PLANEJAMENTO

Estratégias para considerar a produção dos alunos e avaliar no segundo semestre

Colocar o aluno no centro, sempre levando em conta o nível de autonomia de cada faixa etária, bem como o vínculo com a escola e a cooperação, são caminhos possíveis para avaliar em 2021

Ilustração feita a partir de colagens de uma professora em vídeo chamada com alunos durante processo de avaliação.
Ilustração: Rafaela Pascotto/NOVA ESCOLA

O ensino remoto trouxe a necessidade de reflexão sobre as práticas educacionais como um todo e, claro, os diferentes métodos avaliativos também foram revisitados. Enquanto práticas tradicionais como as provas individuais perderam espaço, entraram em cena estratégias que levam mais em conta os processos de aprendizagem e menos o acúmulo de informação. Assim, as habilidades - tanto gerais quanto as específicas - ganharam relevância maior no processo avaliativo. 

A essência do pensar avaliativo, no entanto, não se altera. É necessário que continue sendo um movimento reflexivo sobre a própria prática docente e sobre as aprendizagens que foram possíveis. Assim, não pode estar descolada daquilo que as turmas foram desafiadas a desenvolver, tanto em termos de metodologias escolhidas quanto às habilidades, competências e conteúdos, explica Mario Fioranelli Neto, coordenador pedagógico do Ensino Fundamental 2 do Centro Educacional Pioneiro. 

Divisória

O que avaliar do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental 

O que avaliar no 6º ano?

- Organização
- Procedimentos
- Capacidade de exposição de um tema/conceito
- Trabalho em grupo: organização, relações e distribuição de tarefas
- Introdução às tecnologias
- Desenvolvimento das habilidades específicas para o ano

O que avaliar no 7º ano?

- Sofisticação da organização
- Sofisticação dos procedimentos
- Trabalho em grupo: organização, relações e distribuição de tarefas
- Aperfeiçoamento do uso das tecnologias
- Desenvolvimento das habilidades específicas para o ano

O que avaliar no 8º e no 9º ano?

- Organização plena
- Clareza nos procedimentos
- Capacidade de abstração e reflexões com maior complexidade
- Trabalho em grupo: organização, relações, distribuição de tarefas mais fluida e dinâmica
- Uso das tecnologias mais complexas
- Desenvolvimento das habilidades específicas para o ano

Fonte: Mario Fioranelli Neto

Divisória

Para Mario Fioranelli, pensando o momento de forma um pouco mais pragmática, é necessário considerar os instrumentos que melhor propõem um espaço reflexivo e autoral dos alunos e que garantam a expressão genuína daquilo que foi aprendido. Mas, ao mesmo tempo, que deem conta de uma turma que está há um ano e meio vivendo a experiência do remoto e, nos últimos meses, o desafio da fragmentação do grupo entre presencial e remoto.

Fernanda Flores, diretora geral da Escola da Vila, em São Paulo (SP), conta que os professores passaram a dar ênfase aos aspectos de avaliação relacionados ao vínculo do estudante com a vida escolar. “Este é um aspecto muito sensível, com alto impacto na maneira pela qual o estudante se organiza para estudar e aprender”, reflete.

No primeiro momento, houve o mapeamento das aprendizagens: os alunos estão participando? Estão entrando nas atividades virtuais? Como estão participando? Qual é o grau de resposta que há nos fóruns, chats, atividades em aulas virtuais? Com base nessas questões, os professores tabularam informações para realizar um acompanhamento que lhes dê condições de olhar uma linha de sustentação da aprendizagem por parte dos alunos. Esse tipo de acompanhamento continua sendo adotado, pois é considerado central para o vínculo das crianças com a escola.

Para contextos desafiadores, avaliação com foco na autonomia e na cooperação  

Acolhimento e manutenção de vínculos são essenciais em qualquer etapa da vida escolar, mas, no Fundamental 2, ganham características específicas. Se no 6º ano há a mudança na estrutura das aulas, com a chegada dos professores por componente curricular, no 9º surgem as dúvidas e inseguranças com a proximidade do Ensino Médio. Em ambos os casos o desenvolvimento da autonomia é essencial, algo que no ensino remoto precisou ser acelerado. 

Avaliar conteúdos de maneira que a autonomia e a cooperação sejam desenvolvidas pode ser a chave para uma aprendizagem mais eficiente, mesmo num contexto desafiador. “O professor precisa entender que da mesma forma que estamos passando dificuldades neste ensino remoto emergencial, os alunos também passam no aprendizado”, afirma Rodrigo Padilha, professor de Ciências do Fundamental 2, mestre em Educação e consultor de NOVA ESCOLA.  

A conversa com os professores dos anos anteriores e uma avaliação diagnóstica, mesmo que tardia, é essencial para entender o ponto de partida com a turma e quais estratégias de ensino e avaliação devem seguir para uma adaptação mais saudável.   

“O que mais tem dado certo é colocar o aluno no protagonismo, sempre levando em conta o nível de autonomia de cada faixa etária”, garante Renata Capovilla, cofundadora da Íntegra Educacional. 

Atividades mais simples para os mais novos, como mapas mentais de acordo com a habilidade que o professor quer desenvolver ou a criação de infográficos têm forte aderência nos 6os e 7os anos.

Também é importante propor situações para que eles trabalhem colaborativamente, uma forma de reforçar vínculos num momento de convivência limitada. Mas esse tipo de ação não deve ser no modelo tradicional do trabalho em grupo, com uma nota valendo para todos, mas num formato que promova trocas e permita ao professor coletar evidências de aprendizagem intencionais, explica a educadora.

Produção de vídeos, material em fotos e apresentações em slides também são eficientes para que os alunos exponham os caminhos percorridos naquela aprendizagem. Para os mais velhos, dos 8os e 9os anos, as propostas podem ser mais complexas, com o desenvolvimento de formulários com perguntas que eles fariam aos colegas. As perguntas podem ser trocadas, mas o professor deve solicitar a expectativa de resposta para cada pergunta. “Não valem perguntas com respostas que possam ser encontradas no Google”, brinca Renata. As perguntas devem demandar a reflexão sobre os tópicos estudados. Com base nisso, o professor consegue captar o que o aluno pensou sobre o conteúdo e identificar eventuais dificuldades. “A avaliação deve ser pensada muito mais processualmente do que no contexto de uma avaliação com nota ao final do processo. Uma avaliação mais qualitativa do que quantitativa é muito importante neste momento”, resume Renata. 

Fernanda observa que nos 6os e 7os anos o uso de ferramentas de comunicação incentivou a troca de opiniões e ideias, o que ajudou a sustentar o trabalho avaliativo. “Com isso, uma das coisas que a gente avalia é a ampliação desse repertório de estratégias de escrita de comunicação em diferentes contextos. Então, a gente também avalia como o estudante foi progressivamente fazendo uso desse conjunto de novos recursos para dar sustentação a sua aprendizagem”, conta a educadora. 

Em avaliações rápidas, o uso de vídeos explicativos e os fóruns virtuais foram meios muito usados para que o professor pudesse acumular informação do percurso de aprendizagem de cada um dos seus estudantes. Ainda nos anos iniciais do Fundamental 2, são avaliados também a organização na localização dos materiais de estudo, a agenda virtual e os cadernos de anotação, tudo com o intuito de compreender o desenvolvimento da aprendizagem. 

Nos 8os e 9os anos, a atenção volta-se também ao uso que o estudante faz dos recursos tecnológicos para ele autorregular seu processo de aprendizagem: como ele progride na produção textual, na organização, pesquisa, checagem de fonte e uso de referências. “São habilidades centrais para o pensamento crítico nesta etapa”, resume. 

Outro aspecto central no acompanhamento da avaliação dos 8os e 9os anos está relacionado à autonomia no trabalho em grupo, nas produções que envolvem uma dinâmica de distribuição e de cooperação intelectual e construção de explicações mais sofisticadas. 

Pensando em instrumentos avaliativos, Mário Fioranelli Neto acredita não haver uma regra rígida para cada ano, pois as turmas podem e devem ser experimentadas em diferentes cenários. “O importante é preservar a complexidade da entrega e do aprofundamento adequado a cada ano”, afirma. 

Mas Rodrigo Padilha alerta para o risco do uso excessivo das ferramentas digitais e o cuidado com a produção escrita, que não pode ser abandonada. Escrever é importante para o desenvolvimento e assimilação de diferentes informações, pois o tempo e as habilidades envolvidas na escrita são diferentes da digitada em plataformas ou documentos on-line. 

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