O desafio e a solução

Como duas professoras de Jacareí conseguiram juntar as famílias pela internet

Pelo WhatsApp e redes sociais, Ruth Faria e Eridan Matos engajaram os pais e responsáveis em propostas simples e acolheram suas dificuldades

A professora Ruth e suas colegas de Jacareí têm como norte a simplicidade e a sugestão de atividades com poucos recursos. Foto: Rogério Pallatta/NOVA ESCOLA



O envolvimento da família sempre esteve presente na Educação Infantil. Com a quarentena, muitos pais e responsáveis tiveram função ainda mais ativa na parceria com a escola, passando a assumir o papel de mediadores da relação entre a criança e o professor no contexto de ensino remoto.

A tecnologia tem sido um grande aliada nesse processo, mas ela por si só não basta. Estratégias precisaram ser revistas, adaptações foram feitas e a rotina de todos mudou. A busca pela sintonia fez com que escolas e redes municipais de ensino se mobilizassem com o propósito de proporcionar aos pequenos uma continuidade em seu desenvolvimento, embora muito diferente do que estavam acostumados. 

A rede municipal de Educação Infantil de Jacareí (SP) foi uma delas. 

Em conjunto com todos os professores, coordenadores e supervisores pedagógicos, ela conseguiu promover uma “pequena-grande revolução” na forma de propor vivências voltadas para desenvolvimento das crianças mesmo que de modo virtual e remoto, sempre a partir da parceria e do apoio das famílias. 

O esforço da rede gerou a criação de cadernos de atividades mensais voltados para o Ensino Infantil, distribuídos a todos os educadores, bem como uma espécie de portfólio adaptado para o registro das atividades realizadas remotamente (para conhecer os materiais, acesse a matéria contida nesta mesma caixa clicando aqui).

A criação de grupos de Facebook e de WhatsApp das turmas, bem como o uso de plataformas como o Instagram para registrar as devolutivas das crianças e seus familiares, foi um elemento fundamental para que os vínculos fossem fortalecidos e uma continuidade se mantivesse mesmo em uma situação tão difícil para todos. 

Ruth Faria, professora na Creche Johery Correa de Azevedo, da rede de Jacareí, conta que o principal desafio como professora de 20 crianças foi conseguir inserir os pais no contexto das atividades remotas: “Era tudo novidade. Eles nunca passaram por isso e não são os professores, não têm a formação que nós temos. Então tivemos de abraçá-los e dizer: todas as atividades propostas são coisas do dia a dia, coisas simples que vocês, pais e mães, já fazem com seu filho antes de ele entrar na escola”.

A Educação Infantil em Jacareí teve como norte a simplicidade e a possibilidade de realização das atividades mesmo em contexto com poucos recursos. Um dos focos, explica Rosemara Santos, coordenadora pedagógicas das EMEIs na rede, era oferecer atividades que não exigissem materiais caros ou mirabolantes, como a produção de tintas caseiras e atividades de cuidados pessoais — sempre acompanhadas de brincadeiras. 

Ruth explica que para conseguir conquistar o apoio e adesão dos responsáveis teve de explicar a importância de cada atividade proposta: “A gente sempre tem de usar uma linguagem muito simples com os pais, seja na explicação das atividades, seja nas conversas. Nunca uma linguagem pedagógica com termos que eles desconhecem”.

Outro ponto importante é que o relacionamento com os pais seja desenvolvido por meio do incentivo, nunca pela crítica. “É preciso mostrar que entendemos o contexto que os pais estão vivendo e fazer uma abordagem leve com eles. Costumo convidar os pais a aproveitarem os momentos com os filhos para voltarem a ser crianças também”, diz Ruth.

Para Eridan Matos, professora de uma turma de maternal na EMEI Professora Maria Amélia Mercadante Turci, a escuta é outro ponto-chave na hora de conquistar a parceria da família. “Entendemos as dificuldades dos familiares. Trabalhamos muito a escuta com os pais e eles falam das dificuldades que estão enfrentando e das experiências que estão tendo com a criança”, explica.

Quando há pouca participação, conta a professora, a abordagem é mais personalizada e nunca em tom de cobrança. “Procuro não desistir daquele pai ou da criança que não responde às atividades. Quando vejo que a pequeno está menos presente, gravo um vídeo  especial para ele e explico o quão feliz fico ao receber uma atividade e como a mamãe e o papai são importantes e podem ajudar ela na atividade.”

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