Matemática e Geografia

Gráficos, mapas e projeções: como calcular e localizar as mudanças no clima

Aproveite os conhecimentos da Matemática e da Geografia para explicar as projeções de impactos climáticos para as turmas do Fundamental 2

Ilustração abstrata de menina pintando corais no fundo do mar.
Ilustração: Rafaela Pascotto/NOVA ESCOLA

A temperatura média da Terra aumentou, o nível do mar não para de subir, o degelo está cada vez mais intenso. Afinal, como os cientistas sabem disso? 

Mostrar para os estudantes um pouco do processo de coleta de informações e os saberes envolvidos na climatologia aproxima o fazer científico da garotada e ajuda a combater a desinformação. 


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Para tanto, é preciso recorrer a duas grandes áreas envolvidas no processo, a Matemática e a Geografia, essenciais para entender e fazer projeções sobre os efeitos das mudanças climáticas. 

A base dos dados que dá início a esse trabalho está no mundo real: são estações, balões e boias meteorológicas, aviões e navios, satélites, medidores de maré e outros sensores que medem variáveis, tais como precipitação, umidade do ar, temperaturas, nível do mar, área e volume de massas de neve e gelo, concentração de gases no ar e frequência e intensidade de eventos climáticos extremos. Hoje, esses dados são coletados em praticamente em todos os lugares do mundo e diariamente. 

No Brasil, por exemplo, há um importante ponto de medição: a Torre Alta de Observação da Amazônia, a maior da América Latina. A uma altura de 325 metros, equivalente a um prédio de 80 andares, a Torre coleta informações sobre metano, dióxido de carbono, ozônio e outros gases de efeito estufa. Com isso, os cientistas esperam compreender ainda mais a influência da Amazônia no clima global e os impactos da crise climática no ecossistema local. Até aqui, já conseguiram constatar o transporte de poeira do Deserto do Saara para a Floresta Amazônica. 

Pode não parecer, mas essas medições são rigorosas e elas, por si só, envolvem uma série de estudos. Já houve um caso em que os resultados de uma pesquisa foram invalidados porque os cientistas não levaram em conta a diferença de altura dos navios que coletavam as informações.

Partindo desses registros feitos ao longo de muitos anos, os cientistas do clima conseguem observar padrões e tendências locais, nacionais e mundiais ao compilar e processar todas essas informações usando recursos computacionais e modelos matemáticos sofisticados. 

Assim é possível observar, por exemplo, o espessamento da camada de gases de efeito estufa e, a partir disso, estudar e testar o que acontece com a temperatura da superfície conforme essa variável se altera. Outras modelagens ajudam a prever o que pode acontecer com cidades costeiras e ilhas com o aumento do nível do mar.

Compreender esse processo também ajuda a entender algumas confusões acerca da crise climática: “Sempre ouço frases como 'não existe aquecimento global porque não estou sentindo mais calor, está até fazendo mais frio'. Neste ano vi comemorações da neve no Sul do país, que é uma consequência das mudanças climáticas e poucas pessoas fizeram essa relação. Então é preciso desvincular a crise climática de necessariamente sentir mais calor e, além disso, compreender que quando se fala de alagamentos na cidade de São Paulo, por exemplo, não se pode dizer que tem a ver com mudanças climáticas. Tem de ficar claro o que é mudança climática e o que não é, mas que mesmo assim também é um problema”, explica a professora Cíntia Diógenes, bióloga e especialista em Ciências do Time de Autores de NOVA ESCOLA.

Estudando as mudanças climáticas a partir da Geografia e da Matemática

As pesquisas em torno da emergência climática permitem ampla abordagem a partir dos componentes curriculares de Geografia e Matemática com as turmas do 6º ao 9º ano. 

Os estudantes podem experimentar, na prática, a coleta de dados locais, como as variações de temperatura e de umidade relativa do ar em diferentes horários e ao longo de duas semanas. A partir desses dados, podem montar gráficos e um minirrelatório das observações, como se fossem enviá-las para uma pesquisa científica.

Também é possível convidá-los a analisar reportagens sobre eventos climáticos locais e debater se eles são consequências do aquecimento global ou se há outros motivos. “Nas conversas, vá questionando os estudantes: por que 2 graus centígrados para a gente não faz diferença, mas para a temperatura da Terra faz? Qual a relação entre as queimadas, os desmatamentos e o aquecimento global?”, orienta Cíntia. 

Na Matemática, especificamente, os estudantes podem trabalhar a interpretação e a criação de gráficos, a estatística e a probabilidade, e fazer projeções. Medidas como massa, volume e área também serão mobilizadas para entender como o derretimento de geleiras e calotas polares afeta o nível do mar.

“Pode-se trabalhar com todos os indicadores e a importância deles, porque a informação científica é essencialmente obtida por meio de métricas, de dados quantitativos”, destaca Pedro Roberto Jacobi, um dos organizadores do livro Temas Atuais em Mudanças Climáticas para os Ensinos Fundamental e Médio, da Universidade de São Paulo (USP), que também traz informações teóricas e dicas de práticas pedagógicas para desenvolver com os estudantes. 

Já a Geografia auxilia a compreender os fenômenos e ciclos naturais, a localizar as mudanças causadas pelo clima, a conhecer as diferentes matrizes energéticas, o histórico das relações diplomáticas entre os países e a refletir sobre os impactos concretos que as mudanças climáticas têm, por exemplo, para a agricultura e, consequentemente, para a vida das pessoas e o Produto Interno Bruto do Brasil.

“A Geografia não pode vir como uma matéria para decorar dados e informações sobre o mundo. Ela é primordial para fazer o estudante pensar e questionar essas informações, para refletir sobre o que ele pode fazer enquanto cidadão e compreender as conexões entre o local e o global”, diz Leandro Fabrício Campelo, professor de Geografia e membro do Time de Autores de NOVA ESCOLA.

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Mudanças climáticas na BNCC

Conheça as habilidades relacionadas ao tema nas áreas de Ciências Exatas (Matemática) e Humanas (Geografia)


HABILIDADES DE MATEMÁTICA (6º ao 9º ano)

6º ano 

EF06MA24 - Resolver e elaborar problemas que envolvam as grandezas comprimento, massa, tempo, temperatura, área (triângulos e retângulos), capacidade e volume (sólidos formados por blocos retangulares), sem uso de fórmulas, inseridos, sempre que possível, em contextos oriundos de situações reais e/ou relacionadas às outras áreas do conhecimento.

EF06MA31 - Identificar as variáveis e suas frequências e os elementos constitutivos (título, eixos, legendas, fontes e datas) em diferentes tipos de gráfico.

EF06MA32 - Interpretar e resolver situações que envolvam dados de pesquisas sobre contextos ambientais, sustentabilidade, trânsito e consumo responsável, entre outros, apresentadas pela mídia em tabelas e em diferentes tipos de gráficos e redigir textos escritos com o objetivo de sintetizar conclusões.

EF06MA33 - Planejar e coletar dados de pesquisa referente a práticas sociais escolhidas pelos alunos e fazer uso de planilhas eletrônicas para registro, representação e interpretação das informações, em tabelas, vários tipos de gráficos e texto.

7º ano 

EF07MA35 - Compreender, em contextos significativos, o significado de média estatística como indicador da tendência de uma pesquisa, calcular seu valor e relacioná-lo, intuitivamente, com a amplitude do conjunto de dados.

EF07MA36 - Planejar e realizar pesquisa envolvendo tema da realidade social, identificando a necessidade de ser censitária ou de usar amostra, e interpretar os dados para comunicá-los por meio de relatório escrito, tabelas e gráficos, com o apoio de planilhas eletrônicas.

EF07MA37 - Interpretar e analisar dados apresentados em gráfico de setores divulgados pela mídia e compreender quando é possível ou conveniente a sua utilização.

8º ano

EF08MA23 - Avaliar a adequação de diferentes tipos de gráficos para representar um conjunto de dados de uma pesquisa.

EF08MA27 - Planejar e executar pesquisa amostral, selecionando uma técnica de amostragem adequada, e escrever relatório que contenha os gráficos apropriados para representar os conjuntos de dados, destacando aspectos como as medidas de tendência central, a amplitude e as conclusões.

9º ano

EF09MA21 - Analisar e identificar, em gráficos divulgados pela mídia, os elementos que podem induzir, às vezes propositadamente, erros de leitura, como escalas inapropriadas, legendas não explicitadas corretamente, omissão de informações importantes (fontes e datas), entre outros.

HABILIDADES DE GEOGRAFIA (6º AO 9º ANO)

6º ano

EF06GE06 - Identificar as características das paisagens transformadas pelo trabalho humano a partir do desenvolvimento da agropecuária e do processo de industrialização.

EF06GE07 - Explicar as mudanças na interação humana com a natureza a partir do surgimento das cidades.

EF06GE08 - Medir distâncias na superfície pelas escalas gráficas e numéricas dos mapas.

EF06GE11 - Analisar distintas interações das sociedades com a natureza, com base na distribuição dos componentes físico-naturais, incluindo as transformações da biodiversidade local e do mundo.

EF06GE13 - Analisar consequências, vantagens e desvantagens das práticas humanas na dinâmica climática (ilha de calor etc.).

7º ano 

EF07GE06 - Discutir em que medida a produção, a circulação e o consumo de mercadorias provocam impactos ambientais, assim como influem na distribuição de riquezas, em diferentes lugares.

8º ano

EF08GE22 - Identificar os principais recursos naturais dos países da América Latina, analisando seu uso para a produção de matéria-prima e energia e sua relevância para a cooperação entre os países do Mercosul.

9º ano

EF09GE02 - Analisar a atuação das corporações internacionais e das organizações econômicas mundiais na vida da população em relação ao consumo, à cultura e à mobilidade.

EF09GE14 - Elaborar e interpretar gráficos de barras e de setores, mapas temáticos e esquemáticos (croquis) e anamorfoses geográficas para analisar, sintetizar e apresentar dados e informações sobre diversidade, diferenças e desigualdades sociopolíticas e geopolíticas mundiais.

EF09GE15 - Comparar e classificar diferentes regiões do mundo com base em informações populacionais, econômicas e socioambientais representadas em mapas temáticos e com diferentes projeções cartográficas.

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