4 dicas para preparar boas aulas de História Antiga
Do estudo da BNCC à busca de boas referências, para levar o tema para a sala de aula com qualidade
Idade das cavernas, Egito, Mesopotâmia, Grécia e Roma. Esse costuma ser o roteiro de viagem que a escola usa ao visitar a chamada história antiga - que, na definição consagrada a partir do século 18 (muito usada até hoje na escola), abarca um período que vai do surgimento das primeiras civilizações até o ano 476 d.C., com a queda do Império Romano do Ocidente.
Mas será que esse roteiro ainda faz sentido? Por que continuar estudando as primeiras civilizações, tão distantes do nosso tempo? Encontrar respostas para essa questão é uma tarefa árdua. Prova disso foi o processo de construção da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) de História. A primeira versão do documento, apresentada em 2015, praticamente excluía a história antiga das salas de aula, o que gerou uma onda de críticas por parte de especialistas e profissionais da Educação. Depois de intensos debates e negociações, o texto final acabou por manter os conteúdos sobre esse período.
Mas essa é só a primeira parte da discussão. Partindo da premissa de que esses conteúdos são obrigatórios, como trabalhá-los de maneira interessante e atual?
O desafio do professor consiste em entender quais conteúdos devem entrar no planejamento e como colocar a sala de aula em sintonia com os avanços da pesquisa científica. Para ajudar você, NOVA ESCOLA preparou cinco dicas que vão abrir caminhos para tornar essa viagem no tempo muito mais rica:
1. Entenda o que a BNCC diz sobre o assunto
A solução encontrada pelos formuladores do documento para acomodar a história antiga na disciplina foi concentrar as habilidades no 6º ano, de forma articulada com outros conteúdos. Duas unidades temáticas são destinadas à História Antiga: A invenção do mundo clássico e o contraponto com outras sociedades e Lógicas de organização política. Nelas, a proposta não é ensinar sobre cada grande civilização, mas ajudar os alunos a analisar os fatos históricos do período, relacionando-os com outros momentos. Abaixo, separamos uma habilidade que ilustra essa pretensão do texto:
(EF06HI09) Discutir o conceito de Antiguidade Clássica, seu alcance e limite na tradição ocidental, assim como os impactos sobre outras sociedades e culturas.
Para o professor José Maria Neto, doutor em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e pós-doutor em Educação pela Universidade Federal de Sergipe (UFSE), a opção da Base pelos diálogos entre o mundo antigo e a sociedade atual, e entre civilizações de diferentes partes do planeta, foi uma saída inteligente e em linha com o atual estágio da pesquisa e o ensino de história.
2. Busque universidades e grupos de pesquisa
De acordo com Maria Cristina Kormikiari e Vagner Porto, do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP, os livros didáticos não ajudam muito. Na avaliação deles, os materiais tendem a reproduzir visões desatualizadas sobre a Antiguidade. Exemplo disso são as publicações que abrem muito espaço para as cidades de Atenas e Esparta, mas desconsideram a existência, na mesma época, de cerca de 1.200 cidades em torno do Mar Mediterrâneo.
Para contornar esse problema, uma possibilidade é procurar universidades próximas que ofereçam grupos de pesquisa e estudo. Maria Cristina diz que há um esforço intenso por parte da academia nesse sentido. “Não sei se ainda está faltando um passo, mas sei que do lado das universidades, se compararmos com épocas anteriores, em que uma pesquisa acabava ficando mais fechada, avançamos muito”, diz.
A internet também é um auxílio e tanto nessas horas. Grande parte do que é produzido pelas universidades pode ser encontrada pelo Google Acadêmico ou na plataforma SciELO. Você pode também partir da lista de recomendações contida nesta caixa.
3. Aposte em recursos multimídia
O professor Vagner Porto acredita que os professores da Educação Básica têm se esforçado para levar ludicidade às aulas, o que, de acordo com ele, faz com que as crianças se interessem mais pelos assuntos. Isso ocorre com o uso de histórias em quadrinhos, jogos de RPG e, especialmente, novas tecnologias.
Pensando nisso, o Laboratório de Estudos sobre a Cidade Antiga (Labeca), da USP, conta com conteúdos em 3D, como visitas às antigas Casa Grega e Casa Romana, além de jogos interativos. “É importante que o professor trabalhe as diferentes maneiras de viver da Antiguidade e estabeleça conexões com o presente”, sugere o especialista. As indicações estão na lista de referências desta caixa.
4. Aproveite a arqueologia
De acordo com a pesquisa de Maria Cristina e Vagner Porto, uma área acadêmica que ainda é pouco explorada nos livros didáticos é a arqueologia. Segundo eles, os livros abordam a questão de forma equivocada, trabalhando imagens e materialidade de maneira meramente ilustrativa e, com isso, perdem a oportunidade de mostrar aos estudantes o potencial desses documentos para a formação do conhecimento sobre a Antiguidade. Este plano de aula de NOVA ESCOLA, por exemplo, mostra como se debruçar de verdade sobre a arqueologia.
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