Para pensar a prática

Como os campos de experiências se relacionam com o desenvolvimento socioemocional das crianças

Criados para indicar as situações e as experiências essenciais para o aprendizado dos pequenos, os campos contribuem para o conhecimento de si mesmo, das várias formas de expressão e das relações com o outro, aspectos fundamentais para lidar com os sentimentos

Ilustração de duas crianças mostrando um desenho que elas fizeram uma para a outra.
Ilustração: Renata Miwa/NOVA ESCOLA

O eu, o outro e o nós; Corpo, gestos e movimentos; Traços, sons, cores e formas; Escuta, fala, pensamento e imaginação; e Espaço, tempo, quantidades, relações e transformações. Esses são os cinco campos de experiências propostos pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para a Educação Infantil. São eles que indicam quais são as situações e experiências fundamentais para que crianças de 0 a 5 anos aprendam e se desenvolvam. Mas você sabe o que eles têm a ver com competências e habilidades socioemocionais?

De acordo com a Base, os campos enfatizam noções, habilidades, atitudes, valores e afetos que as crianças devem desenvolver nesta etapa da vida e buscam garantir os seis direitos de aprendizagem dos bebês, crianças bem pequenas e crianças pequenas (conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se). “A partir da forma como as experiências são destacadas e os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento são formulados, é possível identificarmos o processo de construção das habilidades socioemocionais que são necessários para as conquistas das crianças”, afirma Beatriz Ferraz, psicóloga e doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP). 

Além disso, é preciso ressaltar que os campos seguem a mesma lógica dos direitos de aprendizagem e desenvolvimento e das dez competências gerais (pilares da BNCC) e estão entrelaçados o tempo todo. Isto significa que, embora as socioemocionais apareçam de forma mais intensa no primeiro (O eu, o outro e o nós), não há, na prática, um campo que deva ser mais trabalhado que o outro, uma vez que todos abrangem, de um jeito ou de outro, sentimentos e emoções. 

“Quando eu trabalho com o primeiro campo, volto à ideia de autoconhecimento. Para eu aprender a respeitar o outro, preciso antes aprender a respeitar a mim, pois só assim estarei inserido na coletividade que é o nós. Esse é, com certeza, o campo de Experiência mais direto e ligado às socioemocionais”, afirma Sandra Dedeschi, mestre em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e autora do Programa Semente, iniciativa que trabalha com formação socioemocional. 

Ela acrescenta que, no entanto, não é possível desvincular o aprendizado socioemocional dos demais campos. Beatriz concorda e pontua que o campo 2 (Corpo, gestos e movimentos), por exemplo, prevê a promoção de experiências em que a linguagem corporal é utilizada como forma da criança se expressar e aprender sobre o mundo. 

No campo 3 (Traços, sons, cores e formas), a percepção do trabalho com as socioemocionais está presente, segundo Beatriz, quando as crianças expressam sentimentos e emoções por meio de diversas linguagens, como a música, as artes visuais, o teatro, a dança e o audiovisual. O campo 4 (Escuta, fala, pensamento e imaginação) é onde estão as situações comunicativas de interação com o outro, a escuta, a contação de histórias e o faz de conta, tão presentes e importantes para o desenvolvimento dos pequenos. Já o campo 5 (Espaço, tempo, quantidades, relações e transformações) propõe que os educadores estimulem nas crianças a exploração, a observação do meio, dos objetos e das relações socioculturais.

Para desenvolver habilidades socioemocionais nas crianças da Educação Infantil por meio dos campos de experiência, o professor precisa pensar em ambientes que favoreçam o contato com elas, mas, sobretudo, saber com o que está lidando. Por isso, a formação é tão importante. “Precisamos garantir que os educadores saibam como se dá o desenvolvimento da criança e das competências, senão não conseguirá oportunizar essas experiências, uma vez que não compreende seu fundamento teórico”, afirma Sandra (confira aqui sugestões para se aprofundar no tema).  

Para trabalhar no dia a dia 

Dentro de cada campo de experiência, o desenvolvimento socioemocional ocorre de maneira concreta por meio dos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento estabelecidos para cada grupo etário, considerando as interações e as brincadeiras como eixos estruturantes. 

Para planejar, portanto, o professor precisa avaliar quais objetivos contribuem para o desenvolvimento socioemocional e como eles se conectam com os direitos de aprendizagem e com as competências gerais. Durante a realização, é importante observar como as crianças executam as propostas e também como elas reagem na interação com os outros. E, no momento pandêmico, é necessário também levar em consideração e refletir quais estratégias são possíveis no contexto em que o professor atua: remoto, presencial ou parcialmente presencial. 

Dá para explorar, por exemplo, os desenhos como forma de expressão (confira aqui como fazer isso). Ou a contação de histórias (aqui, texto que explica como a contação pode servir de apoio emocional para as crianças ao longo do isolamento). Durante a leitura, é possível, por exemplo, envolver as crianças pequenas e as bem pequenas no enredo e deixar a experiência mais interativa. Para isso, o professor pode convidá-las a fazer expressões com o rosto de como o personagem está se sentindo, seja alegria, tristeza, raiva, nojo etc., abrindo a câmera, gravando vídeos ou se olhando no espelho (leia aqui sugestão de como organizar uma roda de leitura para também falar de sentimentos).

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