Para usar com as crianças

Em casa: como engajar os pequenos em atividades físicas

Confira orientações para trabalhar os movimentos corporais de crianças e bebês no contexto doméstico

Geralmente, as crianças gostam de brincar em círculo, girando e rodando de mãos dadas. Ilustração: Pedro Hamdan/NOVA ESCOLA

Para engajar bebês e crianças em uma atividade física, é preciso que esta tenha contexto e ludicidade. É isso que torna o momento mais prazeroso e amplia suas oportunidades educativas. Durante o isolamento social, as propostas também precisam considerar a realidade das famílias e os espaços e materiais disponíveis no contexto doméstico.

De acordo com Marcos Santos Mourão, selecionador do Prêmio Educador Nota 10 e formador do Centro de Formação da Escola da Vila, em São Paulo (SP), na Educação Infantil as atividades físicas precisam ir além de meramente pedir que as crianças copiem gestos e movimentos, ou de qualquer atividade baseada apenas em como um adulto se exercitaria. “Atividades assim não reconhecem a cultura da infância, e denotam aos pequenos que esse período de sua vida não passa de uma imitação do que acontece no contexto adulto”, explica.

O especialista reafirma que a demonstração por si só não é ruim. O que importa é o contexto e o significado que a prática traz, e que nela haja espaço para que as crianças personalizem a atividade, por exemplo, acrescentando elementos de que ela gosta, e que possam envolver a cultura do território e da comunidade, como a representação de folclores ou histórias locais.

Envolver sons, imagens e luzes também traz mais significado para as atividades, bem como pensar em diferentes propostas de movimentos, como os giros e rodas, que trabalham a visão periférica e tridimensional, e a noção espacial.  

“Criança gosta de girar e brincar em círculo. Então pensar em oferecer propostas de exploração do próprio corpo em diferentes giros, no lugar ou para se deslocar no espaço, e também em grupo, como as brincadeiras de roda”, recomenda o educador.

Mas nem todo movimento corporal precisa ser expansivo. Outras atividades, mais contidas e organizadas, também incentivam o uso do corpo e permitem que as crianças encontrem acolhimento. Isso aparece nas montagens de ambientes com caixotes e cabanas, usando lenços e tecidos, para que se sintam envolvidas, e em momentos de brincadeiras com blocos, montagens e leitura.

“É interessante equilibrar as duas coisas, porque há a questão emocional do recolhimento, de se sentir mais próximo de si mesmo. E isso pode ser estimulado dentro de uma proposta lúdica”, explica Marcos. 

O movimento corporal dentro de casa

Em tempos de isolamento social, as propostas de atividade física precisam levar em consideração a rotina das famílias e as possibilidades de espaço e de materiais disponíveis para cada criança.

Por isso, propor exercícios que usem apenas os corpos pode ser um caminho. É o caso da massagem, do alongamento e da matroginástica, uma atividade de contato que combina movimentos e pesos corporais de adultos e crianças para que eles realizem os exercícios em conjunto.

“E não precisa ser nada muito longo. Podem ser atividades que caibam no intervalo de afazeres domésticos e do trabalho”, afirma Isabel Porto Filgueiras, professora dos cursos de Mestrado e Doutorado em Educação Física da Universidade São Judas.

Há ainda a oportunidade de valorizar o repertório de brincadeiras da família, pedindo para a criança telefonar para alguém que possa ensinar uma brincadeira da infância a ela, e fazendo as adaptações necessárias para que ela possa ocorrer em casa. “Isso trabalha a questão dos laços, de quanto estão sentindo falta de outras pessoas da família”, explica a professora.

Mas também é importante propor exercícios que as crianças possam realizar sozinhas, caso não tenham outras crianças na casa, para dependerem menos da rotina dos adultos e trabalharem sua autonomia. É o caso de atividades como pular amarelinha feita com fita adesiva no chão, fingir ser um carro, tentar andar pela casa em um pé só, e dançar ao som de sua música favorita.

Também vale sugerir que as famílias disponibilizem materiais  não estruturados que possuam em casa, como papel, caixas, tecidos e sucatas em geral. A ideia é não direcionar a atividade, e deixar que os pequenos descubram as possibilidades que esses objetos oferecem.

“A brincadeira costuma começar com alguém pedindo para a criança fazer algo. Mas precisamos dar espaço para o tédio, para que ela fique sem ideia do que fazer sozinha. Isso é rico, porque é aí que a imaginação toma conta”, diz Marcos.



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