Um convite a olhar os pássaros pela janela de casa
Com a diminuição de ruídos e de circulação de pessoas nessa quarentena, a observação desses animais é uma atividade perfeita para as crianças
Antes da quarentena, na EMEFI Hernani Donato, em Botucatu (SP), as crianças partiam em expedições pela região em busca de avistar pássaros. Paravam, observavam suas cores, movimentos e cantos. A atividade é fruto do Projeto Passarinhando, desenvolvido pelo Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (Unesp), e que parte da observação das aves para trabalhar noções iniciais de biologia, ecologia e educação ambiental com as crianças.
Silvia Nishida, que está à frente da iniciativa, explica que as aves são ideais para isso por serem fáceis de avistar por todo o Brasil (inclusive em ambientes urbanizados), por se relacionarem com o ar, o solo, as árvores e as águas, oferecendo a oportunidade de abordar esses temas, e, sobretudo, porque costumam maravilhar os pequenos. “Esse envolvimento é essencial para a aprendizagem e para que elas se comprometam a zelar pela natureza”, diz.
Para o ornitólogo Renato Torres, professor na Universidade Federal do Tocantins (UFT), observar as aves aguça a curiosidade das crianças: “Ao querer mais respostas, elas fazem mais perguntas. Essa é a base do pensamento científico”.
Assim, as crianças experimentam ser pequenos cientistas, observando as aves para depois tentar identificá-las a partir de um guia e, por fim, pesquisar sobre seu tamanho, forma, cor, hábitat, alimentação, reprodução, comportamentos, função ecológica e características que as distinguem de outras aves e animais, conforme as habilidades presentes na área de Ciências da Natureza da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para os anos iniciais do Ensino Fundamental.
E como as aves também fazem parte do nosso folclore, das músicas e até das obras de arte, o trabalho com pássaros abre a oportunidade de incentivar que as crianças criem suas próprias histórias, desenhos e pinturas.
Outro aspecto que pode ser abordado é a importância de aves que costumam ser menos queridas, em geral por se relacionarem com a morte e a decomposição, mas que exercem uma função ecológica relevante. É o caso dos urubus. “Vale pontuar que há uma injustiça nisso, porque a garça-branca faz uma função semelhante do urubu, mas todo mundo gosta só dela por ter uma estética mais aceita”, destaca Sueli Furlan, professora do departamento de Biogeografia da Universidade de São Paulo (USP).
Mas, para além disso tudo, observar as aves pode ser simplesmente uma atividade prazerosa. “Escutar a natureza e essa paisagem sonora é tranquilizador, porque os pássaros estão sempre encantando, palavra que vem justamente de ‘canto’”, diz Sueli.
Observação em casa
Em tempos de isolamento domiciliar, observar as aves mostra-se uma atividade especialmente oportuna para realizar a partir de janelas, varandas e quintais. Isso porque houve uma diminuição de ruídos e de circulação de carros e pessoas pelos ambientes, o que levou diversos animais a expandirem suas áreas de circulação. Assim, é possível apreciar as aves presentes ao redor, sobretudo em dias mais quentes e ensolarados, e junto ao nascer ou ao pôr do sol.
Porém, pode ser também interessante atrair esses animais para um pouco mais perto, para observá-los melhor e por mais tempo, oferecendo as comidas favoritas deles: mamão, banana, manga, goiaba, semente de girassol, alpiste e painço. É possível, ainda, preparar uma mistura para bebedouros com 4 partes de água para 1 de açúcar branco, especificamente.
Tanto o comedouro quanto o bebedouro devem ser limpos diariamente e dispostos em locais altos e silenciosos. E, então, o segredo é esperar, porque às vezes as aves demoram para encontrar a nova fonte de alimento.
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