5 respostas para garantir avanços na alfabetização em 2020
Especialistas mapeiam estratégias para redesenhar o ano letivo com foco na alfabetização das turmas do 1º e do 2º ano
Salas de aula vazias, crianças e professores em casa desde março, relacionando-se virtualmente. Essa é a realidade que se impõe nas escolas – mundialmente – com a epidemia de coronavírus.
Educadores responsáveis pela etapa da alfabetização, certamente, sentem-se ainda mais desafiados nesses tempos, pois a fase tem muitas peculiaridades. Uma delas, essencial no processo – dificultada nesse momento –, é justamente a interação dos alunos com o professor e a troca de hipóteses e aprendizados entre os próprios estudantes. Diante dessa situação, os docentes precisam, necessariamente, replanejar suas aulas para os dias de isolamento e pensar na continuidade, quando as aulas presenciais voltarem.
Como forma de orientar os educadores a darem conta das novas demandas, NOVA ESCOLA listou cinco perguntas frequentes que podem surgir nesse percurso e algumas possíveis respostas, fornecidas pela consultora Maria José Nóbrega, professora da Pós-graduação do Instituto Vera Cruz, em São Paulo (SP) e assessora pedagógica dos Planos de Aula NOVA ESCOLA, que supervisionou a produção desta caixa.
Por onde começar o replanejamento?
Quanto menor a criança, mais difícil será para ela interagir em situação remota. Muitas das intervenções que colaboram para a alfabetização, ocorridas em um ambiente físico, não podem ser reproduzidas em aulas a distância ou substituídas sem algumas perdas. Mas é possível fazer adaptações, mesmo com poucos recursos tecnológicos. "Importante, para evitar frustrações e ansiedade, é que o professor tenha claro que parte do que foi planejado para o ano letivo de 2020 não poderá será cumprido", diz Mazé. Nesse cenário, é necessário priorizar alguns temas como essenciais e trabalhar com esse foco, dentro das limitações que se apresentam. "A pandemia trouxe um impacto emocional muito grande para todos os envolvidos no aprendizado. O coronavírus expôs muitas desigualdades que existem na educação – alunos e famílias, assim como professores – têm graus diferenciados de acesso à tecnologia. Portanto, para poder atender adequadamente é importante buscar soluções mais simples nesse momento", recomeda a consultora.
Como se comunicar com as famílias?
Na fase de alfabetização, o envolvimento da família com o processo de aprendizagem da criança é essencial. No cenário atual isso é ainda mais importante, pois os pais medeiam o contato da criança com a escola, seja por meio de equipamentos ou da adesão do aluno às aulas remotas. Mas as famílias não podem ocupar o papel dos professores. "Não podemos esperar que elas nos substituam, mas sim que sejam nossas parceiras", defende Mazé. Ela sugere que, para facilitar o trabalho dos pais ou responsáveis, no início de cada semana, seja apresentado à família o planejamento para os próximos dias. Assim eles já ficam sabendo de antemão o que será trabalhdo e quais materiais serão necessários. Essas informações podem ser mandadas por escrito ou por áudio pelo WhatsApp, uma das ferramentas mais utilizadas pela população em geral. "O áudio é essencial, especialmente quando falamos de alunos de escolas públicas, pois muitos pais também têm dificuldade de leitura", ressalta a especialista. Vale dizer que o coordenador pedagógico deve ajudar a fazer essa ponte com as famílias, entrando em contato periodicamente, perguntando como se sentem, como as crianças estão, como ajudar. O acolhimento às famílias, sem julgamentos, é primordial.
Como a comunicação entre pares pode ser útil?
Mais do que nunca, professores precisam se reunir com seus pares para a troca de experiências, angústias, dificuldades, conquistas, soluções. Mazé insiste que é muito importante manter contato, seja com uma pessoa só, em duplas, com vários colegas ao mesmo tempo. "Não abra mão desses encontros. Muitos professores relatam que essa troca, às vezes difícil de acontecer em outro contexto por conta da rotina atribulada, têm acontecido com frequência nessas circunstâncias, e tem sido muito importante", insiste a especialista. Existem diversas plataformas de reuniões, como o Skype, o Google Meet e o Zoom. Combine com os colegas da sua escola qual é a mais acessível para todos coloque esses encontros virtuais na rotina.
Como avaliar o aprendizado remotamente?
Isso pode ser feito de diversas maneiras, mas uma delas é propor que as crianças compartilhem as tarefas que estão produzindo por fotos ou vídeos no WhatsApp. Para isso, mais uma vez, os pais são importantes parceiros. Você pode sugerir que elas escrevam uma lista das palavras que aprenderam, por exemplo. Podem redigir diretamente no aplicativo de mensagem ou escrever em um papel e depois fotografar, ou mesmo filmar. O professor também pode ditar para o aluno, por áudio ou vídeo, e ver o resultado dessa escrita, ou pedir para os pais fazerem esse ditado com o filho e darem retorno do material. Não se preocupe se os pais interferem nessa escrita, não dá para ter controle de tudo. Vale ressaltar que, para o aluno, ouvir a voz do professor ou mesmo vê-lo, fortalece o vínculo entre eles, o que é fundamental sempre - e ainda mais na alfabetização.
Como organizar a volta e reavaliar os alunos?
No retorno às aulas presenciais, o professor terá de avaliar caso a caso, para ter noção do que foi apreendido durante a quarentena. No caso do 1º ano, você pode sugerir que o aluno faça uma lista das palavras que já sabe escrever. Para o 2º, peça que o aluno reescreva uma história conhecida. O diagnóstico nessa etapa tem de ser feito tão logo as aulas presenciais retomem, para que seja possível atuar rapidamente nas defasagens. Em alguns casos, será necessário reorganizar as salas de aula, agrupando as crianças de acordo com dificuldades. "Muitas coisas não terão funcionado como planejamos, mas isso não deve ser motivo de estresse. A volta às aulas após um processo longo e traumático como a quarentena exige cautela. As escolas saberão se organizar de acordo com suas necessidades, porque elas conhecem bem sua comunidade", diz Mazé. Outro ponto que deve ser levado em conta é que, ao longo da quarentena, se houve devolutivas de materiais e trocas constantes com a criança e a família, essa avaliação também já foi feita, ainda que apenas em parte.
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