Para usar com as crianças

Sala, quarto, cozinha e quintal: como os ambientes da casa favorecem o brincar

Confira quais características de cada espaço podem ser exploradas e leia as sugestões para orientar as famílias a incentivarem as experiências infantis

Ilustração de criança olhando por uma casa em miniatura.
Ilustração: Nathalia Takeyama/NOVA ESCOLA

Com as escolas fechadas e o isolamento social em vigor, o brincar ficou restrito aos espaços da casa. Nada que atrapalhe a exploração das crianças, como constataram as pesquisadoras do Território do Brincar, projeto que, desde 2012, investiga e registra a cultura infantil brasileira. Pela primeira vez, o trabalho de estudar a infância foi realizado a distância. Quem observou bebês, crianças e adolescentes nas mais diversas manifestações do brincar foram mães, pais e familiares. A equipe do Território do Brincar cumpriu longas horas de conversas com 55 famílias, espalhadas por metrópoles brasileiras e de outros países. Entre as descobertas, a de que os ambientes da casa favorecem diferentes tipos de comportamento e expressões do brincar. 

A pesquisa deu origem ao filme Brincar em Casa (acesse aqui) e também a uma série de sete podcasts, alguns deles retratando ambientes da casa (acesse por aqui). Com base nos comentários dos podcasts e nas experiências relatadas pela professora Mirtes Ramos Melo, da Creche Municipal João Eugênio, no Recife (PE), organizamos sugestões para ajudar você, professor, a orientar as famílias a como incentivar as experiências infantis em cada espaço. 

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BRINCAR NA SALA 

Sala: Jogar jogos de tabuleiro, quebra-cabeça, videogame, etc Desenhar, pintar, colar e se expressar artisticamente Se apresentar e inventar um mundo próprio Brincar de casinha e fazer montagens

Características: Multiuso, a sala é lugar de convivência da família e incentiva a brincar, jogar, desenhar e fazer montagens, além de circular e inventar acrobacias. É um espaço que convida para uma grande variedade de expressões e à interação entre crianças e adultos. A mesa aceita quebra-cabeças, jogos de tabuleiro, artesanatos, pinturas, colagens, é suporte para criação. Já outros móveis, como cadeiras e sofás, têm potencial para virar refúgio se acrescidos de lençóis, travesseiros e cobertinhas. O brincar de casinha faz sucesso entre os pequenos, que costumam levar para lá objetos de aconchego ou inventar o mundo de gente grande usando utensílios do cotidiano. A sala, por ser um ambiente disputado e coletivo, também vira palco: é onde a criança exibe suas habilidades, quer ver e ser vista.   

Sugestões para pais e responsáveis: Oferecer elementos e auxiliar na montagem de cabaninhas ou casinhas, arrastando móveis e fixando lençóis ou cobertores. Permitir que as crianças construam com embalagens, blocos ou brinquedos e façam coleções, mantendo para elas um cantinho e dando tempo para que continuem o que iniciaram (mesmo que seja por vários dias). Ligar música e incentivar a dança. Permitir experiências com o corpo, seja no chão ou com ajuda dos móveis disponíveis, como dar cambalhotas no sofá ou se balançar em uma rede.   

Atenção: Nem toda casa tem sala de estar. Para algumas famílias, o espaço de convivência é a cozinha. Por isso, é importante conhecer o perfil da turma.


BRINCAR NA COZINHA 

Cozinha: Experimentar ?texturas, sabores e cheiros Interagir? e agir com autonomia Observar e entender como as coisas são feitas Construir ?relações de cuidado e carinho

Características: Os alimentos, suas texturas e cheiros, as transformações que sofrem no calor do fogão fazem da cozinha um laboratório e espaço de aprendizagem. Ali dá para fazer muita coisa junto: comidas, bolos, pães, arrumar a mesa, lavar louça, fazer lista de supermercado... É o ambiente em que a ação do adulto provoca o desejo de agir da criança, é onde os pequenos observam e percebem como se fazem as coisas. Quando testam suas habilidades e se sentem empoderados. Ali acontecem as refeições em família, também um momento de cuidado e carinho e onde as memórias afetivas se constroem diariamente.  

Sugestões para pais e responsáveis: Atividades simples, como encher um copo com água sem que ela transborde, são desafios que encantam os pequenos. Quebrar um ovo ou acrescentar ingredientes para serem misturados na batedeira ou no liquidificador são motivos de alegria. Experimente dar acesso a tampas, panelas e colheres de pau e apenas observe a interação da criança com os objetos. Coloque flores ou elementos da natureza juntamente com água em formas de gelo para congelar e depois ofereça aos bebês. 

Atenção: Embora a conquista da autonomia seja almejada, na cozinha sempre há necessidade de assistência, ou seja, é importante a supervisão do adulto para evitar acidentes.


BRINCAR NO QUARTO 

Quarto: Ler livros? e contar histórias Brincar com brinquedos, bonecos e objetos Criar laços? e relações? com os irmãos ?e com os pais Imaginar e inventar um mundo próprio

Características: Lugar de aconchego e recolhimento, que em situação normal muitas vezes era acessado apenas no fim do dia, o quarto beneficiou-se do tempo ampliado para todos na pandemia. Foi o ambiente mais usado para contar histórias e ler livros, por exemplo. O isolamento aproximou as crianças que moram na mesma casa, ajudou a criar experiências e a cumplicidade entre irmãos, reforçando parcerias que estimularam as mais diferentes brincadeiras. Há espaço para colecionar bonequinhas, miniaturas e outros tipos de brinquedos e objetos, nem que seja em caixinhas, armários ou gavetas. Dá para criar um mundo só da criança, imaginado e construído com peças de montar. Ao mesmo tempo, ali residem o carinho e a atenção dos pais, principalmente antes de dormir.    

Sugestões para pais e responsáveis: Dar liberdade para que a criança interaja com os próprios brinquedos, converse sozinha com bonecos, crie seu universo imaginário e seus enredos de histórias, sem ser atrapalhada. Permitir o uso de maquiagens, acessórios e roupas para brincar e inventar fantasias, se possível na proximidade de um espelho. Deixar livros e revistas à disposição para serem folheados e procurar reservar um momento do dia para ler um livro ou contar uma história inventada.    

Atenção: Mesmo as crianças pequenas têm necessidade de solidão. Ainda assim, oriente os pais para não deixarem por perto objetos muito pequenos, onde se corre o risco de que sejam engolidos.


BRINCAR NO QUINTAL 

Quintal: Descobrir ?e explorar ?o mundo Dançar? e se pôr em movimento Jogar ?bola e se exercitar Brincar? ao ar livre e com animais

Características: Lugar de liberdade e de descobertas, o quintal é para ser explorado, investigado e testado, e gera uma aproximação com o mundo de fora e os processos naturais. Pequenos animais, como as borboletas, as formigas e as minhocas, são motivo de curiosidade, questionamento e perguntas, assim como as plantas. Mesmo sem um jardim, o quintal é um lugar aberto e por isso estimula movimentos mais expansivos, tais como dança, ginástica ou jogar bola. Dá para lavar roupas de boneca, brincar de acampamento, fazer piquenique ou esconder bonequinhos nos vasos, puxar carrinhos e criar percursos para bolinhas variadas. Também é um espaço que estimula a interação com animais de estimação, companheiros de brincadeiras e afeto.   

Sugestões para pais e responsáveis: Permitir que a criança descubra os elementos da natureza, mexa na terra e nas plantas, sinta as texturas de grama ou areia, perceba o calor do sol e o vento nas roupas do varal. Mesmo um ambiente com piso frio (de cimento ou azulejos) é sujeito ao tempo, então, vale aproveitar uma água de chuva, por exemplo, e deixar a criança pular e se molhar ou brincar com as poças. Bacias, panelas, mangueiras, torneiras e outros elementos podem ser usados à vontade e ficar à disposição. Uma ideia divertida é pendurar sacos plásticos cheios de água por barbantes (nas grades da janela, em muros ou árvores). Sem interferir, os adultos só devem observar o que pode acontecer na interação.     

Atenção: Peça para as famílias fazerem um reconhecimento do lugar para remover plantas que podem irritar a pele dos pequenos, objetos cortantes ou perigosos. E ficarem de olho, especialmente nos mais novos, para não se machucarem nas atividades.

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