Para repensar o ano

Arte: 5 respostas para replanejar 2020 do 1º ao 5º ano

Entenda como adaptar as aulas para o ambiente doméstico, levando em conta os temas centrais de aprendizado, o engajamento, as avaliações e a volta ao trabalho presencial

Explorar o espaço doméstico nas aulas é uma possibilidade para o ensino remoto de Arte. Ilustração: Nathalia Takeyama/Nova Escola

O ensino a distância tem contornos muito mais complexos quando se trata das crianças, faixa etária também acolhida nos anos iniciais do Fundamental. O contato é um aspecto central da experiência de aprendizagem , mas a pandemia instalou o dilema mais temido: como assegurar presença no distanciamento?

A boa notícia: é possível reinventá-la no espaço doméstico, nas brincadeiras que criam elos, com aquilo que se tem à mão.

Confira as recomendações dadas por Marisa Szpigel, professora de Arte na Escola da Vila e integrante do Coletivo Oquecabeaqui?, formada em Artes Visuais pela FAAP, com experiência em formação de professores, e consultora de NOVA ESCOLA; e Tomás Decina, professor de Artes no Colégio Equipe, graduado em Artes Visuais pela Unicamp e pela Escola de Arte Dramática EAD/USP e pesquisador em performance, dramaturgia e direção de arte no coletivo Cara de Cavalo, em São Paulo.

1. Por onde começar o replanejamento para as aulas de Arte nas turmas do Fundamental 1?

Revisitar o plano didático, identificar o eixo temático para cada turma e escolher o “grande assunto” de cada ano do Ensino Fundamental é um primeiro passo para reorganizar o ano letivo, segundo Tomás Decina. Além da atenção aos objetivos de aprendizagem e à sequência das atividades oferecidas aos alunos, Tomás sugere que o docente se antecipe e teste as atividades em casa, com o objetivo de verificar possíveis problemas e propor soluções. 

Já para a consultora Marisa Szpigel, é essencial estar atento às brincadeiras, às propostas cheias de surpresas e descobertas, como em uma aventura. “A palavra essencial dessa faixa etária é contato, que tem a ver com tato; tocar as coisas. As crianças precisam de materialidade. Então, se muitas coisas não são possíveis neste momento de distanciamento, é preciso ressignificar o que temos à mão com a ação. Isso acontece, por exemplo, quando imaginamos que um tronco de árvore pode ser um avião, um passarinho.”

2. Nas aulas de Arte a distância, quais atividades ou conteúdos são mais adequados?

Os especialistas recomendam explorar o próprio espaço doméstico nas atividades propostas. Investigar cores, objetos, texturas existentes na casa, por exemplo, é uma sugestão de Tomás. “Ter em mente a relação do corpo das crianças com os objetos da casa, já ressignificados, e propor o desafio, a aventura no espaço doméstico. Como ela pode atravessar o sofá de um jeito diferente? Os artistas contemporâneos fazem muito isso. Nós ficamos adultos e vamos perdendo essa capacidade de invenção”, afirma Marisa. 

3. Como manter o contato e o engajamento com as turmas a distância na aula de Arte?

Primeiro é preciso entender que a tela do computador (e outras tecnologias) são só uma das ferramentas disponíveis para o professor. Buscar outros materiais nas casas dos alunos, aproveitar o potencial imaginativo e propor o fazer manual também são possibilidades para as aulas de Arte no contexto remoto. Resgatar as memórias dos familiares como fonte de pesquisa e imaginação também é interessante, de acordo com Marisa. 

Para Tomás, é essencial optar por sequências de atividades que façam sentido para o aprendizado, bem como explicar para a turma por que aquela atividade está sendo proposta. Compartilhar as produções dos estudantes e organizar apreciações coletivas também é importante. “Na escola isso é feito, e é fundamental que eles comentem o trabalho dos colegas”, diz ele. 

4. Como posso avaliar remotamente o aprendizado dos meus alunos nas aulas de Arte ao longo da quarentena?

Uma estratégia, segundo Marisa e Tomás, é pedir para os próprios alunos fazerem uma devolutiva - oralmente ou com a ajuda da família - de como foi o trabalho. Antes de solicitar o relato, porém, é importante que o professor explique qual será o processo da atividade e o que se busca em cada etapa. “Eles podem escrever, mandar áudio ou gravar um vídeo. Os áudios e vídeos são excelentes, dá para notar o esforço deles em encontrar palavras que deem conta da experiência. Ajuda a entender como eles estão, qual a temperatura da criatividade. Depois, é possível fazer uma amarração para que eles entendam o percurso”, explica Tomás.

5. Como posso começar a me preparar e planejar uma eventual volta às aulas?

Para Marisa Szpigel, é importante buscar entender esse período de quarentena, não como uma perda, mas ressignificar tudo o que foi vivido e aproveitado. “É legal pedir para os alunos guardarem as produções que estão fazendo em casa, tomando tudo isso como uma memória”, recomenda. Em um eventual retorno, também será importante fazer tudo que for possível ao ar livre - pensando nesse corpo que precisa correr e explorar - e repensar os espaços da escola.

Para Tomás, a escuta dos alunos tem de estar muito afinada. “No retorno, é importante ouvi-los, e revisitar o que foi feito em casa, para que eles possam comentar ao vivo as experiências e produções, como pretexto para a troca. E quem não fez, ter a chance de fazer”, aconselha. Além disso, será possível aproveitar ideias de atividades que não puderam ser executadas remotamente. “Guarde a ideia para fazer na sala de aula, dando continuidade e complemento, desdobrando os trabalhos e caminhando para coisas novas”, finaliza Tomás. 

 

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