Para trabalhar com os alunos

Trabalhe o poema-piada Os sapos com a garotada

O texto de Manuel Bandeira debocha dos parnasianos. Utilize-o para despertar a curiosidade da turma sobre o modernismo

"Os Sapos", de Manuel Bandeira, invadem os pisos superiores do Theatro Municipal.
Os Sapos, de Manuel Bandeira, invadem os pisos superiores do Theatro Municipal. Ilustração: Clara Gastelois/NOVA ESCOLA

Dentre todas as produções modernistas, existe uma que prima por condensar em poucas palavras o espírito dos intelectuais dessa época, a crítica ao parnasianismo e a proposta dessa revolução artística e cultural: é o poema Os Sapos, de Manuel Bandeira. 

Escrito em 1918, o texto foi lido pelo poeta Ronald de Carvalho na Semana de Arte Moderna de 22, entrecortado por vaias do público. Se a recepção naquela época foi pouco calorosa, nos dias de hoje o poema-piada que se apropria das rígidas regras parnasianas para debochar dos autores desse movimento é considerado um clássico da literatura brasileira.

"Os estudantes costumam associar a poesia ao que é considerado bonito e sentimental. Quando apresentamos para a classe um poema que fala de sapos e que é irônico, a aula desemboca no estranhamento, algo que queriam os modernistas", explica Dayse Mara Ramos da Silva, professora do curso de Letras no Instituto Singularidades.

Essa foi justamente a experiência de Jardelina Passos, professora de Língua Portuguesa do 6° ano, no Colégio Anchieta, em Salvador. "O poema engajou a turma. Os alunos acharam muito engraçado e ficaram curiosos para saber mais sobre esses interlocutores e sobre o contexto da obra", diz.  

Jardelina trabalhou o texto a partir do livro A Turma do Sítio na Semana de 22 - Uma aventura modernista, Marcia Camargos (Ed. Globo), em que os personagens do Sítio do Picapau Amarelo presenciam as apresentações do evento, inclusive a leitura de Os Sapos. Incluir indiretamente Monteiro Lobato (1882-1948), crítico ferrenho dos modernistas, também abre campo para discutir mais essa intertextualidade e a contribuição do modernismo para que tal conexão possa ser feita hoje.

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Atividade: leitura compartilhada

Confira como trabalhar o poema-piada  Os Sapos com a turma do 6º ano


Indicado para: 6º ano 

Na BNCC: EF69LP44, EF69LP46, EF69LP48, EF69LP50 e EF67LP27


PASSO A PASSO

1. Leia com a turma. Crie momentos de leitura compartilhada para ler A Turma do Sítio na Semana de 22 - Uma aventura modernista e discutir a narrativa com os estudantes. Conte para eles sobre o evento e sobre o modernismo conforme a leitura avança e os artistas são citados, e alterne com propostas de pesquisas sobre o tema a serem feitas pelo grupo.

2. Dê nome aos sapos. No livro, Emília e seus amigos assistem à declamação de Os Sapos no Theatro Municipal e o livro de Marcia Camargos apresenta na íntegra o poema (que não é de domínio público, mas também, pode ser acessado livremente aqui). Leia o poema com a turma pela primeira vez e pergunte o que os alunos imaginaram e sentiram. Depois, vá perseguindo os sapos: o que diz o sapo-boi? O que o sapo-tanoeiro defende? Quem o sapo-cururu representa? O objetivo é que os estudantes compreendam a ironia contida no texto, mesmo que só aos poucos entendam o que significa cada escola literária e o embate entre elas, e que vençam possíveis medos de ler e interpretar poemas, porque mesmo não entendendo os pormenores de primeira, podem captar o sentido geral. 

3. Aprofunde a discussão. O poema de Bandeira tem um vocabulário pouco usual que pode render pesquisas no dicionário e debates entre os estudantes. Também é possível aproveitar a teoria levantada pelo texto, como termos cognatos e consoantes de apoio. Propor que os alunos se aventurem a pensar que rimas ricas conseguem formar a partir de palavras do poema pode ser um jeito divertido de estudar o conceito. 

4. Atualize o debate. A estrofe Que soluças tu, / Transido de frio, / Sapo-cururu / Da beira do rio… encerra o poema com essa menção que desperta a memória afetiva infantil e valoriza a cultura popular. Pergunte aos estudantes o que eles acham de ter essa canção popular (Sapo-cururu, na beira do rio/ Quando o sapo canta/ Ó maninha, é porque está com frio) registrada em um dos principais poemas da literatura brasileira e que músicas atuais eles gostariam de ver eternizadas em um poema. Já os versos A grande arte é como / Lavor de joalheiro podem ser um caminho para debater o que os alunos definem como arte em comparação aos parnasianos. Outra ponte possível é associar o deboche do poema de Bandeira com os memes que circulam pela internet: o que veem de semelhança? Como seria a versão meme desse poema?

5. Proponha uma encenação. Adapte o texto do livro para um roteiro de teatro em que os estudantes poderão encenar o percurso dos personagens pela Semana de 22 e se aproximarem da experiência que foi participar do evento.

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