Para pensar a prática

Como dar espaço ao sono na escola?

Oferecer um ambiente confortável e dialogar com a família são fundamentais para garantir o repouso das crianças

Ilustração abstrata de 3 crianças segurando travesseiros sobre céu estrelado ao fundo.
Ilustração: Nathalia Takeyama/NOVA ESCOLA

Se é no momento do sono que as novas vivências e informações se tornam conhecimento e que as crianças consolidam melhor as experiências quando têm a possibilidade de dormir após sua realização, as escolas precisam elaborar estratégias para oferecer momentos de descanso de qualidade. 

Mas como fazer isso? Fernando Louzada, coordenador do Laboratório de Cronobiologia Humana da UFPR, indica incluir cochilos durante a manhã e a tarde para os bebês. Já a partir dos 2 anos de idade, a soneca vespertina de até 1 hora e meia é o suficiente. “Os estudos já mostram que cochilos como esses não têm impactos significativos no sono noturno”, completa, rebatendo a ideia de que o sono na escola pode atrapalhar a noite das crianças.

No entanto, Fernando lembra que não se deve restringir o descanso apenas à “hora da soneca”. Se a criança apresentar sonolência e sentir necessidade de deitar para tirar um cochilo, os educadores devem acolher e oferecer espaço para isso, sem privá-la do momento.

Preparando o espaço

Na prática, o sono pode entrar na rotina escolar após a alimentação, o banho ou atividades e brincadeiras nas quais as crianças gastaram mais energia. Para oferecer um momento de descanso prazeroso, Djenane Martins Oliveira, professora de Educação Infantil e integrante do time de autores de NOVA ESCOLA, recomenda preparar o espaço fazendo um ritual de relaxamento com os pequenos.

É possível adaptar a própria sala de aula e dispor colchonetes no chão para cada aluno. As luzes devem ser apagadas e as cortinas fechadas, mas sem a preocupação de deixar o ambiente completamente escuro: “É interessante que o sistema nervoso saiba que é dia”, explica Louzada. 

Djenane também sugere que os educadores coloquem músicas com sons da natureza e façam massagem nos pequenos para desacelerá-los. A professora lembra que não se deve exigir que todos durmam ao mesmo tempo. O  momento deve ser aproveitado para relaxar, independentemente de dormir ou não. “O sono deve acontecer naturalmente”, diz.

Justamente por isso, no Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Hermann Gmeiner, em Manaus (AM), o momento não é chamado de “hora da soneca”, mas sim, de “momento do descanso”. “A criança é convidada a dormir, mas é ela quem escolhe como descansar”, explica a diretora Maria Estela Nepomuceno. 

A escola oferece aos pequenos atividades como contação de histórias e músicas relaxantes. Assim, podem deitar, descansar e, se sentirem confortáveis, dormir. Para aqueles que ficam acordados, existem livros e outros brinquedos silenciosos. 

Diálogo com a família

O diálogo com as famílias é também de extrema importância para compreender a rotina do lar e construir, de forma orientada, hábitos e espaços que contemplem as necessidades físicas, afetivas e individuais das crianças, explica a diretora do Herman Gmeiner, Maria Estela. 

Conversando com elas, a diretora percebeu, por exemplo, que a dificuldade de algumas crianças de dormirem na escola estava relacionada a um hábito que muitas têm em casa: dormir na rede. “Instalamos armadores para colocar redes e a criança ter essa opção até fazer a transição para o colchonete”, conta. 

Nesse sentido, Djenane reforça a necessidade do diálogo não apenas para colher informações relevantes sobre o sono noturno, mas também, para compartilhar registros dos momentos de descanso na escola. Cabe aos professores observarem como os pequenos se comportam enquanto dormem: o sono é agitado? Em qual posição dormem?, entre outros pontos. “O sono é um momento de observação do bem-estar da criança”, explica a educadora. Por isso, é tão valiosa essa troca de informações entre família e escola. A partir desta, é possível investigar e compreender outros fatores que podem estar impactando a rotina das crianças.

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