Para aprender sobre a prática

VÍDEO: O mergulho das crianças na literatura

A professora Maria de Lourdes mudou o foco do seu trabalho com os livros, deixando de encará-los como mera preparação para a alfabetização

A professora Maria de Lourdes Martins trabalha com crianças de 3 a 5 anos na UME Maria Patrícia, em Santos (SP). De acordo com Maria de Lourdes, antes, o objetivo em promover o contato entre crianças e livros era ter mais um recurso para ensiná-las a escrever. Agora, o foco é aproximá-las da literatura. “A política pública de livros nas escolas é antiga, mas vimos que só ter livro e ler não é suficiente. Escolher livros que permitam acessar a beleza do texto, as estéticas literárias e visuais, é o que forma leitores”, diz.

Os livros precisam respeitar a inteligência das crianças, apresentar desdobramentos inesperados, conter ironia e até mesmo finais abertos para serem instigantes para os pequenos. Além disso, devem ter grande qualidade gráfica e boas ilustrações, uma vez que olhar as imagens também faz parte da leitura. “Vemos que muitos professores estão lendo, não a serviço da literatura, mas sim, para ensinar comportamentos e conteúdos curriculares. Isso muda completamente a relação com o livro”, contesta. 

Como captar a atenção das crianças
Maria de Lourdes sempre treina a leitura em voz alta antes de ler em sala de aula, mesmo que já conheça a história. Principalmente para as crianças, que estão em seus primeiros meses ou anos de contato com a linguagem oral, uma leitura monocórdica atrapalha muito o entendimento do que está sendo lido. Ela conta que gosta de frisar algumas palavras e apostar em diferentes ritmos. Por exemplo, quando a palavra vagarosamente aparece em uma história, ela é lida bem devagar.   

Em algumas escolas, é comum que as professoras usem aventais especiais, fantoches ou até mesmo fantasias para o momento da leitura. Procurar um espaço diferente do da sala de aula também é uma estratégia para tornar a atividade mais interessante, mas, segundo a professora Maria de Lourdes, nada disso é necessário. “O espaço ou um objeto específico podem ajudar, mas não garantem o leitor. Temos de acreditar que o livro basta”, defende.  

Ainda segundo a professora, devemos nos perguntar “o que faz um leitor?” “Um leitor não bate palmas pro livro, não escreve sobre ele, não desenha. Caso queiramos formar leitores, temos de usar os elementos do leitor, que conversa sobre o livro, relê, não entende, gosta mais de umas partes do que de outras. Um leitor se faz na conversa com outros leitores”, explica ela. Nesse sentido, após realizar a leitura, Maria de Lourdes também se coloca na posição de leitora, como as crianças, enquanto faz a mediação da conversa entre a turma. Ela troca impressões com os pequenos e se permite surpreender com a história e com a interpretação de cada um. “Meu objetivo é que as crianças pensem o que aquele texto traz para elas. E tenho visto na minha experiência uma potência muito grande do quanto a literatura é capaz de fazê-las pensar”, conta. 

Aula ponto a ponto
1. Maria de Lourdes organiza uma roda de leitura com os alunos no chão da sala de aula. O início da atividade pode ser feito pela apresentação de figuras do livro, passando o objeto de mão em mão, deixando que eles folheiem alguns livros sozinhos ou relembrando outra história.
2. A professora realiza a leitura e apresenta as ilustrações do livro para as crianças.
3. Na sequência, a turma conversa sobre a história e demais aspectos da obra, como capa, ilustrações e cores, entre outros.

Mais sobre esse tema