O ensino de inglês mudou! Saiba como adaptar as aulas à BNCC
A nova abordagem valoriza o uso prático da língua e acolhe repertórios culturais diversos
Para tornar a língua inglesa verdadeiramente acessível e significativa para todos, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) propõe uma nova abordagem para o ensino aplicado atualmente em sala de aula.
A proposta é que os estudantes cheguem ao nível independente de proficiência (B1). Os seis níveis de proficiência e as habilidades desejadas estão organizadas no Quadro Europeu Comum de Proficiência para Línguas, proposto na década de 1990 para promover a colaboração entre professores de línguas e melhorar a clareza nas avaliações de proficiência.
As habilidades esperadas para o nível B1 são:
- Entender colocações sobre assuntos conhecidos do trabalho, escola, lazer etc.
- Lidar com a maioria das situações ao viajar para uma área onde se fala inglês.
- Produzir um texto simples sobre assuntos conhecidos ou de interesse pessoal.
- Descrever experiências e eventos, sonhos, esperanças, ambições e opiniões.
Mas o que mudou e como essa novidade pode ser transmitida para os alunos? Confira as dicas abaixo:
1. Reforce a importância de se comunicar e ser compreendido
Primeiro, é preciso transformar o jeito de encarar o aprendizado de inglês. Na BNCC isso já aparece de forma prática: não há mais menção ao termo “língua estrangeira”. Agora, adota-se a expressão “língua franca”. A ideia que se quer passar aqui é que o inglês não deve ser mais visto como “a língua do estrangeiro”.
É preciso acolher e legitimar os usos feitos por falantes do mundo inteiro, com repertórios linguísticos e culturais diversos. Ou seja, não existe um inglês correto, um sotaque a ser seguido. O importante é entender e ser compreendido, fazer uso da língua para se comunicar, acessar conteúdos e usar o inglês como oportunidade de acesso ao mundo globalizado
2. Explique a necessidade de aprender o idioma
Para Simone Sarmento, pesquisadora de políticas linguísticas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a língua não é mais um diferencial na sociedade, e sim, uma necessidade, com impactos na futura vida profissional dos estudantes. “É, por exemplo, o idioma da disseminação científica”, explica. Por isso, é urgente reforçar a importância de o professor despertar o interesse dos estudantes em aprender, alerta Laura Nassar, coordenadora pedagógica do Colégio Oswald de Andrade, em São Paulo.
Também é preciso deixar de lado o pensamento de que desigualdade social é motivo para os péssimos resultados de aprendizagem de inglês na rede pública, principalmente. Com um plano de aula de inglês bem embasado e com todas as possibilidades de comunicação difundidas pela internet, a língua pode ser inserida na vida de qualquer pessoa, independentemente da renda familiar.
3. Faça uso real da língua em sala de aula
O trabalho focado nos livros didáticos que isolam gramática e vocabulário é ultrapassado. “Esqueça o jeitão da aula tradicional, em que o professor explica o verbo to be no presente e dá exemplos de frases. É necessário fazer do uso do idioma algo rotineiro, conferindo utilidade”, comenta Sandra Durazzo, leitora crítica da BNCC e sócia-fundadora da Target Idiomas. Com essa nova perspectiva em mente, abre-se espaço para o professor explorar os eixos escrita, oralidade, leitura, conhecimentos linguísticos e dimensão intercultural de modo articulado e em prol dos conteúdos.
Ou seja, o ato de escrever, por exemplo, precisa estar vinculado a uma necessidade real, que faça sentido para a turma, estar atrelado a uma prática social, fazer parte de um gênero textual. Exemplo: produzir e-mail para um pesquisador perguntando sobre a área de estudo dele a fim de levantar informações para a aula de Ciências. Só quando a língua começar a ter uso real em classe e a capacidade dos alunos de fazê-la parar de ser subestimada é que o cenário vai começar a mudar.
4. Evite a tradução simultânea
Não caia na tentação de ativar a tecla SAP, de tradução simultânea, em classe. “Falar em inglês e logo explicar o que se disse em português desestimula a turma, dá o resultado de bandeja”, diz Sandra. Ela defende, inclusive, a estratégia de se comunicar o tempo todo em inglês durante as aulas, desde o início. Para que essa ideia dê certo, porém, é preciso se apoiar constantemente em gestos, linguagem visual e propostas bem concretas, considerando valioso todo vocabulário que os estudantes já possuem. Assim, a garotada tem onde se apoiar para entender o que está acontecendo. “Não se trata de ficar proibido o uso do português, mas nesse caso é interessante recorrer à língua materna somente quando necessário, para explicar uma regra gramatical mais complexa, por exemplo”, explica.
*Reportagem por Beatriz Vichessi
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