Para repensar o ano

Ciências: 5 respostas para replanejar as aulas do 1º ao 5º ano

Redesenho do ano letivo deve ser sensível à realidade dos alunos e priorizar habilidades que não podem ficar para trás

Em Ciências, pensar em experiências que possam ser feitas a partir de recursos do dia a dia é uma boa estratégia para o ensino remoto. Ilustração: Nathália Takeyama/NOVA ESCOLA

Não tem jeito: no ensino de Ciências do 1º ao 5º ano em 2020, algumas aprendizagens e habilidades terão de ficar para trás para que outras sejam priorizadas. Pelo menos é essa a perspectiva dos especialistas Cíntia Diógenes e Leandro Holanda, que colaboraram com o Time de Autores NOVA ESCOLA dedicado a esse componente curricular.

Para ajudar você a garantir ao menos o mínimo essencial para que as crianças avancem, eles responderam a cinco perguntas principais. Confira as dicas.

1. Por onde começar o replanejamento para as aulas de Ciências com as turmas do 1º ao 5º ano?

Para fazer o replanejamento, além de alinhar as decisões à BNCC, é importante que haja sensibilidade da equipe pedagógica da escola quanto aos recursos tecnológicos que os estudantes possuem. “É preciso nivelar por baixo, sempre”, reforça Cíntia Diógenes, formada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Ceará (UFC). A especialista diz que “muitos alunos têm sido excluídos da escola nesse momento simplesmente por não terem as ferramentas tecnológicas que possibilitem a participação em  aulas síncronas) [como as videoaulas que vêm sendo transmitidas pela internet]”. 

Uma boa saída é priorizar habilidades que podem ser desenvolvidas por meio da interação da criança com situações simples do seu dia a dia, recomenda  Leandro Holanda, mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP). Por exemplo: ao propor um experimento, sugira ao aluno usar materiais presentes na cozinha. Se a atividade for construir protótipos ou uma maquete  do sistema solar, uma boa dica é reaproveitar sucatas e outros elementos de fácil acesso. Ou, então, oriente a produção de pequenos vídeos em casa, com relatos de experiências do cotidiano (mas lembre-se: a interação entre o professor e o aluno é importante sempre, principalmente para as turmas dos anos iniciais).

2. Nas aulas de Ciências a distância, que tipo de atividade é mais adequada?

“Os alunos não vão dar conta de tantas videoaulas e formulários on-line. O mais interessante agora é mantê-los engajados com experiências criativas”, aconselha Leandro. É interessante elaborar  atividades que envolvam conversas, entrevistas com a família e experimentações.

Para o 2º ano, a BNCC traz o tema dos acidentes domésticos, que é importante para que o aluno observe o espaço onde vive. Já para o 4º ano, há a temática das misturas, em que o estudante pode utilizar materiais simples para os experimentos. Da janela ou do quintal de casa, a criança consegue, ainda, trabalhar com registros do céu e da sombra.

O importante é que, ao propor sugestões para o ensino remoto, o professor garanta que as atividades preservem  a postura investigativa voltada à resolução de problemas. Outro ponto de atenção, segundo Cíntia, é garantir um uso seguro dos recursos digitais. 

A especialista enumera recursos e atividades que podem ser utilizados de forma tranquila para engajar os estudantes remotamente:

- Vídeos: Procure conteúdos que despertem o interesse dos estudantes. Reportagens, trechos de filmes de ficção e documentários podem ser sugeridos. Tenha em mente que eles não podem ser o único recurso, pois exigem uma boa conexão de internet para ser consumidos. Dê preferência para  vídeos curtos e selecione aqueles que possuam  um vocabulário adequado para a faixa etária das crianças.

- Textos informativos: Sites como Ciência Hoje das Crianças e Escola Kids trazem conteúdos embasados cientificamente e com linguagem adequada para os alunos de turmas do 1º ao 5º ano. Lembrando que alunos ainda não fluentes na leitura devem ter a possibilidade de pedir ajuda.

- Criação de desenhos: As ferramentas Paint, Paint 3D e PowerPoint são acessíveis e podem facilitar os registros dos alunos nos primeiros anos do Ensino Fundamental, período que ainda estão consolidando a escrita. Os alunos também podem desenhar no caderno e enviar as fotos.

- Produção de textos compartilhados: Por meio do Google Drive, os alunos podem produzir textos colaborativamente e o professor pode acompanhar em tempo real a produção, realizando intervenções por meio de comentários ou do chat. Mais uma vez, para os alunos que ainda não fecharam o processo de alfabetização, deve-se sugerir outras formas de registro, através de áudios compartilhados, por exemplo.

3. Como manter o contato e o engajamento com as turmas a distância na aula de Ciências?

Os alunos dessa etapa ainda estão desenvolvendo sua autonomia e, portanto, o contato entre colegas e com o docente é ainda mais importante. Desse modo, é válido apostar em elementos que façam com que eles se sintam parte de uma turma. Exemplos disso são os espaços virtuais de interação, como grupos de WhatsApp ou um mural virtual, no qual eles possam  compartilhar o que fizeram naquela semana e trocar com os colegas. 

4. Como posso avaliar o aprendizado dos meus alunos ao longo da quarentena? 

O professor deve observar como está o envolvimento do aluno em todas as atividades, avaliando possíveis dificuldades e realizando intervenções quando necessário. Nesse momento, o planejamento inicial pode e deve ser repensado para alcançar os objetivos. 

É sempre bom lembrar que a avaliação não deve ser pensada como uma forma de premiar e punir, mas como uma ferramenta que orienta o trabalho pedagógico, ajudando a repensar estratégias e metodologias. 

Para fazer isso na prática, os especialistas sugerem que, ao fim de cada atividade, o professor sistematize as ideias, organizando as discussões e propondo uma conclusão conjunta que consolida os conteúdos explorados. 

Para o modelo remoto, a turma deve discutir, elaborar conceitos com base na linguagem científica, baseado no que vivenciaram durante a proposta de aula e se autoavaliarem acerca da construção desses novos conhecimentos e da colaboração com os demais colegas.

Veja algumas estratégias para fazer isso na prática:

- Videoconferência: O professor pode agendar um encontro on-line, utilizando aplicativos, como o Google Hangout, o Zoom ou o YouTube para a turma discutir  as produções. Para isso, ele necessita de questionamentos que instiguem os alunos a refletirem acerca dos objetivos da aula e de como procederam em cada etapa. 

- Mural de produções: Pode-se sugerir que o registro realizado pelos estudantes durante as atividades práticas seja enviado às plataformas que fazem um acervo desse conteúdo. Um exemplo pode ser o Padlet, recurso digital gratuito utilizado para a elaboração de murais e painéis virtuais. Também é possível criar documentos compartilhados no Google Docs ou no Microsoft Sway.

- Produção: Pequenos textos, áudios e vídeos curtos também podem ser recursos para a sistematização (com o benefício de engajar os estudantes). Nesse caso, é importante deixar que os estudantes sejam criativos e utilizem as ferramentas que mais estão acostumados.

5. Como posso começar a me preparar e planejar uma eventual volta às aulas?

A maior preocupação deve se dirigir aos alunos que não conseguiram acompanhar os conteúdos on-line. O professor pode propor aulas assíncronas, em que as comandas ou orientações podem ser dadas por ligação telefônica ou mensagem de celular, e os conteúdos e atividades poderem ser enviadas impressas ao aluno (como é o caso de algumas redes públicas). Essas estratégias precisam ser pensadas em parceria com toda a gestão pedagógica, e a logística também precisa ser planejada. No geral, os estudantes que não possuem acesso imediato a uma conexão boa de internet conseguem, vez ou outra, ter esse acesso na casa de parentes, amigos ou vizinhos. Portanto, normalmente, propor aulas assíncronas em que o aluno possa se organizar para desenvolver a proposta de atividade sana esse problema. Esse tipo de análise precisa ser verificado em um levantamento inicial no retorno.

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