Metodologias ativas

Virtual aprimorado: o modelo de ensino híbrido que potencializa o on-line, com apoio do presencial

Considerado disruptivo, este modelo de ensino híbrido fornece insights interessantes para escolas pensarem sobre o retorno às aulas nas escolas

O virtual aprimorado aproxima-se bastante da sala de aula invertida, com uma diferença: a carga horária em casa maior do que a presencial, em comparação com a modalidade invertida. Ilustração: Estúdio Kiwi/NOVA ESCOLA

Mesmo com todas as dificuldades do ensino remoto, uma necessidade emergencial criada pela pandemia de coronavírus, o saldo desse período difícil são lições que podem contribuir positivamente para o futuro. É preciso reconhecer que existem alunos e professores que, de alguma forma, se beneficiaram do processo. Aqueles que moram longe das escolas, por exemplo, ou os que precisam de mais solitude para se concentrar. Ensino e aprendizagem podem ganhar potência, tanto na aula on-line quanto na escola, presencialmente.

Mas, segundo o consultor de NOVA ESCOLA Fernando Trevisani, um dos organizadores, com Lilian Bacich e Adolfo Tanzi Neto, do livro Ensino Híbrido: Personalização e tecnologia na educação (Penso, 272 págs., R$ 49), essa potência só é alcançada quando as escolas entendem o que é próprio do ensino remoto e o que é do presencial. Extrair o melhor do que a casa e a escola podem oferecer é o objetivo desse modelo de ensino híbrido chamado virtual aprimorado.

Nele, a maior parte da carga horária é cumprida remotamente. Por exemplo, aluno vai à escola uma ou duas vezes por semana para participar de debates, discussões, construir projetos coletivamente. É diferente da sala de aula invertida, em que os alunos vão à escola todos os dias e realizam apenas parte do estudo da teoria em casa. “Ou seja, no virtual aprimorado as atividades específicas [feitas em sala] são resultado de tudo o que já foi trabalhado no on-line. É pensar no potencial do virtual, do que pode ser feito com o uso de tecnologias digitais, coletando dados sobre a aprendizagem dos alunos e utilizá-los para promover experiências significativas nos poucos momentos presenciais”, explica Fernando. 

Disruptivo como uma pandemia 

Esse modelo é considerado por pesquisadores de ensino híbrido como disruptivo porque rompe com as principais características das escolas como conhecemos. Aliás, a pandemia em si impõe práticas disruptivas de Educação, mas, por serem tão inéditas, são ainda pouco estudadas pela teoria. No entanto, o virtual aprimorado não é uma invenção de 2020. Ele já era um modelo teorizado no Brasil desde 2015, quando o livro de Fernando, Lilian e Adolfo foi lançado.

Além da dualidade de aulas remotas e presenciais - sendo as em sala de aula em menor número, a personalização do ensino, estratégia corrente em qualquer modelo de EH, deve estar lá.  Para isso, os professores precisam lançar mão do uso de tecnologias digitais com o objetivo de coletar dados dos alunos. Esses dados podem ser possíveis defasagens na aprendizagem, estratégias de estudo que funcionam melhor ou pior para cada um, dúvidas que possibilitam ajustes nas etapas das sequências didáticas. Tudo aquilo que ajuda a qualificar a aprendizagem individual e o momento em que todos estarão juntos fisicamente é um dado útil, que deve ser considerado no planejamento.

“Outro ponto importante é a presença de todos os alunos da turma juntos neste momento presencial. Hoje, as escolas estão adotando rodízios. No virtual aprimorado, a integração da turma toda é essencial”, afirma o especialista. Isso significa que, provavelmente, o modelo perderá uma característica importante enquanto vigorarem algumas restrições. A presença da turma toda se faz importante para que os alunos consigam socializar as aprendizagens construídas virtualmente e o professor consiga ter mais opções no momento de planejar as experiências de aprendizagem que ocorrerão fisicamente. Se a atividade envolver um debate, por exemplo, quanto mais diversidade de informações e opiniões, melhor.

Falar em modelos de ensino híbrido no Brasil não é simples. O país tem realidades muito diversas, e as possibilidades de ensino não são as mesmas entre escolas, municípios e estados. Por isso, o também especialista no tema, mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo e professor de Metodologias Ativas na pós-graduação do Instituto Singularidades, Leandro Holanda, afirma que é possível elaborar práticas de ensino híbrido fora desses modelos, “desde que a escola esteja atenta para a integração dos dois mundos - remoto e presencial - e que preveja a personalização do ensino”.

“Com a pandemia, nossa realidade atual é tão disruptiva que um modelo próximo ao do virtual aprimorado virou uma opção muito boa para promover a Educação de qualidade, que deseja ter o aluno como protagonista desse processo”, defende Leandro.

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