Como trabalhar fanfic e gêneros digitais em Língua Portuguesa de acordo com a BNCC

A fanfic é um gênero textual contemporâneo, em que fãs de determinado produto cultural escrevem e compartilham histórias alternativas inseridas em um mesmo universo ficcional. Pode ser um filme, livro ou até mesmo um jogo de videogame: o importante é partir do que os alunos já conhecem ou vivenciam para propor novas práticas de escrita e leitura nas aulas de Língua Portuguesa.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) destaca a fanfic (ou fanfiction) na descrição da habilidade EF69LP46, classificando-a como uma forma de expressão da cultura juvenil, como um podcast ou vlog. 

Participar de práticas de compartilhamento de leitura/recepção de obras literárias/manifestações artísticas, como rodas de leitura, clubes de leitura, eventos de contação de histórias, de leituras dramáticas, de apresentações teatrais, musicais e de filmes, cineclubes, festivais de vídeo, saraus, slams, canais de booktubers e redes sociais temáticas (de leitores, de cinéfilos, de música etc.), dentre outros, tecendo, quando possível, comentários de ordem estética e afetiva e justificando suas apreciações, escrevendo comentários e resenhas para jornais, blogs e redes sociais e utilizando formas de expressão das culturas juvenis, tais como vlogs e podcasts culturais (literatura, cinema, teatro, música), playlists comentadas, fanfics, fanzines, e-zines, fanvídeos, fanclipes, posts em fanpages, trailer honesto e videominuto, dentre outras possibilidades de práticas de apreciação e de manifestação da cultura de fãs.

Para produzir uma fanfic, o aluno precisa planejar o texto, além de publicá-lo em uma plataforma adequada e realizar processos de edição e reescrita, bem como dialogar com comentários e críticas. Tudo isso dialoga com o engajamento para a escrita e com as habilidades relacionadas aos gêneros narrativos de um modo geral em Língua Portuguesa.

O gênero digital pode ser trabalhado com as turmas do 6º ao 9º ano, desde que se observem as especificidades e limites para a faixa etária dos alunos. Os mais novos, por exemplo, podem ficar mais à vontade com temáticas ligadas a super-heróis, enquanto os alunos do 9º ano podem experimentar e escolher obras mais complexas. 

De acordo com Josiani Kely Milesk, professora de Língua Portuguesa da rede pública estadual paulista e mestra na área de linguagens e letramentos pela Unesp, o trabalho com a fanfic em sala de aula pode se desdobrar para além da escrita da história e do engajamento em comunidades. Esse movimento permite a mobilização de inúmeras competências distribuídas nos eixos Leitura, Produção de texto, Oralidade e Análise, explica. 

Além dos multiletramentos e da cultura digital, a BNCC considera a diversidade cultural como outro princípio a ser considerado. Desta forma, a escola precisa contemplar diferentes obras, linguagens e movimentos e ampliar o universo de referências e possibilidades dos estudantes. Estudar o cânone, isto é, os clássicos culturais, mas também, as expressões artísticas marginais, cultas, populares, de massa e digital ajudam o aluno a interagir com o diferente e com o que ele ainda não conhece.