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Avaliação Diagnóstica: como considerar com empatia o que as turmas aprenderam (ou não) em 2021

Estratégia pedagógica que ajuda a identificar e mapear os diferentes progressos no grupo de alunos, a avaliação diagnóstica é ferramenta importante para a transição para o presencial.

Ilustração digital simulando pintura manual de professora sentada em frente ao computador aplicando avaliação diagnóstica por vídeo chamada.
Ilustração: Julia Coppa/NOVA ESCOLA

Num momento como o atual, planejar o próximo semestre implica entender, com profundidade e sensibilidade, quais os avanços e dificuldades de aprendizagem carregadas pelos alunos após um ano e meio de distanciamento, pandemia e sistemas alternativos de ensino, seja remoto ou híbrido.

Entra em cena a avaliação diagnóstica, ponto de partida para o caminho traçado para os próximos seis meses. 

O retorno ao ensino presencial é um desses momentos em que é preciso muita sensibilidade, pois cada estudante viveu o distanciamento físico da escola de maneira diferente, afirma a especialista em educação Kátia Chiaradia. 

"Alguns conseguiram organizar sua rotina e até estudar com certa regularidade, outros só sentiram derrota e ansiedade. Transições são momentos muito caros às aprendizagens e, por isso, têm um olhar especial da própria Base Nacional Comum Curricular”, lembra a educadora.

A avaliação diagnóstica é um mapeamento do que os estudantes conhecem ou desconhecem sobre cada objeto de conhecimento ou de cada disciplina. Por isso, faz sentido que elas sejam propostas no início de cada momento escolar, complementa.

Na prática da sala de aula, as estratégias de avaliação diagnóstica e formativa se integram, uma vez que por meio dela o professor tem condições de identificar se os estudantes estão aptos a desenvolver o próximo objetivo de aprendizagem.

Além disso, a avaliação diagnóstica verifica se eles consolidaram as aprendizagens das unidades anteriores. “E é aqui que a avaliação diagnóstica nessa transição ganha maior importância, porque é quando os professores vão conseguir identificar e mapear os diferentes progressos no grupo”, destaca Kátia. Por isso, segundo a educadora, uma boa avaliação diagnóstica precisa identificar os conhecimentos prévios que os estudantes trazem consigo sobre o objeto de conhecimento em questão; identificar em que ponto os estudantes apresentam dificuldades; e apoiar o professor a traçar a progressão das aulas a partir de conhecimentos e lacunas identificadas.

Como fazer a avaliação diagnóstica em 2021 

Rodrigo Padilha, professor de Ciências do Fundamental 2, mestre em Educação e consultor de NOVA ESCOLA, afirma que a primeira etapa de uma avaliação diagnóstica num momento atípico como o atual é conversar com os alunos no retorno, promovendo uma escuta das questões pessoais de cada um. 

“Entender quem estava e quem não estava conseguindo acompanhar as aulas e entregar as atividades pela própria fala do aluno é questão fundamental para a cooperação”, defende. Mas é preciso cuidado na escuta, orienta Rodrigo.

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Para ajudar os professores a planejarem suas avaliações diagnósticas, Rodrigo Padilha desenvolveu, a convite de NOVA ESCOLA, um modelo para avaliar a aprendizagem em Ciências do 6º ano. Mas o material pode ser usado em qualquer etapa ou disciplina, basta que o professor aplique nos locais indicados as habilidades específicas desenvolvidas e os objetivos esperados dos alunos. 

Clique no botão abaixo para acessar o modelo de avaliação diagnóstica produzida pelo professor Rodrigo Padilha.

BAIXE O MODELO DE AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA

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Por mais que o professor não concorde com as atitudes de certos alunos ou até de famílias no ensino remoto, a intenção não é julgar o erro, mas sim, mostrar o caminho para a recuperação parcial ou total dos conteúdos. “Se o aluno não entender a perda desses importantes conteúdos, não se esforçará para recuperá-los. O nosso papel é o de provocar essa responsabilidade através de uma escuta sincera e uma conversa dialógica”, reforça Rodrigo. 

A diversidade e a desigualdade que marcam os diferentes contextos escolares brasileiros também precisam ser consideradas na avaliação diagnóstica. Mas, independentemente do contexto, Rodrigo destaca pontos que devem ser contemplados na avaliação, questões que impactam nas informações obtidas pelo professor.

Autonomia do estudante: todo aluno tem uma capacidade de autonomia conforme a idade escolar. No ensino remoto emergencial muitos alunos não conseguiram acompanhar e entender as atividades propostas pela falta de interlocução. Não adianta querer que o aluno desenvolva uma responsabilidade que nunca foi cobrada na escola, já que a professora ou o professor sempre estavam ao lado para dizer o que tinha de ser feito, onde e como, além do acompanhamento em sala de aula.

Acesso e conhecimento digital: numa mesma turma há casos de alunos com acesso às plataformas e materiais digitais por meio de computadores individuais, alunos que dividiam o computador com outras pessoas da casa, alunos que acessavam as atividades pelo celular e alunos que não conseguiam acessar os materiais. Além da questão do acesso, com exceção de plataformas como PowerPoint, Word e similares, poucos tinham conhecimento digital amplo. Ser um nativo digital utilizando WhatsApp, Instagram e TikTok não transforma o estudante num conhecedor dos recursos digitais, ele precisa ser ensinado.

Questões emocionais e afetivas: muitos alunos foram deixados em casa durante este longo período pandêmico sem nenhuma supervisão devido a diferentes contextos familiares. O estudante aprende na interação, na aplicação do conhecimento e na troca entre os pares. Por mais que eles tivessem os pares de forma virtual, não tinham o acompanhamento com a intencionalidade do professor. Essas questões resultaram na falta de compromisso com as atividades propostas e num aumento significativo no número de faltas, levando a casos de evasão escolar. O aluno pode ter ficado mais exposto a diferentes situações familiares conflitantes, por exemplo, levando a episódios de desânimo e depressão.

Atividades não autorais: aumentou o número de casos de cópias de trabalhos encontrados na internet modificando apenas pequenas frases ou palavras. Em outras situações, parentes ou amigos fizeram a atividade pelo aluno. Na intenção de ajudar, essas ações promoveram um problema maior, gerando lacunas no aprendizado desses estudantes.

Para Kátia, apesar dos desafios, trata-se de uma boa ocasião para pensar maneiras alternativas de avaliar: ouvir relatos dos estudantes sobre como viveram o período, pedir que expliquem o que aprenderam, sugerir que compartilhem seus registros e suas anotações de como estudaram nesses meses. “Precisamos dar escuta ao que eles contam e ao que silenciam”, resume. Para Rodrigo, neste segundo semestre, com a volta das aulas presenciais ou híbridas, é importante fazer uma avaliação diagnóstica não para ver se o aluno tem ou não determinado conhecimento, mas sim, para saber o quanto ele mobiliza esse conhecimento em diferentes situações.


Para saber mais: 

Tutorial para o uso das planilhas de objetivos de aprendizagem do Instituto Reúna, desenvolvido por Renata Capovilla, cofundadora da Íntegra Educacional

Sistema de Avaliação da Educação Básica: documentos de referência

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