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Rede de Apoio: como colaborar com professores e alunos para planejar o ano

As relações afetivas cultivadas no espaço escolar permitem compartilhar angústias e, ao mesmo tempo, estabelecer laços em um cenário de grande insegurança, beneficiando toda a comunidade educativa

Ilustração digital simulando pintura manual de pessoas se ajudando a subir sobre formas geométricas abstratas.
Ilustração: Julia Coppa/NOVA ESCOLA

Após um ano e meio de pandemia, com tentativas de retorno parcial às aulas presenciais, desenha-se para o segundo semestre mais uma etapa de adequação no modelo de ensino. Impulsionados pelo avanço da vacinação, alguns estados já planejam a retomada quase integral do ensino presencial, enquanto outras redes propõem modelos híbridos. Qualquer que seja o modelo adotado, este vem carregado de dúvida e insegurança por parte de todos os envolvidos. 

“O retorno às atividades presenciais é permeado de questões que podem gerar medo e expectativas negativas”, afirma Mariana Lemes, professora de Geografia, vencedora do prêmio Educador Nota 10 e atualmente técnica curricular na Coordenadoria Pedagógica da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. 

Para ela, porém, as relações interpessoais cultivadas no espaço escolar podem proporcionar momentos para compartilhar angústias e, ao mesmo tempo, estabelecer laços de confiança em um cenário de grande insegurança, beneficiando estudantes, professores e funcionários.

Na avaliação de Joice Lamb, coordenadora pedagógica da EMEF Prof. Adolfina J.M. Diefenthäler, em Novo Hamburgo (RS), especialista em gestão escolar pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e consultora de NOVA ESCOLA para os conteúdos desta edição, é natural os professores sentirem-se sozinhos num momento tão atípico quanto o que atravessamos. Eles têm, principalmente, receio de não dar conta da demanda de trabalho. “Neste sentido, grupos de conversa, às vezes só para trocar ideia ou jogar conversa fora, são ferramentas importantes para pensar em outras coisas e ter novas ideias”, sugere.

Mariana lembra que o teórico inglês Andy Hargreaves verificou em suas pesquisas que as redes de apoio entre professores, as chamadas “culturas colaborativas”, são normalmente formadas de maneira espontânea, voluntária e imprevisível. Ou seja, são construídas nos encontros fortuitos que acontecem no espaço escolar, como os intervalos entre as aulas, nos minutos que antecedem as reuniões ou na correria da sala dos professores. Portanto, após tanto tempo privados desta vivência, é importante que no retorno se busque restabeler e fortalecer as articulações já existentes.

Além disso, segundo Mariana, muitos dos laços de apoio e colaboração entre os professores também surgem de ações conjuntas em busca de um objetivo comum. A partir delas, os profissionais têm a possibilidade de se conhecerem melhor e, assim, estabelecerem novas redes. “Mas essas ações são, também, mais efetivas quando realizadas de forma voluntária. Do ponto de vista da gestão, mais do que tentar controlar esse processo, é importante saber identificar e apoiar quando ações conjuntas surgem de forma espontânea no corpo docente”, afirma.

Ainda pensando em como a gestão escolar pode agir para apoiar e acolher os professores no retorno, é fundamental que haja sensibilidade para mais essa mudança de rotina na vida desses profissionais. No horário de trabalho, afirma Joice, tem de haver foco e tranquilidade nas tarefas que os professores têm a cumprir. “Faça esquemas, organize planilhas, organize tabelas. Porque neste momento muitos professores reclamam e muitas redes exageram na questão burocrática. E o professor se angustia com isso, porque ele não dá conta de fazer todos os registros”, identifica Joice. 

Para ela, é preciso pensar em maneiras de otimizar as tarefas burocráticas, utilizando o Google Drive, por exemplo, para que uma pessoa sozinha não tenha de fazer tudo. “O que o professor quer é isso, um trabalho que não seja repetitivo, um trabalho que não seja excessivamente burocrático, para que ele tenha tempo de planejamento, para que ele tenha tempo de olhar para o aluno”, afirma.

E os alunos?

Quando pensamos em redes de apoio para os estudantes, o cenário é ainda mais complexo. Para além de relações interpessoais entre os alunos, é necessário fomentar laços de confiança entre eles e os professores. 

Mariana sugere que se garantam momentos em aula para conversar com a turma e deixar que os estudantes expressem suas dúvidas e inseguranças sobre o retorno. “Laços de confiança entre professor e alunos têm impactos na educação escolar. Tendo isso em mente, é importante que o professor demonstre que se importa com a aprendizagem de cada estudante e que acredita no potencial da turma”, defende Mariana. 

Considerando as dificuldades de aprendizagem – que podem ter se intensificado durante a pandemia –, vale a pena aproveitar o retorno para propor dinâmicas que fortaleçam esses laços e o sentimento de competência dos estudantes. “Vínculos afetivos com os estudantes são um importante incentivo para o trabalho dos professores. Nesse sentido, as redes de apoio formadas com os estudantes contribuem também para a prática docente”, reforça.

Ainda pensando nos alunos, Joice lembra que muitos deles se organizaram espontaneamente durante o ensino remoto para se apoiarem nos estudos por meio de grupos no WhatsApp, por exemplo. 

Uma boa ideia é incentivar a manutenção e a formação de grupos de estudo que podem gerar troca e apoio diante da nova mudança de rotina. “Pode ter um professor, um mediador, um orientador, numa sala de discussão, para que eles possam falar o que estão sentindo. Acho isso muito importante”, pontua Joice. 

Considerando que a insegurança com o novo permeia os sentimentos a respeito do retorno às escolas, Mariana ressalta que, em primeiro lugar, é fundamental garantir ao máximo a segurança de todos na escola, seguindo à risca os protocolos e as recomendações para minimizar os riscos de contágio de covid-19 no retorno ao ensino presencial.

Dessa forma, profissionais e estudantes podem sentir-se mais tranquilos e, consequentemente, conseguirão interagir melhor uns com os outros. É importante também favorecer situações de diálogo sem direcionamento prévio para estudantes e professores.

Afinal, será uma etapa de reencontro para muitos. “Uma estratégia simples é garantir momentos para conversas livres, permitindo o surgimento de novas redes de apoio e fortalecendo antigos laços de confiança”, conclui a educadora.

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