Verdade ou mito? Saiba mais sobre as vacinas contra a covid-19
Contra o senso comum, informações equivocadas e má-fé, o melhor é buscar orientações confiáveis e de especialistas. Reunimos algumas delas para você apresentar aos alunos
Mais do que nunca, buscar informações de qualidade, cultivar o senso crítico e valorizar os conhecimentos científicos sobre a covid-19 e suas vacinas é responsabilidade de todos. No entanto, sabemos que isto não é uma tarefa fácil – nem para os adultos nem para os estudantes.
Para colaborar, reunimos afirmações sobre as vacinas que podem assumir diferentes formas nas redes sociais. Algumas são mitos, outras são verdadeiras e, como o assunto é complexo, não são nem uma coisa nem outra. Além de colaborar para barrar a desinformação sobre a pandemia, levantar dúvidas e buscar argumentos científicos diante de situações são habilidades importantes. Confira:
“As vacinas disponíveis para a covid-19 não são seguras porque foram desenvolvidas muito rápido.”
Variações: “A vacina da China/Rússia/Índia/EUA não funciona”, “A vacina é muito lucrativa, então foi desenvolvida sem ética”.
MITO. As vacinas atualmente desenvolvidas e aplicadas contra a covid-19 seguem regras rígidas de metodologia científica e protocolos de segurança sanitária já utilizados com outros imunizantes. É correta a informação de que as vacinas aprovadas pela Anvisa e outros órgãos reguladores foram desenvolvidas em tempo recorde, mas isso é também graças ao trabalho dos cientistas e pesquisadores envolvidos. “As tecnologias usadas nas vacinas não são novas: elas têm tempo de uso, teste e desenvolvimento”, resume José Cássio de Moraes, da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Saúde de São Paulo e pesquisador do Observatório da Covid-19.
Ou seja, a tecnologia usada na vacina da Pfizer/Biontech, por exemplo, estava sendo desenvolvida há anos; institutos como o Butantan e a Fiocruz são reconhecidos e fazem trabalho qualificado.
Além disso, há também investimento feito por governos na compra e pelas empresas no desenvolvimento do produto e, por fim, a urgência pela vacinação por causa da dimensão da pandemia. “Investiram-se pesadamente na produção das vacinas bilhões e bilhões de dólares”, explica José Cássio, que tranquiliza: “Qualquer produto biológico [medicamentos ou vacina] têm o risco, mas é preciso pesar: qual o risco e qual o benefício? No caso da vacina o risco é pequeno, e o benefício é enorme, que é evitar casos graves da doença.”
“Assim que me vacinar poderei sair sem máscara”
Variações: “Minha avó se vacinou ontem, então não precisa mais usar máscara e tudo bem já encontrar toda a família sem os protocolos”.
MITO. As vacinas disponíveis atualmente são aplicadas em duas doses, cujo tempo de intervalo indicado é de 14 a 21 dias após a primeira imunização. Depois disso, ainda leva tempo para o efeito de a vacina ser eficaz no combate à exposição à doença. Ou seja, a imunidade do vacinado não começa imediatamente. Paciência é fundamental.
Além disso, de forma geral, as vacinas que estão disponíveis em todo o mundo não são para evitar a transmissão, mas para coibir casos graves, explica José Cássio. A mesma coisa já acontece com outros imunizantes, como a vacina da gripe. “Ela não protege contra a contaminação, mas evita que as pessoas desenvolvam formas graves de gripe. Esse é o objetivo principal”, comenta.
Outro dado a ser considerado é que não se sabe ainda se a vacina protege também contra a transmissão da doença (isto é, se o vacinado ainda pode transmitir o vírus mesmo que não fique gravemente doente ou manifesta sintomas. Então, neste momento, é importante pensar de forma coletiva e esperar até que todos (ou muitos) estejam vacinados e a situação da pandemia no Brasil e no mundo melhore.
Mas qual será a repercussão da vacina na transmissão? Segundo José Cássio, quando a cobertura vacinal estiver elevada, tudo indica que haverá menor transmissão da doença. “As pessoas terão sintomas mais leves, menos duradouros. Mas isso vai demorar um pouco por conta do número insuficiente de doses para imunizar todo o planeta. Por isso, a recomendação é continuar usando máscara e praticando distancimento até que se atinja um bom número de vacinação.”
“Devo tomar mais de uma vacina.”
Variações: “Se puder vou passar na fila da vacina duas vezes”. “É muito melhor tomar a Coronavac e depois a de Oxford para completar.”
MELHOR ESPERAR. Ainda não se sabe o real efeito de se tomar mais de um tipo de vacina – se isso ajuda o sistema imunológico a combater melhor o vírus e se protege contra uma variante nova (ambas as hipóteses são improváveis). Isso porque a covid-19 é uma doença muito recente e as conclusões médicas e científicas são acumulativas e levam tempo para se consolidar.
Outro ponto importante é que as vacinas utilizam diferentes plataformas (tecnologias) para imunizar o organismo. “Como são plataformas distintas, não se fez estudo sobre usar a primeira dose de uma vacina e a segunda dose de outra. Por isso, recomenda-se tomar a primeira e a segunda dose da mesma vacina”, explica José Cássio. Em caso de dúvida, a informação de qual vacina você tomou estará na carteirinha de vacinação. No caso brasileiro, por enquanto, será ou a CoronaVac ou vacina de Oxford/AstraZeneca. O mais indicado mesmo é ficar de olho em informações confiáveis e acompanhar os próximos passos.
“A vacina pode ser aplicada por um profissional da saúde sem luvas.”
Variações: “Nessa foto a enfermeira está sem luvas, então está desrespeitando os protocolos.” “Cadê a luva?” “De máscara, mas sem luva, que mal exemplo.”
VERDADE. Uma vez respeitados os protocolos sanitários básicos, como a higienização das mãos com álcool gel ou sabão e água e o uso de máscara por todos os envolvidos, o profissional da saúde não precisa necessariamente usar luvas. A recomendação é parecida com a dos órgãos de saúde sobre o uso de luvas para fazer compras, por exemplo: não é necessário, desde que as mãos sejam lavadas e a máscara, utilizada corretamente.
“A vacina muda o seu DNA.”
MITO. Para entender, é preciso uma breve aula de Ciência: há duas áreas grandes em qualquer célula do organismo – o núcleo celular (onde está o DNA/RNA) e o citoplasma. As vacinas que estão disponíveis até hoje não podem afetar o DNA porque elas ficam só no citoplasma. É nele que começa a produção de proteína do vírus, que gruda na célula, e depois é eliminado para gerar estímulo da produção de anticorpos. “Biologicamente, é impossível ter alguma mudança do DNA porque a vacina não vai penetrar de forma nenhuma no núcleo da célula”, explica José Cássio. Mas o que acontece quando somos vacinados? “Você tem um RNA mensageiro que vai penetrar no citoplasma da célula e começar a produzir proteína que será eliminada pelo organismo. Como ela é reconhecida como corpo estranho, nosso organismo começa a produzir anticorpos. Quando o vírus da covid-19 penetra no organismo, é essa proteína que vai permitir ao vírus 'grudar' na membrana da célula. Com anticorpos, porque já foi vacinado, ele vai fazer um bloqueio dessas proteínas, portanto, o vírus não conseguirá grudar na célula e não vai produzir a doença”, finaliza José Cássio.
“A vacina pode ser mais perigosa do que o coronavírus.”
MITO. Os possíveis efeitos adversos da vacina são: dor local, febre leve por poucos dias, um pouco de fraqueza. São efeitos de curta duração. Já o coronavírus não provoca sintomas ou provoca apenas sintomas leves na maioria dos contaminados, mas uma parcela considerável deles desenvolve formas muito graves de covid-19 que podem levar à morte.
José Cássio faz uma analogia: “Se você vai atravessar de um lado para o outro em uma via muito movimentada, você pode escolher a pista ou atravessar pela passarela. Qual tem menos risco? Pode a passarela cair? Sim, mas a chance é mínima”.
“A vacina não é indicada para mulheres grávidas.”
DEPENDE. Por razões éticas, não é possível testar todos os medicamentos ou imunizantes em gestantes, já que isso poderia trazer efeitos nocivos ao bebê. No caso dos imunizantes contra a covid-19, não é diferente. Por isso é que mulheres grávidas não participaram dos testes das vacinas. No momento, a recomendação é de que a mulher grávida analise, com a ajuda do seu médico, a possibilidade de se vacinar ou não. “Caso a gestante não esteja exposta, ou seja, esteja em casa, sem contato com pessoas que podem transmitir o vírus para ela e a atividade profissional seja de baixo risco, pode-se esperar para quando terminar a gravidez. Por outro lado, caso a gestante seja uma trabalhadora da saúde, é preciso se vacinar porque o risco de ela ficar doente e ter algum problema é muito maior”, explica José Cássio. “Se você ler a bula, está escrito: não vacina, mas, do ponto de vista epidemiológico, é preciso pesar”, completa. O especialista lembra que algumas vacinas mais comuns, como a do sarampo, da rubéola ou da caxumba não podem ser administradas em gestantes, uma vez que já se sabe que podem causar malformação fetal.
Saiba mais:
Covid-19 provavelmente ficará conosco para sempre. Veja como viver com ela (em inglês), National Geographic.
Vacina contra covid-19 é segura? E outros mitos que circulam na internet, CNN Brasil.
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