PARA REPENSAR A PRÁTICA

Como uma escola de Educação Infantil em Maceió vai encerrar as atividades em 2020

Ao longo do isolamento social, a equipe do CMEI Fúlvia Rosemberg esforçou-se para manter o contato com as crianças e conseguiu construir uma história coletiva em meio a turbilhão de sentimentos

A gestora pedagógica Rozana e sua equipe prepararam em suas casas kits de materiais não estruturados para as crianças. Foto: Itawi Albuquerque/NOVA ESCOLA

O trabalho do CMEI Fúlvia Rosemberg, localizada na capital alagoana, volta-se para a escuta ativa e o protagonismo das crianças nas propostas e brincadeiras. Seu espaço físico conta com ampla área externa, que é sempre explorada nas investigações com as crianças e que fez muita falta em 2020. Assim como em muitas outras escolas de todo o mundo, uma reformulação total no modo de trabalhar precisou ser feita no período de distanciamento social. 

Logo no início da pandemia fizemos grupos com as famílias no WhatsApp, mas pela inexperiência os deixamos fechados, porque não sabíamos como iria funcionar. Só depois, aos poucos, fomos abrindo, isso gerou uma descoberta maravilhosa”, comenta Rozana Bandeira de Melo, gestora pedagógica da CMEI. Segundo Rozana, várias famílias interagiram e mostraram o cotidiano da casa e registros de propostas enviadas. “Passamos a visualizar a casa, o espaço da criança e pensar nas propostas de acordo com o espaço que elas tinham em casa”, relembra ela.

Mesmo a distância, a CMEI manteve a regularidade nos encontros pedagógicos - o hora de trabalho pedagógico coletivo (HTPC) - que aconteciam a cada 15 dias. Neles, foram frequentes as discussões e formações sobre o uso das ferramentas digitais por parte dos educadores, que, com o tempo, estão se adaptando a elas. Como a equipe tinha a expectativa de que voltaria ao trabalho presencial em pouco tempo, também estudou bastante sobre a covid-19 e sobre os protocolos de saúde de vários países para um possível retorno.

Nos encontros, fazia-se, ainda, o acompanhamento da situação de cada turma: quais famílias estavam interagindo no grupo e apresentando devolutivas, como as crianças interagiam com as sugestões dos educadores, quais eram as opções para se tentar contato com os pais que não participavam do grupo ou das propostas. Esse acompanhamento realizado periodicamente  ajudou os professores e gestores a lidarem com situações pontuais que encontravam e a escrever o relatório final em novembro e dezembro.

Despedida com kits de materiais não estruturados

Em agosto, durante um HTPC, surgiu a ideia de dar um kit de materiais não estruturados (caixa de papelão, pote plástico, garrafa PET, botões, tecidos, pedaços de madeira) para cada criança. “Essa  proposta veio da necessidade de garantir os direitos das crianças, como brincadeira e exploração, e potencializar a casa como um ambiente de aprendizagem. Explicamos para as famílias que a proposta principal é brincar”, diz Jaqueline Rodrigues Araújo, educadora de referência do Maternal 1 (crianças bem pequenas) da Fúlvia Rosemberg (Saiba como trabalhar com materiais não estruturados aqui).

A organização dos kits começou em agosto, quando vários educadores e gestores selecionaram os materiais em suas próprias casas. Em novembro, teve início a entrega às crianças. A ideia é de que, quando possível, os pequenos acompanhem os pais e responsáveis até o CMEI para buscá-los e se despedir do espaço escolar e dos educadores. Tudo está sendo organizado de modo que não haja aglomerações e muito contato. 

Juntamente com Andrezza Correia, a outra educadora de referência da sua turma, Jaqueline encaminhava as propostas no grupo de pais do WhatsApp. “Focamos em elaborar propostas claras, que os pais entendessem e que encantassem as crianças. Na última, sugerimos um calendário com uma proposta por dia, até o Natal, para o mês de dezembro”, explica a educadora. Algumas sugestões são: plantar uma sementinha como símbolo de esperança, confeccionar uma guirlanda e ouvir uma história natalina. 

Luto

Em 2020, uma educadora da escola faleceu, o que fragilizou ainda mais a todos em um momento já adverso. Na última reunião, o compartilhamento de sentimentos foi incentivado. “Conseguimos construir uma história coletiva mesmo diante desse turbilhão de incertezas e inseguranças e não desistir das famílias e das nossas propostas”, diz Rozana. Segundo ela, os conhecimentos de cada educador não são só centrados na teoria, mas nas experiências vividas. Por isso, ela propôs duas dinâmicas: organizou uma troca de cartas entre a equipe (em uma espécie de amigo secreto) e pediu que escrevessem no chat do último encontro on-line impressões sobre o ano.

“A filosofia da equipe é de que nós estamos na CMEI para sermos felizes, fazer as famílias e as crianças felizes, mas este ano foi muito difícil. Se eu não tivesse a parceria da equipe, não conseguiria trabalhar. Nossas reuniões eram momentos muito esperados e especiais”, elogia a professora Jaqueline.

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