca repassar objetivamente os motivos do conflito, esclarecer seus pontos, assim como ouví-lo sobre os mesmos tópicos, para que, juntos, busquem uma resolução); a mediação feita por um facilitador (diretor, por exemplo, que atua de forma neutra - apenas apoia, mas não propõe a resolução); a conciliação promovida por esse facilitador (que sugere soluções para o conflito); ou uma arbitragem onde uma terceira pessoa (diretor) que determina o que será feito para resolver aquela situação de forma arbitrária.

3. Agressões na hora do recreio
Agressões nessa situação podem ser resultados de espaços reduzidos, falta de opções de lazer (jogos, quadras), música alta e até calor excessivo. Assim como a sala de aula, o local do recreio pode ser encarado como um espaço de atuação pedagógica, com aplicação de atividades lúdicas e, também, de reflexões e debates – inclusive sobre indisciplina, bullying e violências em geral.

4. Violência que chega às redes sociais
Mesmo sendo nativos digitais, ou seja, pertencerem à geração que nasceu após a criação da internet, os alunos não têm sabedoria digital. Alguns conceitos ainda estão sendo formados, as diferenças entre público e privado, bem como a compreensão das possíveis consequências atreladas às ações feitas no mundo virtual. Antes de culminarem em situações de agressão virtual, a escola pode desenvolver trabalho preventivo de alerta sobre as implicações das atitudes virtuais no cotidiano do aluno, do professor e da escola.

5. Bullying
O tema é tão sério que precisa entrar na pauta de todos os educadores da escola. Um protocolo de detecção e atuação para o bullying e é o primeiro passo. Nele, devem constar como identificar situações, detalhamento do conjunto de ações possíveis, atuação de cada parte envolvida (papel do professor, do coordenador, do diretor), formas de atuação (confidencialidade), ações de contenção contra o agressor, além de planejamento de campanhas e conscientização.

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