História

Sugestão de Atividade: Rainha Nzinga, mulheres africanas e resistência

Conhecida por muitos nomes, a personagem histórica foi símbolo da resistência à escravidão negra em Angola e amplia a percepção dos alunos sobre a atuação de grupos historicamente marginalizados, como as mulheres negras

Retrato ilustrado da rainha Ginga.
Ilustração: Yara Santos/NOVA ESCOLA

Aprender História pela ação das personagens que a fizeram é um caminho interessante para mobilizar o interesse dos alunos por meio da empatia que as figuras que realizaram feitos relevantes provocam nos estudantes. Quando o assunto é África e a história de seu povo e suas resistências, torna-se ainda mais importante tirá-las da invisibilidade. 

A Rainha Njinga é um símbolo da resistência africana à escravidão por não ter se curvado perante o rei português. “Ela falou de igual para igual, deixando claro que seu povo não seria subjugado facilmente, não no seu reinado”, conta a professora de História Ruhama Sabião, que leciona para as turmas do 6° ao 9° ano na Marista Escola Social Santa Mônica, em Ponta Grossa (PR), e é autora do plano de aula A rainha Njinga e as resistências africanas à dominação portuguesa

Apesar de não ter conseguido impedir a escravização do seu povo, a rainha era uma ótima negociadora, pois utilizava estratégias de convencimento, como a religião e a cultura, para construir acordos que diminuíssem o tráfico de escravizados.

Nzjinga, Nzinga, Ginga... a rainha tinha muitas formas de ser chamada, inclusive pelo seu nome de batismo no catolicismo, Anna de Sousa. E como lembra Ruhama, muitas Njingas levantaram-se ao longo da história, não somente resistindo às diversas formas de escravidão, mas ousando se aventurar em territórios até então ocupados somente por homens, brancos e elitizados. “Resistir é um ato de coragem, seja no esporte, na música, na universidade ou na vida social, as várias Njingas representam uma bandeira e deixaram o legado de que a luta é possível e pode ser ganha”, afirma a professora. 

Ruhama conta, ainda, que a Rainha Njinga chamou sua atenção desde a primeira aula sobre ela na disciplina de História da África, ainda na universidade. “Ali eu soube que não poderia guardar a história dela somente para mim, que eu faria questão de que todos os meus futuros alunos a conhecessem”, afirma. 

“Esse plano de aula é a materialização de uma vontade, como mulher e como historiadora, de que todos os alunos, mas, principalmente, as alunas, conheçam outras vozes e histórias que formam a nossa identidade. Elas nos dão força e coragem para resistir e estão além dos heróis emoldurados e eternizados na nossa memória, mas que, muitas vezes, estão tão longe de quem nós somos”, conclui a professora. 

Em Angola ou no Brasil, as descendentes de Njinga e das africanas que vieram para o Brasil são resistência. Por isso, Ruhama elencou outras dez mulheres para conhecer além da Rainha Njinga, cujas histórias podem ser trabalhadas em sala de aula: 

10 mulheres para conhecer além da Rainha Njinga:

Tia Ciata (BR) - música

Lélia Gonzales (BR) – universidade/política

Aída dos Santos (BR) - esporte

Tereza de Benguela (BR) – resistência à escravidão/política

Maria Felipa de Oliveira (BR) – resistência aos portugueses/política

Maria Ruth Neto (ANG) – política

Ana Dias Lourenço (ANG) - política

Isabel Guialo (ANG) - esporte

Luzia Inglês Van-Dúnem (ANG) - política

Sarhai Costa (ANG) – arte

Saiba Mais: Projeto Biografias de Mulheres Africanas, da UFRGS

divisória de atividade

Atividade: A rainha Njinga e as resistências africanas


Indicado para: 7º ano

Material: Papel sulfite, lápis, giz de cera e canetas hidrográficas.

Modelo da HQ disponível aqui

Na BNCC: EF07HI14


PASSO A PASSO

1. Com os alunos divididos em duplas, explique o contexto histórico do qual a aula se trata, o século 17, mas também, a personagem central que auxilia no entendimento dessas resistências: a rainha Njinga, da atual Angola. À época, ela era governante do reino de Ndongo e também comandava o Estado vizinho, Matamba. A rainha governou de 1624 a 1663 e foi protagonista das chamadas guerras angolanas.

2. Instigue os alunos a pensarem no que significa resistir, o que pode ocorrer com atitudes físicas, mas também, com expressões culturais e artísticas.

3. Peça a eles que tragam exemplos atuais de resistência, como o movimento feminista, o indígena e o sem terra, e os motivos pelos quais esses grupos resistem.

4. Apresente a imagem abaixo para que os estudantes a analisem e indiquem os elementos presentes nela.

Homens jogando. Augustus Earle, 1824.
Homens Jogando. Augustus Earle, 1824. Reprodução: Wikimedia Commons

PONTO DE ATENÇÃO: Entender a palavra “resistir” inicialmente fora de um contexto específico é essencial para entender os contextos em que a resistência é inserida e ressignificada. De acordo com o Dicionário Michaelis, a palavra “resistência” tem os seguintes significados: 

“1. Ato ou efeito de resistir; 2. Capacidade que uma força tem de se opor à outra; 3. Capacidade que o ser humano tem de suportar a fome e a fadiga; 4. Defesa contra uma investida; 5. Recusa do que é considerado contrário ao interesse próprio; 6. Não aceitação da opressão; 7. Qualidade de quem é persistente [...]”.

Por isso, eles devem identificar se resistem a algo a partir desses significados formecidos pelo dicionário. Então, responder se o que os homens estão fazendo na imagem é uma forma de resistência; caso eles identifiquem, o docente deve reforçar que naquele período as manifestações culturais africanas eram proibidas, não só a capoeira, mas também as religiões, por exemplo. Desta forma, se eles não identificarem outras formas de resistência, o docente pode citar algumas da atualidade, como na cultura afro-brasileira, com os turbantes utilizados, as religiões, as manifestações culturais e religiosas; na cultura indígena, as línguas nativas que são passadas de geração em geração e que estão sendo extintas, as terras indígenas, a inserção dos indígenas nas universidades; no movimento feminista, a luta pela afirmação dos direitos das mulheres, a conscientização acerca dos estereótipos que reforçam a desigualdade de gênero etc.

5. Ao deixar evidente o que é resistência, mostre aos alunos como os povos africanos resistiram à escravidão, desde o século 17 até a atualidade, em que os resquícios do sistema escravista tão instaurado no Brasil permanecem em alguns setores. Para isso, será utilizada a figura da rainha Njinga. Inicialmente, o sucessor de seu pai, Ngola Mbande Kiluanji, foi o irmão Ngola Mbande, que não tinha as mesmas habilidades e destreza para negociações e diplomacia como Njinga. Por isso, quando ele morreu, em 1624, logo Njinga toma posse e governa até 1663. Por ter habilidades não só de diplomacia e negociações, mas também para guerrear, a rainha Njinga tem várias representações, assim como diversos nomes atribuídos. Em seus acordos com Portugal, Njinga alegava conversão ao cristianismo, por isso, utilizava também roupas de estilo europeu-cristão, e com o batismo no catolicismo teve o nome alterado para D. Anna de Sousa. Porém, sua vida toda foi inconstante, pois mudava de roupas, religiões e costumes, de acordo com as suas necessidades e interesses. A rainha tornou-se um mito em Angola por ter defendido o país das invasões portuguesas e lutado nas guerras angolanas.

À esquerda: Anna de Sousa (para a obra Zhinga, reine d'Angola), Jean-Louis Castilhon, 1796. Reprodução: Wikimedia Commons. À direita: Estátua da rainha Njinga em Luanda, erguida em 2002. Fotografia: Erik Cleves Kristensen/Wikimedia Commons
À esquerda: Anna de Sousa (para a obra Zhinga, Reine d'Angola), Jean-Louis Castilhon, 1796. Reprodução: Wikimedia Commons. À direita: Estátua da rainha Njinga em Luanda, erguida em 2002. Fotografia: Erik Cleves Kristensen/Wikimedia Commons

6. Questione os alunos: De acordo com a legenda, quem são as duas mulheres representadas? Conforme o nome atribuído a elas, você acha que pertencem a quais lugares? Quais ocupações você acha que elas têm? Quais as semelhanças e as diferenças entre as duas? 

PONTO DE ATENÇÃO: Deixe claro que todas as imagens referentes a Njinga são representações, ou seja, não são como a rainha era de fato. Na primeira questão, se os alunos não perceberem que se trata da mesma pessoa, o professor deve esclarecer isso e partir para a próxima questão, que se apresenta como um complemento da primeira. Na segunda questão, então, com base nos nomes das legendas, esclareça que se trata da mesma pessoa, mas que sua trajetória e as necessidades de mudança relegaram a ela diferentes nomes, como o português Anna de Sousa. Além disso, pode ser chamada de rainha Ginga, Nzinga, Nzinga Mbandi, Ngola Nzinga, Nzinga de Matamba e Ann Nzingha, entre outras denominações. Na terceira questão, os estudantes devem perceber que mesmo sendo rainha, Njinga também era uma guerreira, e por isso foi uma das protagonistas da resistência dos povos africanos. Na última questão, as principais semelhanças e diferenças que podem ser percebidas nas roupas, pose e também na diferença de tempo de uma imagem para a outra, é que realmente se trata de diferentes períodos e pessoas que produziram, pois a primeira foi produzida em 1769, por um europeu, e a segunda, para rememorar a figura da rainha na capital da Angola, Luanda, já em 2002.

7. Leia para os alunos a história em quadrinhos de Njinga, das páginas 10 a 28, e, se possível, mostre as imagens presentes no livro, que auxiliam a se identificar com a História.

Há outra representação sobre a rainha Njinga produzida pela Unesco, em 2014, e que vale a pena conhecer. Que tal ouvir alguns trechos desta História e pensarmos juntos algumas questões?
Há outra representação sobre a rainha Njinga produzida pela Unesco, em 2014, e que vale a pena conhecer. Que tal ouvir alguns trechos dessa história e pensarmos juntos algumas questões?

8. Com base na HQ, questione os alunos: qual imagem de Njinga vista antes mais se adapta ao que foi descrito sobre a rainha? Como a história de Njinga nos ajuda a entender a história de resistência africana às invasões portuguesas?

PONTO DE ATENÇÃO: Espera-se que os alunos percebam que a primeira imagem apresentada representa a visão europeia de Njinga, tanto em relação às roupas quanto à postura que uma rainha deveria ter naquele período. Mas, mesmo que em alguns momentos ela tenha se apropriado da cultura europeia, o seu perfil de guerreira é o mais descrito nas histórias e nas representações sobre ela.

Sua história auxilia de forma direta a perceber como os africanos resistiram não só com as guerras travadas contra os portugueses em Angola, mas, também, resistindo à dominação religiosa e cultural. Além disso, a figura feminina forte e heroica contribui para a desconstrução de uma história que privilegia os grandes homens.

9. Convide os alunos para, em duplas, escreverem uma pequena história em quadrinhos relatando as principais características da rainha e como sua história nos ajuda a compreender o contexto no qual ela vivia. 

PONTO DE ATENÇÃO: Deixe claro que a proposta é diferente da que foi contada a eles pelo livro da Unesco. Agora, eles terão de falar sobre suas características, ou seja, contar sobre a personalidade da rainha, como ela se portava ante os inimigos, sua família e seu povo. Dessa forma, espera-se que os alunos percebam a figura de Njinga como uma das protagonistas na resistência, identificando os aspectos da personagem que mostram a resistência travada pelos africanos.

Utilize o modelo para a criação da HQ disponível aqui.


Para saber mais: 

BRASIL. Resistência negra à escravidão. Biblioteca Nacional Digital Brasil, 2019. 

FONSECA, Mariana Bracks. Nzinga Mbandi e as guerras de resistência em Angola. Século 17. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-graduação em História Social, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. USP: São Paulo, 2012.

MARQUESE, Rafael de Bivar. A dinâmica da escravidão no Brasil : Resistência, tráfico negreiro e alforrias, séculos 17 a 19. Novos estud. - Cebrap, São Paulo, n. 74, mar. 2006.

WIESER, Dóris. A Rainha Njinga no diálogo sulatlântico : Género, raça e identidade. Iberoamericana, n. 17, v. 6, p. 31-53, 2017.

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