Sugestão de atividade 1

Com sala de aula invertida, coloque a turma para fazer uma atividade de pesquisa

Proposta da professora Jordana mostra que não basta dar um tema: é preciso desenvolver uma série de habilidades previstas na BNCC

Na sala de aula invertida, a proposta é de que a pesquisa seja feita em casa e os resultados, apresentados na sala. Ilustração: Estúdio Kiwi/NOVA ESCOLA

Alguma vez você já encomendou uma pesquisa para a turma? É bem provável que a sua resposta seja sim. Essa é uma atividade trivial - afinal, basta dar um tema e... mandar que os alunos pesquisem, certo? Bem, não é tão simples assim.

Fazer uma pesquisa é aprendizado para além do tema dela: envolve criar boas perguntas, distinguir fontes confiáveis e não confiáveis, fazer anotações eficientes e dominar a leitura de diversos tipos de linguagem, do audiovisual ao hipertexto. 

A pesquisa escolar é, na verdade, uma prática fundamental de letramento, como defende um dos verbetes do Glossário Ceale, do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Isso é tão importante que a Base Nacional Comum Curricular prevê o desenvolvimento de uma série de habilidades relacionadas a isso (mais adiante, listamos aquelas que serão o foco deste conteúdo).

Por isso, Jordana Thadei, professora do Instituto Singularidades, formadora do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec) e Assessora de Língua Portuguesa do Instituto Acaia Pantanal, optou por criar duas sugestões de atividade inéditas para NOVA ESCOLA sobre pesquisa. Na primeira, que você conhece a seguir, ela optou por utilizar estratégias de sala de aula invertida, dividindo a atividade entre etapas na escola e em casa.

Nem todas escolas retornaram ao ensino presencial por conta da pandemia e que, quando retornarem, será necessário um cuidado com distanciamento social. Nesses casos, a sugestão é adaptar o passo a passo aos diversos cenários. E se a instituição ainda não reabriu, é possível realizar os momentos presenciais por videoconferência.

A atividade e os materiais foram construídos com o apoio do consultor Fernando Trevisani, professor, consultor educacional em metodologias ativas e coorganizador (com Lilian Bacich e Adolfo Tanzi Neto), do livro Ensino Híbrido: Personalização e tecnologia na educação (Penso, 272 págs., R$ 49).

ATIVIDADE 1: PROCEDIMENTOS DE PESQUISA EM UMA SALA DE AULA INVERTIDA

Desenvolvendo estratégias de leitura, coleta e organização de dados sobre um tema de interesse da turma


Indicado para: Turmas do 8º ou 9º ano, podendo ser adaptadas para os anos anteriores.

Materiais necessários: 

- Textos e/ou sites selecionados pelo professor, como fonte de consulta, de acordo com o tema de pesquisa definido coletivamente.

- Dispositivos tecnológicos conectados à internet, para o momento extra-aula.

- Material para tomada de notas impressas ou on-line (bloco de notas, papel, lápis ou caneta etc.).

Espaço e tempo estimado: A atividade vai durar quatro aulas, podendo ser feita em até seis, se necessário sem contar o tempo de pesquisa extra-aula. Ao longo do passo a passo, você acompanhará quanto tempo cada um levará e em qual ambiente será feito (em casa ou na escola).

Na BNCC: 

LP89LP24 - Realizar pesquisa, estabelecendo o recorte das questões usando fontes abertas e confiáveis.

EF69LP29 - Refletir sobre a relação entre os contextos de produção dos gêneros de divulgação científica – texto didático, artigo de divulgação científica, reportagem de divulgação científica, verbete de enciclopédia (impressa e digital), esquema, infográfico (estático e animado), relatório, relato multimidiático de campo, podcast e vídeos variados de divulgação científica etc. – e os aspectos relativos à construção composicional e às marcas linguísticas características desses gêneros, de forma a ampliar suas possibilidades de compreensão (e produção) de textos pertencentes a esses gêneros.

EF69LP30 - Com a ajuda do professor, comparar conteúdos, dados e informações de diferentes fontes, levando em conta seus contextos de produção e referências, identificando coincidências, complementaridades e contradições, de forma a poder identificar erros/imprecisões conceituais, compreender e posicionar-se criticamente sobre os conteúdos e informações em questão.

EF69LP32 - Selecionar informações e dados relevantes de fontes diversas (impressas, digitais, orais etc.)  avaliando a qualidade e a utilidade dessas fontes  e organizar, esquematicamente, com a ajuda do professor, as informações necessárias (sem excedê-las) com ou sem apoio de ferramentas digitais, em quadros, tabelas ou gráficos.

EF69LP34 - Grifar as partes essenciais do texto, tendo em vista os objetivos de leitura, produzir marginálias (ou tomar notas em outro suporte), sínteses organizadas em itens, quadro sinóptico, quadro comparativo, esquema, resumo ou resenha do texto lido (com ou sem comentário/análise), mapa conceitual, dependendo do que for mais adequado, como forma de possibilitar uma maior compreensão do texto, a sistematização de conteúdos e informações e um posicionamento frente aos textos, se esse for o caso.

EF69LP35 - Planejar textos de divulgação científica, a partir da elaboração de esquema que considere as pesquisas feitas anteriormente, de notas e sínteses de leituras ou de registros de experimentos ou de estudo de campo, produzir, revisar e editar textos voltados para a divulgação do conhecimento e de dados e resultados de pesquisas, tais como artigo de divulgação científica, artigo de opinião, reportagem científica, verbete de enciclopédia, verbete de enciclopédia digital colaborativa, infográfico, relatório, relato de experimento científico, relato (multimidiático) de campo, tendo em vista seus contextos de produção, que podem envolver a disponibilização de informações e conhecimentos em circulação em um formato mais acessível para um público específico ou a divulgação de conhecimentos advindos de pesquisas bibliográficas, experimentos científicos e estudos de campo realizados.

EF69LP36 - Produzir, revisar e editar textos voltados para a divulgação do conhecimento e de dados e resultados de pesquisas, tais como artigos de divulgação científica, verbete de enciclopédia, infográfico, infográfico animado, podcast ou vlog científico, relato de experimento, relatório e relatório multimidiático de campo, dentre outros, considerando o contexto de produção e as regularidades dos gêneros em termos de suas construções composicionais e estilos.


PASSO A PASSO

PARTE 1

Espaço: Sala de aula

Tempo estimado: 1 aula

1. Mapeie os interesses coletivamente: Comece levantando, em uma conversa inicial, os interesses dos estudantes, fazendo perguntas que instiguem a curiosidade deles. Podem ser fatos noticiados, vivências durante o isolamento social, suas curiosidades científicas etc. Esteja atento a temas que possam suscitar a pesquisa escolar. Espera-se que a turma chegue a perguntas como estas: vacinar ou não vacinar? Que pandemias o mundo enfrentou e quais os desdobramentos? Quais as consequências das queimadas para os biomas e a população? Qual o objetivo da missão da Nasa com o envio da sonda Osiris-Rex ao asteroide Bennu? O que são e quais as consequências das fake news?

PONTO DE ATENÇÃO: É interessante averiguar se há trabalhos de pesquisa ocorrendo em outros componentes curriculares. Pode haver uma oportunidade de aproveitar o mesmo tema e estabelecer uma parceria com outros professores. Outro caminho é verificar se o material didático aborda algo que desperte uma curiosidade específica. Temas polêmicos e que dividem opinião também merecem aprofundamento, a fim de se fortalecer ou refutar argumentos das diferentes posições, contextualizando a proposta de pesquisa.

2. Dê um norte para a pesquisa: Feito o mapeamento, proponha que a turma escolha uma das questões como o tema da sala. Isso pode ser feito por meio de uma votação, por exemplo. Em seguida, inicie o processo de construção coletiva das perguntas, avaliando a clareza, a pertinência ao tema e à pesquisa bibliográfica. Há várias possibilidades para se fazer isso: em grupos menores, registrando as sugestões no papel e compartilhando com todos; em uma roda de conversa, tendo o professor como escriba na lousa etc.

É importante que as perguntas não tenham resposta pronta nas fontes de consulta. Tradicionalmente, a pesquisa bibliográfica é exigida na escola sem que se ensine como pesquisar. Ainda são comuns propostas como "pesquise sobre o tema 'X'", sem mais orientações. A ideia é tratar a pesquisa não como mera busca de informações sobre um tema, em uma única fonte, mas como a construção de respostas a perguntas que representam as demandas de um grupo, em dado momento. Isso requer o cruzamento de informações oriundas de várias fontes, em vários gêneros textuais e em várias linguagens.

3. Indique as fontes de consulta: Apresente aos estudantes uma lista de fontes fidedignas de consulta e destaque os pontos que garantem sua credibilidade, de forma a ensiná-los a também selecionar outras fontes. Quanto à sua lista de sugestões, garanta que ela respeite as limitações de acesso à internet dos estudantes e sejam variadas em gêneros e linguagens diversas (textos verbais, vídeos, animações, podcasts).

Essa variedade é importante porque exercita nos alunos outros tipos de habilidades de leitura. Diferentemente das antigas enciclopédias físicas, na web as informações estão disponibilizadas em vídeos, áudios, gifs etc. sem falar dos hipertextos, aqueles com uma série de referências em forma de links abrem ao pesquisador mil caminhos diferentes. Saber navegar e ler os hipertextos impressos e digitais são conhecimentos fundamentais à pesquisa.


E se o assunto for a pandemia?

Temas científicos estão em alta por causa do novo coronavírus, e é provável que a turma escolha algo nesse campo ou até relacionado a outras importantes notícias científicas, como as novidades sobre a sonda Osíris-Rex, da Nasa. Se este for o seu caso, a lista de fontes abaixo pode ser copiada e enviada para os seus alunos.

Ciência Explica - Labi UFSCAR 

Podcast Quarentena

Deviante – Scicast

Rádio UFOP

Revista Ciência Hoje

Revisteen CBN Joca

Blog Ciência Nerd

Instituto Butantan


PONTO DE ATENÇÃO: Se preferir e dispuser de condições tecnológicas, proponha que os próprios estudantes naveguem pelas indicações e busquem os textos que serão consultados para a pesquisa.

PARTE 2

Espaço: Em casa

Tempo estimado: 1 semana

4. Realizando a busca de informações: Inspirando-se no modelo de sala de aula invertida, proponha aos estudantes que, após a aula e individualmente, levantem informações que possam contribuir para responder às perguntas da pesquisa. Oriente-os quanto aos procedimentos de pesquisa: identificar as informações relevantes para responder às perguntas, grifando-as, circulando-as, tomando notas; trabalhar com mais de uma fonte de pesquisa; e organizar as informações em quadro-síntese ou comparativo, esquema, resumo etc., de forma a sistematizar o conteúdo pesquisado. 

O levantamento de informações ainda não é a pesquisa, propriamente, mas uma etapa dela. Saber selecionar a informação que colabora para a construção da resposta às questões de pesquisa é parte do processo de aprendizado. Também fazem parte desse aprendizado os procedimentos de registro das informações. Para cada gênero, para cada linguagem em que as informações estão disponíveis, há procedimentos específicos: grifar, iluminar, pausar e voltar o vídeo ou áudio, tomando nota ou realizando esquemas, são procedimentos que precisam ser ensinados.

Lembre-se de que, na sala de aula invertida, o trabalho antes da aula pode ter três objetivos diferentes: coletar informações sobre conteúdos que os alunos já aprenderam, como se fosse uma avaliação diagnóstica específica sobre um determinado conceito; ensinar um conceito que os alunos ainda não conhecem para que realizem atividades práticas em sala de aula; ou pesquisar informações sobre algum assunto ou conteúdo que não aprenderam, para alguma atividade presencial no caso desta proposta, o objetivo é este último.

PARTE 3

Espaço: Sala de aula

Tempo estimado: 2 aulas

5. Socializando os resultados da busca: Esse é o momento de compartilhar coletivamente as informações coletadas antes da aula presencial. Ajude os estudantes a compará-las, observando as que se repetem, que se complementam, ou que se contradizem, identificando possíveis inconsistências conceituais - o que pode demandar nova busca. Façam um registro coletivo das informações selecionadas. Nesse momento, é só o registro das informações que contribuem para a elaboração do texto final na pesquisa, no próximo passo.

6. Registrando os dados pesquisados: Divida a turma em duplas e proponha a organização das informações em um texto de divulgação científica (texto expositivo, verbete enciclopédico, mapa conceitual ou outro do mesmo campo que você tenha trabalhado). Acompanhe as duplas no planejamento e desenvolvimento do texto e oriente-as a revisá-lo, apresentando os critérios relativos ao gênero escolhido e aos aspectos gramaticais. 

Como sugestão para sistematizar as suas impressões, utilize a tabela disponível no botão abaixo. Ela dá orientações para classificar as duplas em duas colunas, segundo os pontos de atenção que você precisa ter em mente na próxima atividade:

BAIXE A TABELA DE AVALIAÇÃO

Professora-autora:

Jordana Thadei, professora do Instituto Singularidades, formadora do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec) e Assessora de Língua Portuguesa do Instituto Acaia Pantanal.

- E-mail: jordanathadei@gmail.com

Consultor:

Fernando Trevisani, professor, consultor educacional em metodologias ativas, coorganizador do livro Ensino Híbrido: Personalização e tecnologia na educação (Penso, 2015).

- Instagram: @fernandomtrevisani

- E-mail: fernando-mt@hotmail.com

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