Por que falar do método científico na escola?
O fazer dos cientistas não pode ficar restrito aos laboratórios. É se debruçando sobre atividades investigativas que os alunos vão compreender o que é ciência, como acontecem as descobertas, o papel do erro e como os profissionais trabalham
A ciência acontece a todo instante em nosso cotidiano, sem que a gente perceba ou repare. As 24 horas do dia acumulam milhares de reações químicas, físicas e biológicas no planeta. Nós mesmos, seres humanos, somos um conjunto ambulante de combinações, de comprovações e de resultados da ciência. Como a escola pode tornar conceitos científicos mais perceptíveis aos alunos do Ensino Fundamental 2?
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) indica um caminho importante no texto introdutório da área de Ciências da Natureza: “É imprescindível que eles [estudantes] sejam progressivamente estimulados e apoiados no planejamento e na realização cooperativa de atividades investigativas, bem como no compartilhamento dos resultados dessas investigações. Isso não significa realizar atividades seguindo, necessariamente, um conjunto de etapas predefinidas, tampouco se restringir à mera manipulação de objetos ou realização de experimentos em laboratório”.
“Quero ensinar a ciência que faz sentido para os alunos, aquela que permite que eles façam conexões com a vida cotidiana deles mesmos”, conta Carla Fernanda Ferreira Pires, professora da EM Rio de Janeiro e da EM Presidente Arthur Costa e Silva, na capital fluminense. “A pesquisa científica não é igual à descoberta científica, mas envolve a busca de conhecimento, que é muito importante, e é nesse processo que eles acumulam aprendizados.”
“Todo e qualquer conteúdo de Ciências pode ser aplicado ao cotidiano”, analisa Cristian Annunciato, professor de Física da Escola Lourenço Castanho, de São Paulo (SP). “Cabe ao professor a tarefa de conectar a ciência à realidade do aluno.”
Para Cristian, é muito importante, especialmente para essa faixa etária do Fundamental 2, apresentar a materialidade dos conceitos previstos no currículo, até mesmo para responder ao recorrente questionamento: “Onde aplico isso de verdade, professor?”, alerta. “Os experimentos podem dar o prazer da descoberta daquele conhecimento. Eles criam inquietações, fazem os alunos se mobilizarem para levantar hipóteses, mesmo sem compreenderem ainda todos os conceitos envolvidos”, afirma.
O lugar dos experimentos no planejamento
Com os experimentos, os estudantes colocam em prática o método científico, com etapas que envolvem observação, formulação de hipótese, a experimentação propriamente dita, construção da teoria e confirmação. Importante nos experimentos, haver previsão, inclusive, de análise dos “erros”, ou seja, dos resultados inesperados da pesquisa (leia mais sobre a validade do erro para o desenvolvimento da ciência aqui).
Para Luciana Hubner, bióloga, formadora de professores e coordenadora pedagógica do Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, o professor deve potencializar o pensamento científico, e tomar cuidado para não “escolarizar” o método científico: “Às vezes a escola tem uma postura muito rígida ao aplicar o método. No fazer científico, uma conclusão pode levar a uma hipótese e não apenas o inverso”, pontua. Estimular essa compreensão mais ampla do método pode permitir, inclusive, que se veja muito mais no papel de autor da aprendizagem, e não um mero locatário do conhecimento.
Luciana ainda diz que experimentos são apenas uma das estratégias para o ensino de Ciências, por isso cabe ao professor avaliar o contexto: quais os melhores recursos para ensinar o conteúdo, alinhado ao tempo didático, bibliografia adequada para, de fato, avançar nas ideias? “Senão corremos risco de usar o experimento pelo experimento. Ou seja, não há finalidade didática”, afirma. Nesse ponto, é importante outra reflexão: vale a pena apostar nos experimentos considerados “consagrados” da escola, como plantar feijão no algodão? (Leia mais sobre o assunto e como ressignificar esses clássicos aqui.)
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