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Como a Educação Financeira aparece na BNCC?
Tema transversal deve permear as diferentes áreas do conhecimento, trazendo protagonismo aos estudantes para seus projetos de vida
O impacto das Reformas Trabalhista e da Previdência, além da crise econômica agravada pela pandemia, transformou a Educação Financeira em instrumento essencial para o planejamento dos gastos e dos investimentos de brasileiros de todas as idades. “Há o desejo e a necessidade de as pessoas conhecerem mais sobre o tema”, avalia a educadora financeira Veronica Maiko Odani, do C6 Bank.
Por sua importância e atualidade, a Educação Financeira deve começar na escola, como prevê a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Em 2018, o documento a incluiu entre os temas contemporâneos que devem ser contemplados pelos currículos de estados e municípios de todo o Brasil. Ruy César Pietropaolo, membro da equipe que elaborou a BNCC de Matemática desde a primeira versão, explica que tema transversal é aquele que não se esgota em uma única área, assim como Educação Ambiental e Educação das Relações Étnico-Raciais.
“A Educação Financeira pode ser tratada em componentes como História, quando se fala sobre moeda e consumo em diferentes momentos históricos”, exemplifica. Ruy ressalta ainda a diferença entre Matemática Financeira e Educação Financeira. Enquanto a primeira é focada nos cálculos matemáticos relacionados ao dinheiro, como juros simples e compostos, a segunda diz respeito aos comportamentos dos indivíduos em relação às finanças.
Por essa razão, Cláudia Forte, superintendente da Associação de Educação Financeira do Brasil (AEF-Brasil), que participou ativamente do processo de inclusão do tema na BNCC, defende que todos os componentes curriculares têm espaço para abordá-lo e, assim, auxiliar os alunos a refletirem criticamente sobre suas escolhas de consumo. “Devemos olhar para a Educação Financeira sob o prisma da tomada de decisão, não apenas da Matemática”, reflete Cláudia.
Para Liao Yu Chieh, educador financeiro do C6 Bank e professor do Insper, abordar o tema na escola é maneira de instruir os jovens sobre a importância de fazer escolhas levando em consideração o bem-estar financeiro. “Ela prepara o estudante para gerir a mesada e os primeiros salários, por exemplo.”
Cláudia completa dizendo que o tema instiga nos estudantes questionamentos relacionados ao futuro: “A Educação Financeira ajuda a construir o projeto de vida dos alunos. Com ela, formamos um cidadão, um adulto mais responsável e consciente”.
Além disso, é importante ter em vista que a Educação Financeira não deve ser trabalhada apenas como uma preocupação individual de cada aluno, mas como algo que também está relacionado à comunidade e à realidade na qual ele está inserido. Nesse sentido, o tema está intimamente relacionado à competência geral Responsabilidade e Cidadania: agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.
Educação Financeira na prática
Mas como levar esses conceitos de forma atrativa para os alunos? Na hora de abordar esse tema no ensino, Veronica ressalta a importância de entender o repertório dos estudantes para contextualizá-lo ao seu universo. A compra parcelada de um celular no cartão de crédito, por exemplo, pode ser uma situação vivenciada por alguns jovens e que pode ilustrar questões envolvendo juros compostos e as armadilhas desse meio de pagamento.
No Colégio Estadual Nossa Senhora da Providência, em Lajeado (TO), a realidade local foi a premissa para a elaboração das propostas pedagógicas envolvendo Educação Financeira. Como a cidade tem apenas 3 mil habitantes e altas taxas de desemprego, Willas Sousa, professor de Matemática do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental e do 1º ano do Ensino Médio, teve a ideia de abordar o tema transversal montando uma malharia e uma serigrafia dentro da escola.
“Calculamos todos os gastos para chegar ao produto final: matéria-prima, maquinaria, impostos”, lembra. Os alunos também fizeram os cálculos para chegar ao valor de venda e como administrar os lucros. “Minha ideia ao trabalhar a Educação Financeira nesse projeto foi, além de ensinar cálculos e conceitos, prepará-los para o futuro profissional”, conta o professor, que, no ano seguinte, encorajou os estudantes a buscarem uma área de interesse para planejar a abertura de uma empresa.
Com a chegada da pandemia, a escola adaptou o conteúdo para as atividades remotas e promoveu uma roda de conversa on-line sobre o tema, envolvendo docentes de diferentes componentes. “Por experiência própria, recomendo que o professor faça um estudo sobre a realidade da sua comunidade para aplicar a Educação Financeira no dia a dia do estudante”, orienta Willas. Assim, diz ele, os alunos identificam-se com o tema e engajam-se nas atividades propostas.
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