Que tal reabrir o parquinho? Quatro estratégias para o “brincar” na pandemia
Sugestões com materiais de largo alcance e até a abertura da área externa da creche às famílias podem ajudar a valorizar esse direito
Mesmo antes de serem estabelecidos, pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), os direitos de desenvolvimento e aprendizagem das crianças, o brincar já era visto como ponto essencial da cultura da infância. Não existe criança que não goste de brincar — sozinha, acompanhada, em espaços fechados ou abertos. Com o fechamento das creches e escolas em decorrência da pandemia de covid-19, muitas delas perderam, porém, seu espaço e seus parceiros de brincadeiras.
“Falar sobre criança é falar sobre brincadeiras. O bebê brinca com o corpo da mãe, com o próprio corpo, com objetos e depois brinca com parceiros”, comenta Karina Rizek, consultora da Avante Educação e Mobilização Social e Formadora da Escola de Educadores. Karina ressalta também que o brincar inclui, por excelência, a escolha da criança: quando, com quem, com o que e do que vai brincar, sendo uma situação de interação com o mundo.
Pensando nisso, a Creche Baroneza de Limeira, em São Paulo (SP), está trabalhando em iniciativas para assegurar que as crianças possam usufruir desse importante direito. “Muitas coisas podem ser continuadas em casa para que elas tenham uma boa infância e exerçam os seis direitos. Conversamos com as famílias, coletiva e individualmente, e explicamos que as crianças aprendem e se desenvolvem pelas experiências lúdicas”, comenta Ceila Pastório, diretora pedagógica da creche.
Além de orientar os pais e responsáveis sobre como montar um espaço em casa, a creche abre as portas para que eles possam levar seus filhos para brincar nos espaços abertos. Instituição filantrópica conveniada à rede municipal de São Paulo, a Baroneza de Limeira conta com vários ambientes, como quadra esportiva, parque, pátio, horta e espaço de animais (se você ficou curioso para conhecer o lugar, esta caixa mostra como a equipe de lá está se preparando para reabrir definitivamente, quando for possível). “Já abrimos a creche em um sábado só para uma criança porque ela pediu isso de aniversário”, diz Ceila. Além disso, as crianças também recebem um kit de materiais. “As mães relatam que após irem à escola, as crianças se emocionam tanto que querem continuar fazendo aquelas brincadeiras em casa. A creche é um espaço importante e que faz sentido para elas, e as crianças não requerem tanto da mãe e do pai quando estão lá porque já conhecem o lugar e brincam sozinhas”, ressalta a diretora.
Para ajudar você a pensar sobre como fazer isso na sua escola, veja abaixo quatro dicas de como valorizar o brincar durante o período da quarentena. Elas foram colhidas por NOVA ESCOLA de especialistas e da experiência relatada por Ceila.
Abertura da creche para brincadeiras no espaços abertos
Caso a creche ou escola tenha um espaço externo e queira realizar essa iniciativa, o primeiro passo é verificar com a rede de ensino a possibilidade de abrir as portas para receber a comunidade escolar sem causar aglomeração. O diretor deve manter uma agenda para marcar com antecedência quais famílias visitarão a escola em cada dia e horário, devendo as crianças sempre ser acompanhadas por um responsável. Lembre as famílias que elas pode usar o espaço (assim como fariam em um parque), mas que não haverá um educador para acompanhar as crianças. Cada família deverá levar a própria água em uma garrafa, usar máscara e higienizar as mãos com álcool em gel.
“Essa é uma forma interessante de fortalecer a parceria família-escola, colaborar para o bem-estar da criança e para sua aprendizagem, pois uma criança que não está bem psiquicamente não aprende da forma que poderia aprender”, comenta Mônica Samia, coordenadora do Programa de Educação Infantil da Avante Educação e Mobilização Social.
Distribuição de kits de materiais
A creche pode organizar kits com folhas sulfite, lápis de cor, giz de cera, massinha de modelar e outros materiais disponíveis na escola para bebês e crianças terem a oportunidade de utilizá-los, não só nas atividades propostas remotamente pelos professores, mas em explorações livres. “A função da brincadeira não pode ser reduzida à aprendizagem. A brincadeira não tem de ter um objetivo pedagógico. Ela em si gera aprendizagem, mesmo que não haja intenção. E a aprendizagem que surge disso é de qualidade”, diz Mônica.
Convide as famílias a retirarem o kit na creche, ocasião em que o gestor também poderá conversar com elas pessoalmente (o que pode ser a única oportunidade no caso de quem não tem acesso à internet). Caso a unidade esteja distribuindo cestas básicas, é interessante que tudo seja feito no mesmo dia.
Brincando em casa
Por menor que seja a residência da família, incentive-a a organizar um cantinho em que as crianças possam brincar e guardar seus brinquedos. “O importante é criar condições para que elas brinquem. Elas precisam que os adultos não as impeçam e não as interrompam com perguntas, conteúdos e muitas explicações. Mas os bebês e as crianças gostam muito quando os adultos se entregam à brincadeira também”, diz Karina.
Aliás, o Nova Escola BOX já publicou diversas opções de atividade, como esta lista com 10 sugestões de brincadeiras para indicar às famílias.
Materiais de largo alcance
Os pequenos pedem e os pais ficam felizes quando têm condições de comprar muitos brinquedos, mas isso nem sempre é necessário ou mesmo indicado para seu bom desenvolvimento. Um objeto como um carrinho ou uma boneca já têm uma função social bem estabelecida, mas deixar elas explorarem materiais não estruturados – sucatas, pedaços de madeira, tecidos, rolos, folhas de árvore, potes – e dar liberdade para que façam suas próprias explorações é um incentivo para os pequenos embarcarem no jogo simbólico.
Para saber mais, confira nossa caixa A magia dos materiais de largo alcance.
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