Bicentenário da Independência: como trabalhar nas aulas de História
Em 2022, a separação do Brasil de Portugal completará 200 anos. Conheça sugestões para levar a efeméride aos alunos com base nos marcos de memória construídos ao longo do tempo e na complexidade do processo, que vai muito além do protagonismo de dom Pedro I
Em 1822, dom Pedro, então príncipe regente, declarou o Brasil independente de Portugal, fato que levaria à criação do Império e à guerra por emancipação nos anos seguintes. O marco histórico completará seu bicentenário no próximo dia 7 de setembro e pode servir como ponto de partida para trabalhar com alunos de Anos Iniciais e Anos Finais do Ensino Fundamental os acontecimentos da época e, também, outros marcos históricos do país em 2022.
Jair Messias Ferreira Junior, professor autor do Time de Autores de NOVA ESCOLA, ressalta que a própria Base Nacional Comum Curricular (BNCC) de História trabalha muito a construção dos “marcos de memória”. Por isso, abordar a Independência do Brasil abre diversas possibilidades para explorar esses marcos, a começar pelo município onde a escola se localiza, discutindo os nomes de logradouros, de monumentos e outros aspectos relacionados ao 7 de Setembro.
O professor chama atenção para o fato de que existe uma História tradicional, construída a partir do século 19, que coloca dom Pedro I como personagem central, muitas vezes como único personagem, no processo de Independência do país.
“Essa visão de História foi elaborada em um período em que era necessária a construção de uma identidade nacional. Hoje é importante o professor trabalhar o processo de Independência como um processo mais amplo, em que diversos grupos sociais participaram e diversos interesses políticos e econômicos estavam envolvidos”, afirma Jair, que é pós-graduado em História pela Universidade de Campinas (Unicamp).
De acordo com o educador, ao levar o tema para as aulas de História, é fundamental ressaltar a participação de diversos grupos sociais na Independência do Brasil, como a de mulheres, como Maria Quitéria, Joana Angélica, Maria Felipa e a imperatriz Leopoldina, e a participação popular, como a Batalha do Jenipapo.
É importante, ainda, analisar de forma crítica as obras relacionadas à Independência, principalmente o quadro Independência ou Morte (popularmente conhecido como O Grito do Ipiranga), de Pedro Américo, destacar os dois projetos de Brasil que estavam postos entre 1822 e 1823 e contextualizar o processo de emancipação, que está relacionado com o pensamento liberal do período e foi influenciado por fatos ocorridos na Europa, como a Revolução do Porto, de 1820.
Confira, a seguir, duas propostas de Jair Messias Ferreira Junior para levar o assunto para as aulas de História no Fundamental 1 e 2:
Anos Iniciais: como trabalhar o bicentenário da Independência nas aulas de História
Confira uma proposta do professor Jair Ferreira para levar o tema aos alunos de 5º ano
Indicado para: Turmas de 5º ano
Na BNCC: EF05HI07
Inicie a aula apresentando a obra Independência ou Morte, de Pedro Américo, de 1888, e levante as seguintes questões: quando a Independência ocorreu? Quando o quadro foi pintado? Quem são as pessoas presentes no quadro? Quem está em posição de destaque nessa obra? Em seguida, apresente as primeiras estrofes do Hino do Brasil em escrita direta. Converse com os alunos sobre o Hino e sobre a menção ao 7 de Setembro em sua letra.
A partir daí, trabalhe com alunos temas como: Inconfidência Mineira, Conjuração Baiana, Revolução Pernambucana, participação das mulheres na Independência e independência na Bahia. Mostre a eles que muitas pessoas lutaram pela Independência.
Anos Finais: Como trabalhar o bicentenário da Independência nas aulas de História
Confira sugestões do professor Jair Ferreira para levar o tema aos alunos de 8º ano
Indicado para: Turmas de 8º ano
Na BNCC: EF08HI06
- Discutir conceitos de Estado, governo e nação. O professor pode tratar do tema com base na atualidade, discutindo o Estado brasileiro, a nação brasileira e os governos brasileiros.
- Autoritarismo de dom Pedro I. Com a Independência, existiam duas propostas de organizar os Poderes no Brasil, uma mais liberal, que valorizava o Poder Legislativo, representado pela Assembleia Constituinte de 1823; e outra, mais autoritária, com os Poderes concentrados nas mãos de Pedro I. A segunda proposta venceu. Dom Pedro I, com o apoio de tropas leais, encerrou os trabalhos da Assembleia Constituinte em 12 de novembro de 1823, a chamada Noite da Agonia. Em 25 de março de 1824, outorgou a primeira Constituição do Brasil.
- Disputa das datas da Independência. Embora hoje a emancipação do Brasil de Portugal seja celebrada no 7 de Setembro, data em que dom Pedro, às margens do rio Ipiranga, proferiu o famoso grito “independência ou morte”, o dia 12 de outubro, quando o príncipe regente é coroado imperador brasileiro, já foi considerada o principal marco desse processo.
- Processo de criação da nação e do nacionalismo no Brasil. Em 1822, as pessoas que viviam no território brasileiro não se identificavam como brasileiros. A identidade nacional foi construída com o passar do tempo, com a criação do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, a definição da bandeira, a composição do Hino Nacional, o estabelecimento de datas comemorativas e a construção de monumentos.
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