PARA REPENSAR A PRÁTICA

Como uma creche pública tem levado os direitos para o cotidiano das famílias

Por redes sociais e telefone, a escola busca garantir a continuidade do trabalho, conscientizando as famílias sobre os direitos previstos na BNCC

A creche tem conversa com as famílias sobre a importância de direitos como o "explorar". Ilustração: Thiago Lopes/Estúdio Kiwi/NOVA ESCOLA

O trabalho pedagógico é repleto de desafios e, com a necessidade de realizar todas as atividades remotamente, muitas outras dificuldades surgiram na pandemia. No que diz respeito aos direitos de aprendizagem e desenvolvimento, é preciso planejar bem quais atividades propor para que as crianças possam exercer os seis direitos de aprendizagem previstos pela BNCC, mesmo em casa. Além disso, é necessário manter boa comunicação com as famílias para acompanhar como elas estão e o que as crianças estão fazendo nesse período.

No CEI Manoel Bispo dos Santos, localizado na cidade de São Paulo, o primeiro passo foi organizar uma formação para que as professoras aprendessem a fazer vídeos com sugestões de atividades. “Nossos vídeos buscam contemplar os direitos. Convidamos as crianças a desenhar, pintar, colar, fazer brincadeiras com música e materiais como caixa de papelão, tecidos, potes e embalagens. E as professoras que têm filhos pequenos gravaram alguns vídeos com eles para exemplificar”, comenta Vera Christina Figueiredo, orientadora institucional e pedagógica da Grão de Vida, responsável pelo CEI. Segundo Vera, o alcance dos vídeos nas redes sociais é bom e a equipe acredita que eles também são visualizados por educadores e famílias de outras creches.

E não são só os professores que fazem as gravações. “Toda a equipe da unidade participa. A equipe da cozinha fez vídeos sobre alimentação saudável e a da limpeza, sobre higiene e brincadeiras com materiais não estruturados”, conta Samanta Veiga, diretora da unidade (para saber mais sobre os materiais de largo alcance - também conhecidos como não estruturados - acesse esta caixa). Samanta diz também que as coordenadoras ficaram responsáveis pelo contato com as famílias. “Pelas redes sociais e pelo telefone, falamos sobre os direitos de aprendizagem de modo que elas entendessem a importância de cada um. Por exemplo, o direito ‘explorar’: geralmente os pais não dão liberdade para as crianças fazerem explorações.”

Segundo a diretora, principalmente no caso de quem não tem acesso à internet, algumas conversas são bem longas e chegam a durar uma hora e meia. As coordenadoras perguntam como está a rotina familiar, do que o pequeno brinca e com quem e se participa das atividades da casa. “Quando a criança está na escola, conseguimos observá-la e falar com ela. Agora, os pais são os interlocutores. Temos outra leitura sobre ela e sobre como estão exercendo seus direitos”, diz Samanta.  

Cada um no seu papel

Todos os educadores precisam ter a consciência de que as famílias não são e não têm a obrigação de agirem como professores, por mais que elas sejam orientadas. “Quando na Base se propõe a participação [um dos seis direitos é o ‘participar’], não se resume à criança falar ‘eu quero isso’. É necessário que os adultos em volta dela tenham um olhar afinado e atento ao seu comportamento”, comenta Vera Christina. “Na creche, observamos os comportamentos e a partir deles propomos outros materiais e situações para que uma brincadeira se desenvolva ainda mais. Mas nós estudamos muito para ter essa escuta qualificada. Dentro de casa, fica mais difícil.”

Para lidar com esses desafios, as famílias procuram orientação do CEI. Segundos as gestoras, muitos pais perguntam como brincar e se divertir com as crianças em casa sem ter de recorrer a vídeos, desenhos e filmes. Essa é mais uma oportunidade de conversar sobre os direitos das crianças e como eles podem estar presentes em brincadeiras, na participação da criança na rotina doméstica e no incentivo à sua autonomia.

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