FERRAMENTAS

E-mail, WhatsApp, redes sociais: o que as ferramentas digitais podem fazer pela avaliação a distância?

Como utilizar com eficiência o que está disponível para analisar as produções dos alunos durante a pandemia

Ilustração feita a partir de colagens de professor segurando caixa com ícones de whatsapp, zoom e wifi.
Ilustração: Rafaela Pascotto/NOVA ESCOLA

Levanta a mão quem precisou conduzir uma avaliação por WhatsApp, organizar as devolutivas por e-mail ou mesmo trabalhar com as redes sociais para avaliar durante a pandemia.

O uso das ferramentas digitais, em especial para os processos avaliativos, fez com que muitos professores precisassem buscar respostas: aprender a usar as ferramentas com tutoriais ou mesmo perguntar para as colegas como elas conseguiram. Cada um, ao seu jeito, se adaptou. Ainda assim, há dúvidas sobre como usar de maneira eficiente o que está disponível, como as ferramentas digitais, especialmente considerando a desigualdade de acesso recorrente nas escolas brasileiras. 

Neste conteúdo, você aprenderá mais sobre o impacto, desafios e possibilidades das ferramentas digitais (como o e-mail, WhatsApp, Google Forms,  redes sociais e Moodle) no ensino remoto para a avaliação.  Um dos critérios de escolha das ferramentas apresentadas neste conteúdo foi a facilidade de acesso e a familiaridade de parte dos educadores com elas – no entanto, há diferentes contextos educacionais no Brasil e muitos desafios para o uso pleno no ensino remoto. 

Avaliar com qualidade o que os alunos conseguiram aprender durante a pandemia e o ensino remoto é uma tarefa nada fácil, mesmo com o apoio de recursos e ferramentas digitais. Além disso, nem todos estão incluídos digitalmente, aponta a educadora Kika Alves. “As ferramentas digitais facilitaram muito a vida de alunos e professores, mas acredito que, sendo a avaliação um processo contínuo, é complicado avaliar de maneira remota”, afirma Kika, que é pedagoga com certificação em tecnologia educacional, formadora e professora de Informática Educativa na Escola de Educação Integral Padre Quinha, em Petrópolis (RJ). Ela lembra, ainda, acerca do enorme desafio da inclusão digital, uma vez que há grande número de alunos sem acesso ao ensino remoto ou auxílio em casa para quando recebem o material de estudo impresso. "Deve-se levar em consideração o contexto e as condições nas quais está acontecendo o processo de ensino e aprendizagem”, reforça.

Identificando as ferramentas para avaliar em 2021

O primeiro passo é identificar quais ferramentas estão à disposição. “Não adianta pensar em um modelo com uso de classes on-line e diferentes plataformas se os estudantes não têm acesso ilimitado a dados em banda larga. Ou se possuem acesso, mas não o conhecimento das ferramentas”, explica o professor de Ciências do Fundamental 2, mestre em Educação e consultor de NOVA ESCOLA Rodrigo Padilha. 

Padilha lembra que no início da pandemia acreditava-se que os alunos tinham o conhecimento digital por utilizarem as redes sociais, mas publicar conteúdos nas redes sociais não garante o domínio de outras ferramentas. 

Para Helena Mendonça, da coordenação de tecnologias educacionais da Escola da Vila, em São Paulo (SP), as ferramentas digitais têm papel fundamental na avaliação em tempos de pandemia, especialmente para os educadores repensarem a prática educacional. 

“A gente sabe que na pandemia os estudantes estão em casa, afastados fisicamente, mas têm a possibilidade de se comunicar. Então é difícil evitar a comunicação entre eles durante a realização das atividades”, aponta a educadora. Afinal, uma mensagem no WhatsApp pode ter virado o novo dar uma olhadinha na prova do colega. 

Além da questão de uma vigilância mais sofisticada, indisponível para a maioria das escolas, outros aspectos estão na mesa a serem considerados na hora de avaliar a aprendizagem. 

Segundo Helena, uma avaliação eficiente passa pela avaliação dos próprios colegas sobre o trabalho de um estudante, pela autoavaliação e a avaliação em grupo.

“Existem vários tipos de avaliação desejados numa educação que valorize o conhecimento sobre o próprio percurso de aprendizagem”, afirma. Então, a pandemia, na verdade, trouxe a reflexão da possibilidade de propor novos tipos de avaliação junto aos estudantes, formatos que fujam da tradicional prova individual. No sentido de diversificar os formatos avaliativos, Helena lembra dos murais digitais, que permitem o acesso de vários estudantes ao mesmo tempo, levando em consideração a produção de um estudante e a avaliação por pares. “Qualquer recurso que tenha uma proposta de avaliação a partir do próprio percurso de aprendizagem do estudante é válido”, conclui.    

Materiais impressos x recursos digitais 

A despeito do que as ferramentas tecnológicas são capazes de oferecer, a realidade é que boa parte dos estudantes depende dos materiais impressos. E esta tem sido a maior dificuldade na devolutiva com relação à avaliação, segundo Kika Alves. 

“Quando é possível ter acesso à internet e há troca com o professor, o aluno tem a possibilidade de tirar dúvidas e o professor intervir nas atividades enviadas. Mas as atividades impressas nem sempre são realizadas, pois o aluno não tem possibilidade de tirar dúvidas. Infelizmente, com a falta da internet, temos um grande número de alunos sem o atendimento básico para concluir os estudos”, afirma. Ainda assim, é possível melhorar a comunicação com os alunos e ter uma visão adequada da aprendizagem conciliando o uso dos materiais impressos com ferramentas mais simples e acessíveis, como o WhatsApp. “Os estudantes podem enviar fotos das atividades, trocando os registros e comentários”, sugere Helena. 

Rodrigo também lembra que as ferramentas tecnológicas são apenas meios, o importante é o aluno poder expressar o seu conhecimento. 

“Uma boa escrita argumentativa ou um mapa mental organizado pelo aluno na folha de papel sulfite e enviada ao professor pelo WhatsApp é melhor do que o uso de uma plataforma digital com acesso restrito pelo aluno”, comenta.

Qualquer compartilhamento é válido para dar ao professor a visibilidade do que está sendo produzido e promover a integração. WhatsApp, Facebook e Instagram são boas plataformas nas situações com mais restrição de acesso, pois estas redes costumam ter acesso ilimitado mesmo em planos pré-pagos. “Isso aumenta a possibilidade de inclusão. O mais importante é a comunicação entre aluno e professor”, conclui Rodrigo. 

E-mail, redes sociais, Docs e Whatsapp: como usá-los para avaliar?  

Com a ajuda dos educadores Helena Mendonça, Kika Alves e Rodrigo Padilha, NOVA ESCOLA preparou uma lista com as principais ferramentas digitais e dicas de como usá-las nas avaliações. 

E-mail 

O e-mail é necessário para cadastro e login de todas as ferramentas, mas alunos e professores estão habituados a utilizarem ferramentas mais rápidas como o WhatsApp para comunicação e envio de atividades. Então, o e-mail é um dos meios de troca de materiais mais próximos dos professores e mais distantes dos alunos. Por ser uma linguagem totalmente diferente das outras, é necessário ensinar o aluno a utilizá-la. Anexar arquivos, documentos, fotos, vídeos pode parecer simples, mas não para quem nunca utilizou.   

Passada essa etapa do aprendizado do uso da ferramenta – que inclusive pode ser avaliada com critérios como saber anexar documentos, uso adequado da escrita e enviar para múltiplos participantes, entre outros –, os professores podem fazer diferentes usos, como o envio das instruções de uma atividade junto do documento em Word para o aluno produzir. Outra situação é o aluno tirar foto da atividade avaliativa no caderno com o celular, clicar na foto e escolher anexar no e-mail, escolher o destinatário e enviar para o professor. O professor, por sua vez, pode criar grupos dentro do e-mail e organizar a chegada dos e-mails por série, categorizando os e-mails dos alunos.

WhatsApp 

O WhatsApp é uma ótima ferramenta de compartilhamento de dados para a pandemia, primeiro porque ela é de conhecimento de alunos e professores, segundo porque ela é de dados ilimitados mesmo em celulares pré-pagos, facilitando a criação e o compartilhamento de atividades de:

- Textos, mapas mentais, questionários, relatórios, cartazes e desenhos, entre outras atividades que podem ser escritas no caderno ou folha de sulfite e compartilhadas por fotos diretamente do WhatsApp;

- Vídeos curtos, encenações, experimentos científicos, apresentações, paródias musicais ou outras atividades que podem ser gravadas e enviadas diretamente do aplicativo;

- Debates, rodas de conversa, pequenos grupos de discussão entre outros que podem ser feito com até 6 pessoas;

- Trocas de links contendo reportagens, vídeos de aulas, documentários que podem ser indicados aos alunos e utilizados posteriormente para avaliações;

- Troca de documentos em diferentes formatos para uma leitura, edição ou se possível impressão;

- Produção de podcasts simples através da gravação direta pelo aplicativo. 

Trata-se, ainda, de uma ferramenta totalmente adaptável ao modelo educacional. Além de permitir todas essas trocas ainda possibilita o feedback escrito ou por áudio, individualizado ou em grupo. O professor pode criar as salas de aula como grupos, enviar as pautas das aulas, as instruções e os critérios de avaliação, tudo pela ferramenta.

Ao receber dos alunos, com a possibilidade do WhatsApp Web, o professor consegue visualizar os documentos, vídeos ou áudios enviados pelos alunos e ainda pode baixar e organizar em diferentes pastas no computador. Pode avaliar as atividades e devolver os documentos com feedbacks escritos (por fotos, documentos como Word, PPT, PDF) ou por áudio, dependendo da idade e da intencionalidade com o feedback.

De tempos em tempos é recomendável que o professor apague os arquivos armazenados no backup do celular, evitando falta de memória no aparelho. Também é recomendado que ele desfaça os grupos criados após as apresentações de trabalho, evitando o acúmulo de grupos que podem ficar sem função e ocupar espaço de memória do celular.

Facebook

Apesar de a ferramenta não ser popular entre as crianças, é uma ótima forma para trocar documentos, informações, vídeos, criar grupos de discussão e de estudo, enviar vídeos e áudios. Por serem do mesmo grupo (WhatsApp, Facebook e Instagram), essas ferramentas permitem compartilhar informações de maneira rápida e prática entre elas. Todos os modelos indicados por WhatsApp podem ser trabalhados e avaliados com esta ferramenta, inclusive a troca de mensagens pelo Messenger e chamada de vídeos, tudo pelo Facebook.

Moodle

O Moodle foi adotado como o ambiente virtual de aprendizagem em muitas escolas da rede particular. Nele, há ferramentas de avaliação, como questionários, fóruns, recursos de bases de dados e envio de tarefas. Portanto, é uma ferramenta que permite o armazenamento da produção do estudante, o que gera um histórico organizado que permite um olhar para o processo de aprendizagem do aluno como um todo. 

Dentro do Moodle há o Weaker, que grava o processo de produção, por exemplo, de um de um texto do estudante. Das ferramentas Google, Google Docs também permite o acesso ao histórico de versões do documento. 

Google Forms

É uma ferramenta que permite produzir desde pequenas atividades, avaliações e testes de múltipla escolha, até trilhas de aprendizagem. Ela pode ser utilizada para avaliar por meio dos questionários e atividades que podem ser criados no próprio formulário. 

Com esse recurso, é possível preparar provas com questões objetivas e discursivas. Na criação do questionário, pode-se atribuir notas a cada questão, e, no caso de questionários exclusivamente objetivos, é possível apresentar a nota ao aluno logo após a realização das questões. É uma ferramenta que pode ser utilizada para montar formulários e testes on-lines, além de enquetes. As perguntas desenvolvidas podem ser discursivas ou objetivas. 

O interessante da ferramenta é que no desenvolvimento das questões o professor pode utilizar links de vídeos ou textos  para contextualizar os itens ou para ser o objeto em questão. Elas podem ser programadas para ter início e término determinados, além de mesclar as questões dentro do questionário caso o professor queira. O link pode ser inserido em documentos e outras ferramentas, tais como o Padlet e o Google Apresentações.

Outro uso do Google Forms é na criação de questões pelos próprios alunos, uma maneira interessante de avaliar, já que para desenvolver questões o aluno precisa ter um bom domínio do conteúdo. 

Flipgrid

Esta é uma plataforma só de vídeos, onde o professor pode dar feedback por vídeo e avaliar direto na plataforma. É possível criar os critérios de avaliação na própria plataforma.

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