Linguagens

Retrato, performance, intervenção: inspirações para as aulas de Arte

Com a volta dos alunos do Fundamental após o isolamento da escola, a sugestão é priorizar temas que estimulem a autorreflexão, o acolhimento e o olhar propositivo para o coletivo

Ilustração abstrata de aluna pintando ao seu redor.
Ilustração: Yasmin Dias/NOVA ESCOLA

O que produzir um retrato (ou autorretrato) pode ensinar para os alunos do Fundamental neste momento de incertezas, luto, medos e sonhos? Em especial agora, quando toda a escola se prepara para voltar à convivência presencial, mas ainda observamos altos índices de morte por covid-19 no Brasil, o papel da Arte na escola pode – e deve – extrapolar os limites curriculares ou da sala de aula. 

É com esse olhar que a professora Camila Rossato trabalhará com suas turmas dos anos finais do Ensino Fundamental. Vencedora do Prêmio Educador Nota 10 em 2019, Camila leciona para turmas do 6º ao 9º na EMEF Profª. Marina Melander Coutinho, localizada na capital paulista, onde o ensino em contexto híbrido foi retomado ainda no primeiro semestre. Sua rotina, então, divide-se entre os alunos do presencial e postagem de atividades no Google Classroom, além da assistência aos alunos do ensino remoto. 

Em um contexto de ensino remoto, a Arte permite partilhar inseguranças e incertezas, além de trazer um olhar de conforto diante da realidade, afirma a professora. Para os estudantes dos anos finais do Fundamental, dá a oportunidade de validar o repertório estético de cada um, reconhecendo seus valores, pensamentos e imaginários. A arte tem também o papel de promover o acolhimento, ainda mais necessário em momentos adversos, embora vista às vezes como algo distante da vida. 

Assim, os professores podem estimular os sentidos para a percepção de que somos rodeados pelas formas dos objetos, por construções que observamos, que existe arte nas conversas despretensiosas, na disposição de ouvir uma música nova ou no ato de simplesmente contemplar. “Acolher é dar abrigo, então devemos proteger como cada um sente e percebe a arte”, conclui Camila. NOVA ESCOLA ouviu a professora Camila para saber o que ela vai priorizar com suas turmas no segundo semestre. Confira:

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6º e 7º anos: Retrato e autorretrato para olhar para si e para o outro


Os gêneros artísticos do retrato e do autorretrato são ferramentas interessantes para aprofundar o olhar sensível dos alunos com relação a si mesmos e aos outros, em especial após meses de isolamento social e pandemia.


Na BNCC: As aprendizagens desenvolvidas estão descritas nas habilidades EF69AR01  e EF69AR07 da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) de Arte.

Objetivos de aprendizagem: Aprofundar o olhar sensível com relação a si e ao outro, considerando os gêneros artísticos retrato e autorretrato.

Como trabalhar na prática: O retrato e o autorretrato são gêneros que aparecem em diversos momentos da história da arte e dialogam com a contemporaneidade. Uma ação possível é trabalhar com retratos cubistas e a ideia de desconstrução da imagem. Os estudantes podem se autorretratar ou retratar um colega por meio do desenho, da palavra, da sobreposição de imagens, do uso de aplicativos e dos filtros do celular. A intenção é superar a imagem revelada no espelho e trazer os sonhos e pensamentos dos estudantes. O professor pode mediar dizendo que deseja que cada um revele como se vê interna e externamente.


Para saber mais:

Livro Grandes Mestres da Pintura Vol. 6 - Pablo Picasso (Coleção Folha)

As fotoesculturas de Maurizio Anzeri. O artista realiza intervenções em retratos diversos encontrados em sebos, revistas e jornais. Usando imagens de pessoas com as quais nunca teve contato, Anzeri borda e remodela histórias contidas em sua imaginação. Instagram: @maurizioanzeri

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Para os 8os e 9os anos


O tema escolhido é centralizar o papel da arte na melhora da vida das pessoas. Em tempos de tantas fragilidades, valorizar a potência criadora e o quanto isso agrega para viver em coletividade abrange qualquer linguagem que possa ser trabalhada. Afinal, afirma Camila, somos sujeitos do mundo e todos queremos uma vida com equidade de condições. A arte como elemento da vida pode ser fonte de reflexão e discussão de formas de atuação na sociedade.


Na BNCC: EF69AR03 e EF69AR06  

Objetivos de aprendizagem: Problematizar questões pessoais e coletivas por meio do pensar e fazer artístico.

Como trabalhar na prática: Peça aos estudantes que organizem ações que poderiam acontecer na escola ou no bairro. Pode ser uma performance tratando dos problemas que gostariam de solucionar no espaço escolar, uma intervenção convidando as pessoas a se manifestarem sobre suas insatisfações ou desejos, ou ainda, um sarau com espaço para a escrita criativa e a declamação de poesias. Todas as ações, claro, respeitando as normas e os protocolos sanitários. Cada ação pode ser mediada com um tema, justificativa e local para organização.


Para saber mais: 

Grupo Poro e suas intervenções urbanas: https://poro.redezero.org/

Coletivo OPAVIVARÁ! Opavivará! (opavivara.com.br)

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