Traços, sons, cores e formas: o passeio da imaginação pelo mundo real
As crianças desenvolvem a criatividade e a capacidade de expressão quando estimuladas por cores e sonoridades
Conhecer, conviver e interagir com sons, cantos, cores, traços, luzes, cenários, imagens e materiais desde a mais tenra idade é o convite do terceiro Campo de Experiência presente na Base Nacional Comum Curricular da Educação Infantil, chamado Traços, Sons, Cores e Formas.
O contato com recursos expressivos diferentes traz impactos muito importantes para o desenvolvimento do bebê e da criança pequena, explica a especialista pedagógica Rebeca Veras, do SAS Plataforma de Educação. “As crianças são levadas a desenvolver o senso estético por meio de situações que geram momentos de apreciação, desenvolvimento da sensibilidade, criatividade e expressão”, diz. O documento descreve assim o campo:
"Conviver com diferentes manifestações artísticas, culturais e científicas, locais e universais, no cotidiano da instituição escolar, possibilita às crianças, por meio de experiências diversificadas, vivenciar diversas formas de expressão e linguagens, como as artes visuais (pintura, modelagem, colagem, fotografia etc.), a música, o teatro, a dança e o audiovisual, entre outras. Com base nessas experiências, elas se expressam por várias linguagens, criando suas próprias produções artísticas ou culturais, exercitando a autoria (coletiva e individual) com sons, traços, gestos, danças, mímicas, encenações, canções, desenhos, modelagens, manipulação de diversos materiais e de recursos tecnológicos. Essas experiências contribuem para que, desde muito pequenas, as crianças desenvolvam senso estético e crítico, o conhecimento de si mesmas, dos outros e da realidade que as cerca. Portanto, a Educação Infantil precisa promover a participação das crianças em tempos e espaços para a produção, manifestação e apreciação artística, de modo a favorecer o desenvolvimento da sensibilidade, da criatividade e da expressão pessoal das crianças, permitindo que se apropriem e reconfigurem, permanentemente, a cultura e potencializem suas singularidades, ao ampliar repertórios e interpretar suas experiências e vivências artísticas."
BNCC, disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/#infantil/os-campos-de-experiencias. Acesso em: 3 de setembro de 2020.
Em parceria com os demais campos, os educadores podem promover experiências e situações que permitam aos bebês e às crianças conhecerem e se apropriarem da cultura de seu grupo social, contribuindo para o desenvolvimento da identidade e da autonomia. Essa dica vale para todos os campos de experiências: quanto mais juntos e misturados, maiores serão os ganhos para os pequenos.
Tecidos, músicas e uma banda de bebês
Um exemplo prático é o que fez a educadora Kharen da Silva na creche Olímpia Maria de Jesus Carvalho, em Osasco (SP). Ao lado dos colegas, a professora convidou as crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) e pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses) a explorarem diversos tipos de tecidos em diferentes formatos e mexerem o corpinho ao som da música. Cada criança recebeu um paninho, feito a partir de retalhos ou de TNT, que foi utilizado para interagir com os ritmos e sons. “Elas imitam os movimentos dos adultos e também criam seus próprios movimentos, com bastante entusiasmo e alegria”, explica a professora. Nessa atividade, ela observou o avanço da fala e da escuta, por meio da expressão dos sons e dos movimentos, e o desenvolvimento da criatividade da turma.
Já a professora Cleonice Espírito Santo, da Creche Emília Leite de Figueiredo, em Carapicuíba (SP), lançou mão de pandeiros, maracas, chocalhos, sinos, tambores e outros instrumentos para criar uma bandinha e permitir aos bebês explorarem não só o som, mas também, formas, cores e texturas. O entusiasmo foi geral no berçário.
Sentados em roda, os bebês seguram os instrumentos e, juntos, cantam com as educadoras canções que já fazem parte do repertório da turma. Os bebês são orientados com gestos e expressões e, por sua vez, as reações deles são acompanhadas pelas professoras com atenção. “Estimulamos cada um a usar seu instrumento toda vez que chamamos seu nome. Percebemos que cada bebê aguarda com atenção até ouvir o som de seu nome e entende que é sua vez de tocar – observando também a vez do outro. Ao ouvirem o comando para todos tocarem juntos, a banda se consolida”, explica Cleonice.
Assim, os pequenos puderam explorar, individualmente ou em grupo, os sons e as formas dos instrumentos musicais, além de entrar em contato com aspectos culturais e artísticos. A docente observa que os bebês percebem como nos manifestamos por meio do ritmo da música e da coreografia e interagem com os outros pequenos e com as educadoras, combinando também o entendimento contido em outro campo de experiência, O Eu, o Outro e o Nós. “É incrivelmente emocionante identificar as potencialidades de crianças tão pequenas e essas conquistas diárias nos dão o sentimento de realização com o desenvolvimento da turminha”, comemora.
Conteúdo publicado originalmente em NOVA ESCOLA BOX, no dia 15 de outubro de 2020. O texto foi reeditado e sofreu alterações.
Mais sobre esse tema