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Saúde mental: atenção durante a pandemia
Rotina alterada e necessidade de se reinventar geram tensão nos professores. É importante reduzir exigências
A profissão de professor é cheia de desafios. Ajudar outros seres humanos a construírem conhecimento e desenvolverem a autonomia, o senso crítico e a empatia são alguns deles. No entanto, o preço pago por muitos educadores ainda é alto. O saldo é sentido na saúde, principalmente, mental.
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), essa é uma das atividades mais estressantes. Existem diversos fatores, denominados riscos psicossociais, que influenciam e podem minar a saúde dos educadores. Falta de condições de trabalho na escola, poucos recursos, carga excessiva, salas cheias de alunos e violência são alguns deles. Estresse e cansaço são sensações constantes na rotina de muitos docentes.
Agora atuando de maneira remota devido à pandemia do coronavírus, os professores não precisam lidar com alguns dos problemas citados acima, porém, a saúde mental ainda tem sido muito exigida. De um dia para o outro, as dinâmicas de trabalho foram alteradas e as ferramentas digitais, de repente, tornaram-se os únicos recursos para viabilizar as aulas. Reinventar-se, neste contexto de aulas remotas, é um elemento gerador de estresse que se soma a um cenário mundial de crise. “Essas demandas surgiram rapidamente e de maneira intensa, exigindo habilidades que nem todos os profissionais tinham. Isso cria uma situação de grande incerteza, insegurança e ansiedade. É um nível de tensão bem alto”, explica Marilda Lipp, psicóloga e diretora do Centro Psicológico do Controle do Stress, em São Paulo.
Em maio deste ano, NOVA ESCOLA realizou uma pesquisa com mais de 8 mil professores da Educação Básica sobre a situação deles ao longo da pandemia. Entre os pontos levantados está a saúde mental: apenas 8% das pessoas pesquisadas dizem sentir-se ótimas em comparação com o período anterior à pandemia. Perto de 58% consideram a saúde mental péssima, ruim ou razoável neste momento. Os termos utilizados pelos educadores para classificar a situação atual são ansiedade, cansaço, estresse, preocupação, insegurança, medo, cobrança e angústia.
As respostas mostram a importância de se discutir saúde mental e da criação de um ambiente mais seguro, que proporcione bem-estar aos profissionais.
Novas demandas, mais estresse
Além de aprender novas maneiras de ensinar, é preciso contornar imprevistos. Às vezes, o computador dá problema, o áudio de um aluno não funciona e a comunicação com a família falha. Há ainda a preocupação com aqueles estudantes que não têm acesso à internet em casa. São muitas as questões com as quais os professores têm de lidar na rotina com ensino remoto. “Existem docentes que não possuem um espaço adequado para trabalhar, dividem a casa com muitas pessoas e têm filhos em idade escolar. Também enfrentam dificuldades técnicas por não ter um equipamento ou internet de qualidade para dar as aulas”, comenta a psicopedagoga clínica Alcione Marques.
Polivalentes, os professores do Ensino Fundamental I trabalham diversas áreas do conhecimento com os alunos e, para quem atua nos primeiros anos, há o processo de alfabetização para dar conta. No contexto atual, adaptar todo o conteúdo programático para caber neste ano letivo atípico e sem precedentes preocupa e potencializa as sensações de angústia e insegurança.
“Isso tudo é angustiante. Eu não tenho segurança se o que falo chega ao aluno de maneira correta ou se o que estou fazendo é o certo”, comenta Fabio de Souza Dias, professor de turmas do 5º ano da EMEF Álvaro Armeloni, em Cariacica (ES). “Hoje a gente precisa lidar com cobranças, nos prazos que temos, sem termos tido tempo de pensar a nossa prática para o formato digital”, completa.
Marilda alerta ser importante o docente lembrar que o aprendizado é um processo contínuo. O estudante pode não aprender o que era esperado para um semestre, mas ele terá outras épocas para recuperar tudo. “É impossível manter, neste momento, o mesmo cronograma de aulas e saberes. É preciso ser flexível e compreender a situação como atípica”, diz.
Como tornar a rotina suportável
Se considerarmos que há também as demandas domésticas, a jornada de trabalho hoje parece durar 24 horas, por isso é preciso parar por um tempo e tentar relaxar. O esforço de limitar as atividades é necessário para que as chances de adoecimento não aumentem. “Cada um de nós está enfrentando diferentes batalhas nesta pandemia, o que intensifica a sensação de vulnerabilidade”, explica Ana Carolina D'Agostini, psicóloga, pedagoga e mestre em Psicologia da Educação. “Devemos acolher nossas próprias vulnerabilidades e considerarmos que, de fato, não estávamos prontos para o que estamos enfrentando. Por isso, é importante diminuir a exigência neste momento”, argumenta (leia aqui outras sugestões para cuidar da sua saúde mental).
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