Matemática no 4º e 5º ano: 5 respostas para retomar o rumo
Descubra como redesenhar o ano letivo do componente curricular para as turmas mais velhas do Fundamental I
O ano letivo de 2020 está se desenhando de maneira bastante atípica por conta da pandemia de covid-19 no Brasil. Com muitos alunos tendo aulas a distância e outros com aulas suspensas, é consenso entre os educadores que o conteúdo, em todas as áreas, ficará, em parte, comprometido em relação ao que foi planejado. Neste cenário, o que é possível fazer no replanejamento das aulas para garantir os aprendizados em Matemática para as turmas do 4º e do 5º ano do Ensino Fundamental?
Em Matemática, o conhecimento avança com base nos debates que os alunos travam em cima de problemas apresentados pelos professores. Como encaminhar essas discussões remotamente? Essa é a questão que se apresenta neste momento de distanciamento social. Muitos têm condições de continuar a fazer isso virtualmente, apoiados na tecnologia. Outros estudantes, não.
Cada professor terá de avaliar sua realidade, fazer escolhas e adaptar as aulas de forma que todos os alunos possam ter acesso aos conteúdos. E nem tudo são perdas: essa talvez seja a oportunidade de aproximar a Matemática do cotidiano dos alunos, meta sempre almejada por educadores.
Para mapear alguns caminhos, conversamos com os especialistas Fernando Barnabé e Pricilla Cerqueira. Além disso, todos os conteúdos desta caixa, incluindo esta reportagem, foram produzidos com a consultoria da formadora de professores Luciana Tenuta, mestre em Ensino de Matemática pela Pontifícia Universidade Católica de Minas (PUC-Minas), bacharel e licenciada em Matemática pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e especialista do Time de Autores de NOVA ESCOLA.
Por onde recomeçar o replanejamento nas turmas de 4º e 5º ano em Matemática?
Nos últimos anos do Fundamental I, vale a pena começar pelas unidades temáticas Números e Grandezas e Medidas, da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
Em Números, o foco deve estar nas estratégias de cálculo. É muito importante investir nas quatro operações, mas principalmente, na multiplicação e divisão. O conceito de frações também é prioridade.
Quanto à Grandezas e Medidas, Fernando Barnabé insiste que os anos iniciais são essenciais para que o aluno desenvolva essas noções. E o mais importante é que o aluno aprenda a explorar a grandeza em si – ou seja, compreender o que é volume, capacidade e qual a relação entre as diferentes unidades de grandeza. “O foco não deve ser a transformação da unidade, mas o entendimento do conceito.” Luciana ressalta ainda que o professor precisa aproveitar o momento para aproximar a Matemática do cotidiano do aluno, da sua vida prática. O fato de a criança estar tendo aulas em casa talvez facilite esse processo, sugerindo que utilize recursos caseiros para o aprendizado. “É a hora de fazer a criança ver o mundo por meio de um olhar matemático”, analisa.
Ao organizar o replanejamento, como considerar o papel da família?
A família tem relevância ainda maior no aprendizado, pois está muito mais próxima do aluno no contexto da pandemia e da quarentena. Não há como não levar em conta essa relação. Será com esse núcleo familiar que o aluno vai discutir e dialogar a respeito das problematizações matemáticas. No entanto, é preciso atenção para não delegar aos familiares a responsabilidade pelo ensino. “Isso é papel da escola, dos educadores”, ressalta Pricilla Cerqueira.
Fernando Barnabé chama atenção para outra questão: a do preconceito em relação ao componente curricular. “Muitos pais acabam creditando o fracasso do filho na Matemática a uma questão genética”, diz. Isso tem reflexo negativo no desenvolvimento do aluno. “Acham que porque eles tiveram dificuldade, seus filhos também terão. É preciso desconstruir essa ideia com urgência”, alerta o especialista.
Para aproximar a família, sem que as pessoas se sintam sobrecarregadas, uma boa estratégia é sempre apresentar, no início da semana, as atividades que serão oferecidas. Dialogar com os pais, explicando como eles podem auxiliar, o que será preciso providenciar de material para as atividades que serão dadas, também os torna mais próximos da escola, facilitando que o aluno aprenda. “Falar sobre os horários de aulas e convidá-los a se envolverem em algumas atividades também é uma boa forma de estabelecer parcerias”, afirma Pricilla.
Como avaliar o aprendizado remotamente?
A avaliação em Matemática, na opinião de Fernando Barnabé, precisa ser repensada, e a quarentena pode ser um bom momento para isso. Para ele, vale mais o aluno ser avaliado em sua totalidade, e não num sistema de prova escrita. “Quando falamos em resolução de problema, uma ideia boa é construir com os alunos um painel de soluções”, exemplifica. Remotamente, isso pode ser mais difícil, porém não é impossível. O professor pode pedir que os alunos enviem suas hipóteses para solucionar o problema. Depois, com esse material, pode montar um painel com o que foi apresentado. Isso deve ser compartilhado com a turma. O painel de soluções é pensado para que os alunos apresentem e troquem entre si suas observações e estratégias de resolução da atividade proposta. Uma possibilidade é formar um grupo no WhatsApp com a turma e o professor e trocar as construções por meio de fotos, dando espaço para os estudantes explicarem os respectivos pontos de vista e justificarem suas as escolhas. Outra possibilidade é conduzir uma aula síncrona (videoaula) por meio do Google Meet ou outra plataforma e pedir para que cada um mostre o que fez, justificando a escolha e o cálculo. Nessa atividade, é possível verificar estratégias, ver se os alunos estão aprendendo. É uma forma, segundo Fernando, de “fugir” da avaliação tradicional.
Como organizar a volta e reavaliar os alunos?
Um bom exemplo de como fazer pode ser encontrado nos Planos de Aula NOVA ESCOLA de Matemática. Luciana Tenuta lembra que o professor encontra no material o item “Raio X”, uma forma de avaliar o que o aluno aprendeu daquela aula. O “Raio X” pode auxiliar na avaliação feita ao longo da quarentena, como também pode ajudar a compor uma avaliação diagnóstica, no retorno às aulas presenciais.
Como garantir a equidade e o nivelamento da turma?
A quarentena traz à tona algumas evidências que a escola muitas vezes despreza em seu cotidiano, como a heterogeneidade das salas de aula. Para Luciana, essas diferenças provavelmente se acentuarão com as aulas remotas. Os professores precisam abrir o olhar e criar formas de lidar com essa questão. Um exemplo oferecido pela professora Luciana Tenuta é a criação de turmas flexíveis para as aulas de Matemática, nas quais os alunos são divididos de acordo com os seus conhecimentos na disciplina. A volta será um momento de retomada do conteúdo, numa escola diferente daquela que existia antes, com nova rotina e como muitas demandas.
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