A importância de valorizar as mulheres desde a Educação Infantil
Além de aprender a respeitar e a conviver com as diferenças, as crianças constroem noções mais claras sobre suas origens, olhando para a história dos adultos que a cercam
O Dia Internacional da Mulher se aproxima, e com ele a oportunidade de exaltar figuras femininas corajosas, inteligentes e que marcaram a história do Brasil e do mundo. Mas é também uma chance de mostrar que mulheres inspiradoras podem estar próximas às crianças, e que elas, anonimamente, também atingem conquistas difíceis, produzem, são guardiãs de cultura e conhecimentos e têm seu próprio valor.
"Precisamos ensinar as crianças a valorizar as mulheres desde bem cedo, trabalhando o respeito e a igualdade. E podemos conseguir isso reconhecendo as mulheres importantes para as crianças, falando sobre elas, de suas conquistas e histórias", diz Elizabeth Geralda Souza, diretora da EMEI Floramar, em Belo Horizonte (MG), e autora de planos de atividades de Educação Infantil de NOVA ESCOLA sobre histórias das famílias.
É nessa perspectiva que os educadores da EMEI Isabele Barbosa da Silva, em Campina Grande (PB), que você está conhecendo nesta caixa, trabalham a valorização das mulheres que fazem parte da vida das crianças que frequentam a escola.
Mas esse trabalho não precisa ser feito só no dia 8 de março. Valorizar os vínculos afetivos importantes para os pequenos e mostrar caminhos para a igualdade entre homens e mulheres deve ser um trabalho constante. "Tem que fazer parte do contexto diário da escola, mesmo que em pequenas ações, em uma conversa, em uma brincadeira", diz a diretora.
Na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), essa necessidade é explicitada no campo de experiências O eu, o outro e o nós:
"É na interação com os pares e com adultos que as crianças vão constituindo um modo próprio de agir, sentir e pensar e vão descobrindo que existem outros modos de vida [...] Ampliar o modo de perceber a si mesmas e ao outro, valorizar sua identidade, respeitar os outros e reconhecer as diferenças que nos constituem como seres humanos". (BNCC, p. 40)
Em sua experiência com o convívio entre as crianças pequenas, Elizabeth conta que conforme falam e ouvem diferentes histórias e modos de viver, aos poucos, elas começam a reconhecer que a trajetória do outro é parecida, mas não é igual, e vão aprendendo a respeitar essas diferenças.
Mas para que essa experiência seja significativa, vale atenção a alguns pontos, como respeitar as crianças que não desejam compartilhar seus sentimentos e pensamentos, oferecer diferentes tipos de linguagem e suportes para que elas se expressem, para além da oralidade, e cuidar para que as crianças respeitem as falas dos colegas. É preciso, ainda, acolher os que preferirem apontar um homem em vez de uma mulher para ocupar esse espaço de relevância, ou alguém que não seja da família, como é muitas vezes o caso de crianças que vivem em abrigos.
Para Gina Vieira Ponte, professora de Língua Portuguesa na Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF) que desenvolve trabalhos de Educação e valorização de mulheres desde 2014, ouvir e reconhecer as histórias de mulheres próximas tem um papel crucial no desenvolvimento das crianças porque isso dá a elas uma noção mais clara sobre suas origens.
Por um lado, isso significa que elas podem começar a se familiarizar com a noção de história antes de, no Ensino Fundamental, estudar sobre eventos passados da humanidade. E, por outro, conhecer a história de mulheres da família ou muito próximas, que vieram antes dela, permite que a criança localize o seu lugar no mundo, e valorize o seu pertencimento àquela família e comunidade. "Nós somos feitos de histórias, e elas são decisivas para nos entendermos e nos fortalecermos no mundo”, diz Gina. “Por isso, quando as crianças conhecem o percurso das mulheres que admiram, elas fortalecem a autoestima, o lugar social do qual fazem parte, e a comunidade de onde vêm. E saber de onde se veio é preciso para ter muita clareza para onde se deseja ir".
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