Para pensar a prática

A importância do sono para o desenvolvimento infantil

Possibilitar momentos de descanso de qualidade para bebês e crianças favorece a consolidação do aprendizado, entre outros benefícios

Ilustração abstrata de criança deitada sobre celular gigante, dormindo com cobertor.
Ilustração: Nathalia Takeyama/NOVA ESCOLA

Se dormir já foi considerado perda de tempo, hoje a ideia é rebatida por inúmeros estudos que apontam os benefícios da prática para a saúde. Na infância, o sono é um momento fundamental, durante o qual as vivências são transformadas em aprendizados e memórias. Enquanto dormem, bebês e crianças absorvem as novas informações e as consolidam como conhecimento.

“Estudos demonstram que, já nos primeiros meses de vida, as crianças consolidam melhor as experiências quando têm a possibilidade de dormir após uma brincadeira, por exemplo”, explica Fernando Louzada, doutor em Neurociências e Comportamento e também coordenador do Laboratório de Cronobiologia Humana da UFPR, que estuda as relações entre sono, aprendizagem e desempenho escolar.

Os benefícios do sono estendem-se ainda para outras esferas da saúde: dormir promove o desenvolvimento cognitivo, regula as emoções e favorece o equilíbrio do metabolismo e do sistema imunológico. Segundo a National Sleep Foundation (Fundação Nacional do Sono), durante esse momento o corpo libera hormônios do crescimento em maior quantidade. Por isso, a instituição considera a qualidade do sono tão importante quanto a boa alimentação das crianças.

Além de garantir a qualidade, é importante assegurar a quantidade de horas de descanso necessárias conforme a faixa etária da criança. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define os seguintes parâmetros: 14 a 17 horas (até 3 meses), 12 a 16 horas (4 a 11 meses), 11 a 14 horas (1 a 2 anos) e 10 a 13 horas (3 a 4 anos).

Rotina é outra palavra-chave quando o assunto é sono. Por isso, o cenário do home office e outras alterações recentes do cotidiano das famílias decorrentes da pandemia, como horários irregulares das refeições ou dos banhos, preocupam, pois podem impactar o descanso dos pequenos. 

Louzada lembra ainda que o aumento do tempo de exposição às telas, principalmente durante a noite, é mais um problema enfrentado no período. “O aumento do estresse vivido pelas famílias também afetará a qualidade do sono, aumentando o tempo que levam para adormecer ou o número de despertares noturnos”, diz o especialista, apontando como possíveis consequências desssa privação alterações de humor e dificuldades de socialização. “A criança pode ficar mais irritadiça, mais impulsiva, menos atenta e apresentar dificuldades de aprendizado”, exemplifica o doutor em Neurociências e Comportamento.

Sono de qualidade em casa e na escola 

Por todas essas razões, Djenane Martins Oliveira, professora de Educação Infantil e integrante do Time de Autores de NOVA ESCOLA, ressalta a necessidade de oferecer espaços favoráveis ao descanso na escola e orientar os responsáveis sobre sua importância, inclusive, pedagógica. “É um momento de observação do bem-estar da criança”, reflete Djenane. 

A professora também aponta o papel dos educadores de orientar a família sobre a necessidade dos momentos de descanso na rotina dos pequenos. Além de explicar sobre como a prática acontece na escola, vale propor que se envolvam e levem o momento para o ambiente familiar, preparando um cantinho aconchegante em casa e acolhendo a criança quando demonstra necessidade de dormir – o que pode, inclusive, fortalecer vínculos.

No Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Hermann Gmeiner, em Manaus (AM), a diretora Maria Estela Nepomuceno vê esses resultados na prática. Na escola, situada dentro das Aldeias Infantis SOS Manaus, os momentos de relaxamento, como sonecas e contação de histórias, fazem toda a diferença no bem-estar dos pequenos, que se mostram mais dispostos e tranquilos para seguir com as atividades.

Quando estavam no modelo remoto, os educadores do CMEI mantiveram o diálogo com as famílias sobre a rotina de sono das crianças, acompanhando-a por meio de vídeos enviados pelos responsáveis. A partir dos registros, orientavam sobre boas práticas para garantir o sono necessário.

Com o retorno das atividades presenciais, esse acompanhamento oferece bons indícios de como a criança está se readaptando. “Quando possibilitamos o descanso, respeitamos a autonomia da criança, o tempo e o ritmo da infância”, defende Maria Estela.

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