Adolescência

Transição para o Ensino Médio: como ajudar os alunos do 9º ano

Se a evasão começa a assombrar, assumir que cada jovem é um sujeito com desejos e expectativas é o primeiro passo para mantê-los ligados aos seus sonhos (e às novas etapas da vida na escola)

Animação alternando entre retrato fotográfico e ilustrativo de alunos e professores do 9º ano do ensino fundamental.
Ilustração: Yasmin Dias/NOVA ESCOLA. Fotografia: Hans Georg/NOVA ESCOLA

A adolescência é uma fase suficientemente desafiadora. Amadurecer passa por se entender como sujeito, com seus próprios desejos e questões particulares para lidar. E a peleja de se reconhecer neste mundo não é só do jovem, mas também, da escola e dos educadores de assumir que um aluno é também alguém com medos, expectativas e uma bagagem sociocultural. 

Acolher a todos: o primeiro passo para amenizar o peso da transição 

A transição dos alunos dos Anos Finais do Fundamental para o Ensino Médio também tem características próprias que merecem atenção. Entre estas, o fantasma da evasão, mais comum nessa etapa, mas, segundo a diretora da Escola Estadual Conselheiro Ruy Barbosa, na capital paulista, Simone Galdino, o primeiro passo para atenuar o peso para os adolescentes é acolher a individualidade de cada estudante.

Essa não é uma missão qualquer, mas há dicas para torná-la palpável. “A primeira é a gestão da escola junto com os professores para que tenham sempre essa perspectiva do aluno. Ele não é um número na chamada. A escola tem relevância na vida daquele jovem, é preciso saber o que eles esperam dali, e isso passa por ouvi-los”, afirma Simone. 

Envolva a escola toda no apoio aos adolescentes

Medo de mudar de turma, medo de perder os colegas mais importantes, medo do mercado de trabalho, dificuldades com a quantidade de disciplinas e em acompanhar a turma, ansiedade, depressão, gravidez. Para um jovem, especialmente os mais vulneráveis, tudo pode ser empecilho para continuar, e continuar bem na escola. Uma mudança aparentemente pequena, como de um ano para o outro, pode comprometer profundamente os estudos.


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E se tudo pode representar um obstáculo a mais, e esse estudante certamente vai precisar de toda a escola para fazê-lo acreditar que é possível seguir em frente. “A gestão deve envolver toda a escola. Os professores precisam receber mais formação, mas é preciso valorizar o trabalho e o saber dos profissionais que mantêm aquele lugar limpo e adequado para a aula, das merendeiras – que, muitas vezes, preparam a única refeição que eles vão comer –, os auxiliares, que têm mais disponibilidade para se conectar com os estudantes do que os próprios professores”, afirma Simone. 

Reforce a atratividade da escola e das aulas 

A diretora argumenta que todo o ambiente escolar precisa ser acolhedor para o jovem. Ou seja, as aulas precisam ser mais atrativas e criativas do que o que o livro didático oferece, mas o cuidado com prédio, os espaços de escuta dos alunos, com os psicólogos e pedagogos, assim como a parceria com a família, precisam estar acessíveis para que os alunos se sintam seguros e confortáveis. Uma dica é promover encontros setoriais e colaborativos entre estudantes, família e trabalhadores.

Luto e ansiedade: novos desafios da transição na pandemia 

A pandemia adicionou novas dificuldades a essa fase complexa. A diretora Simone conta que muitos alunos estão chegando mais ansiosos, lidando com perdas duras. Se lá nos Anos Iniciais as crianças estavam afoitas pelo retorno, nos Anos Finais, afirma Renata Borges, consultora de NOVA ESCOLA e especialista nas etapas de transição, os jovens estão desinteressados em voltar para uma escola que eles não sabem se dará conta das suas expectativas.

Autoconhecimento e protagonismo para pensar o que se quer da escola 

Um dos alicerces para trabalhar esses aspectos, aponta Simone, é promover espaços de autoconhecimento com os jovens. “Eles precisam, antes de tudo, sentir-se seguros consigo mesmos e compreender que possuem recursos para lidar com as mudanças, com o novo, com os desafios do futuro, e que a escola está ali para apoiá-lo, e não como um entrave.”

Na mesma linha, aulas de revisão e uma avaliação crítica dos estágios em que cada um está no aprendizado não podem ficar de lado. Assim como o esforço em promover um ambiente escolar livre de agressões físicas e verbais, bem como do bullying e ciberbullying.

“Falamos muito em dar protagonismo ao aluno. Como fazer isso? Bem, não há fórmula mágica, mas se reconhecemos o aluno como um sujeito que tem desejos, senso crítico, capacidade de lidar com as mudanças, então talvez a resposta venha deles mesmos. Comece pela pergunta 'o que vocês querem da escola?' Querer algo nos dias de hoje pode nos levar longe”, garante a diretora.

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