Ciberbullying no ensino remoto: como prevenir, reagir e cuidar da convivência no longo prazo
Problema exige intervenção imediata e medidas no longo prazo, e não deve ser diminuído a conversas pontuais. Conheça 4 situações comuns de ciberbullying no ambiente virtual e saiba como lidar com elas
Situações de ciberbullying já existiam entre alunos e alunas antes da pandemia de covid-19, mas se intensificaram com o ensino remoto. A possibilidade de anonimato, a confiança na falta de punição e o distanciamento físico e emocional do on-line encorajam os autores.
Mas o que fazer quando chega um caso concreto no chat da sala de aula on-line, na conversa privada com um aluno ou mesmo quando outro funcionário da escola relata o caso? Como o professor pode atuar?
O que é ciberbullying
Práticas violentas, intencionais, entre pessoas próximas e com paridade de poder em ambientes virtuais. Podem incluir agressões, ameaças, insultos, difamações, exclusões ou humilhações. Muitas vezes, aquele que pratica a violência tem dificuldade de reconhecer a agressão ou o desrespeito dirigido ao outro. Saiba mais aqui.
Primeiro, explica Thais Bozza, doutora em Educação pela Unicamp e gestora de Projetos da Convivere Mais, é preciso abandonar a ideia de punição e investir em ações de prevenção e intervenção.
Com a ajuda dela, elencamos quatro situações de ciberbullying mais comuns nas escolas e listamos ações preventivas, formas de atuar no momento em que os casos aparecem, e como tratar do assunto no longo prazo. Confira:
Ciberbullying: Conheça 4 situações comuns no ambiente escolar
1. Divulgação de fotos, memes, figurinhas de WhatsApp ou vídeos com caracterização ofensiva, humilhante ou degradante de alunos e alunas.
2. Agressões diretas direcionadas a alunos e alunas em grupos de WhatsApp ou Instagram.
3. Divulgação de mensagens privadas que expõem alunos e alunas nas redes sociais.
4. Compartilhamento de imagens íntimas de alunas e alunos no WhatsApp ou redes sociais.
Saiba mais no vídeo: Agressões Virtuais | Ciberbullying
Ações preventivas para lidar com o ciberbullying
Apostar na formação de educadores para atuar de forma eficaz na solução do problema.
Instituir um espaço no currículo para discutir e refletir sobre conteúdos que envolvem a convivência, entre eles a convivência on-line e a temática do ciberbullying. Saiba mais no vídeo: Relações sociais e agressões no ambiente virtual: como a escola pode contribuir.
Propor atividades que envolvam a reflexão sobre as consequências das ações on-line, a troca de perspectivas, o protagonismo dos e das estudantes, o fomento de valores éticos, tais como respeito, justiça e generosidade, e ainda o desenvolvimento de competências socioemocionais, como a empatia e a assertividade.
Constituir sistema de apoio entre pares em que alguns estudantes são formados para apoiar os colegas que estejam enfrentando o problema. Para saber mais: Conversando com as equipes de ajuda.
Criar estruturas para que os alunos e alunas possam fazer denúncias e reclamações. Por exemplo: disponibilizar caixas ou urnas na escola para pedidos de ajuda, ou endereços de e-mails e contas nas redes sociais.
O que fazer na hora em que acontece o ciberbullying:
Leia orientações sobre como agir no curto prazo diante de um caso de violência virtual entre os alunos
1. Retirar o conteúdo das redes sociais. A situação pode propagar-se rapidamente, exigindo medidas imediatas. Facebook e Instagram, por exemplo, possuem mecanismos de segurança que podem ser acionados para a retirada de conteúdos impróprios.
2. Orientar a aluna ou o aluno que é alvo a não responder às agressões. Essa orientação pode se estender para “printar” o conteúdo que o ofende (ou pedir para alguém fazer isso), e afastar-se das redes sociais, pois não é indicado permanecer relendo ou revendo o conteúdo desrespeitoso, a fim de evitar o sofrimento prolongado.
3. Incentivar quem é alvo a falar sobre o que está sentindo. É importante o educador utilizar a escuta ativa e empática e dar o espaço de que ele ou ela precisa para falar.
4. Tentar identificar junto aos alunos o autor ou autora da ofensa (se é membro da escola ou uma pessoa desconhecida, um perfil fake). O mais indicado é que isso não seja feito publicamente, com todos juntos, e sim chamar pequenos grupos para que possam relatar o que sabem.
5. Lembre os estudantes de que eles não são delatores. Eles foram chamados para ajudar a procurar de onde partiram as postagens para que se possa reverter a situação.
6. Elaborar um plano de ação. A partir do levantamento dessas informações, elabore um plano para intervir com os envolvidos diretamente na situação. “Indicamos para esse fim o Método de Preocupação Compartilhada (MPC), que corresponde ao planejamento e sistematização de uma forma de intervenção aos problemas de intimidação entre pares, e que tem como objetivo promover a reflexão sobre os comportamentos dos envolvidos nessas situações”, recomenda Thaís. Você pode ler mais sobre o método, desenvolvido pelo educador Anatol Pikas, neste artigo.
Ciberbullying na escola: como cuidar no longo prazo
Com os envolvidos diretos no caso (autor e alvo):
- Elaborar um protocolo de atuação de forma que a intervenção ocorra individualmente com as partes. Para saber mais, leia o livro Quando a Preocupação É Compartilhada: Intervenções aos casos de bullying, de Luciene Tognetta.
- Com o alvo o objetivo da intervenção é acolhê-lo, reconhecer seus sentimentos, permitir que os expresse, fortalecê-lo para enfrentar a situação de forma assertiva.
- Com o autor o objetivo é a reparação do dano causado, o desenvolvimento da empatia e a sensibilidade moral e formação de valores éticos.
- O educador responsável pela intervenção deve acompanhar o caso do início ao fim. Para saber mais, você pode acompanhar a live com a Thais Bozza no Instagram.
Com os espectadores (o grupo de alunos) do caso de ciberbullying:
- Pode-se organizar uma atividade para refletir sobre a temática, o ciberbullying.
- É preciso tomar alguns cuidados para não expor os envolvidos diretos.
- O educador que conduz a atividade deve usar uma comunicação construtiva e empática.
- Compartilhar o objetivo da aula, que é um momento de reflexão sobre temáticas que estão relacionadas à convivência on-line.
- Alguns princípios precisam ser respeitados durante as discussões na aula, como: falar de situações sem julgamento, descrevendo-as; citar fatos e não mencionar ou identificar pessoas.
SUGESTÃO DE INTERVENÇÃO - Ciberbullying: como podemos agir?
A seguir, leia uma proposta de atividade/intervenção que pode ser desenvolvida com os alunos do Fundamental 2
OBJETIVO: Sensibilização com a exposição do alvo, identificação de valores sociomorais ausentes na situação, identificar os sentimentos dos envolvidos e refletir sobre o papel dos espectadores. Saiba mais.
1. Assista com os alunos ou passe como tarefa o vídeo Ciberbullying - Talent Show. É possível ativar a legenda em português na barra de ferramentas lateral da ferramenta.
2. Após o vídeo, proponha uma discussão coletiva. Os alunos devem assistir ao vídeo e em seguida discutir coletivamente com a mediação do professor. As perguntas abaixo podem nortear a discussão:
- O que sentiram ao assistir o vídeo?
- O que acontece nessa situação?
- Quem são os personagens envolvidos?
- Como agem? Como se sente a aluna exposta?
- Se essa mesma situação acontecesse em uma rede social, como se sentiria a aluna exposta?
- Por quê?
- Qual a atitude da plateia no vídeo?
- Na internet também vemos essa atitude?
- Existem outras atitudes dos espectadores (público que assiste) na internet? Quais?
- Quais são as consequências quando uma pessoa é exposta ou desrespeitada na internet?
- O que podemos fazer se isso acontecer conosco?
- E se acontecer com outra pessoa (conhecida ou desconhecida)?
- Como podemos agir?
- Por quê?
3. Liste valores coletivos e proponha sua divulgação para a comunidade. Pergunte: Qual ou quais valores vocês acham que faltaram nessa situação do vídeo? Liste os valores citados pelos alunos e proponha a divulgação para a comunidade educativa utilizando recursos digitais: criando postagens, pequenos vídeos para as redes sociais ou outras plataformas.
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