Parceria:
Crie espaços de trocas e discussão entre a equipe
Encontros coletivos permitem compartilhar boas práticas, desenvolver novas habilidades e aliviar as preocupações
De um dia para outro, as escolas foram fechadas e tiveram de se ajustar à realidade de aulas remotas. Não houve tempo de pensar na prática pedagógica adaptada a esses novos dias. Tampouco foi possível se preparar emocionalmente para tudo o que está acontecendo.
Como essa é uma realidade inédita para todos, promover ações coletivas permitem compartilhar experiências e aliviar as preocupações. “É preciso acolher os professores e escutar seus problemas com foco em tentar ajudá-los. São posturas simples, porém determinantes e com potencial positivo”, comenta Luísa Meirelles de Souza Modesto, psicóloga escolar, especialista em Teoria da Clínica Psicanalítica e mestranda em Educação pela Universidade de Brasília (UnB). Além de ouvirem, os gestores podem oferecer a educação para a saúde, com o compartilhamento de informações de fontes confiáveis, que ajudem a equipe a entender e lidar com o contexto no qual vivem. “Os gestores devem ter a conversa e a orientação dos docentes sobre a saúde mental como uma estratégia institucional, focando mais nos fatores de proteção do que nos transtornos existentes”, explica Luísa.
Esses espaços de trocas e discussões podem ser organizados em formatos variados e com diferentes propósitos a depender do contexto de cada instituição ou grupo de docentes. E muitos podem, e devem, ser mantidos mesmo após a pandemia. Veja, abaixo, sugestões.
Projetos de mentoria ou de orientações
Promover conversas e trocas de informações com profissionais mais experientes diminui a sensação de solidão e contribui para aprimorar a prática pedagógica. Isso pode ser feito por meio de projetos de mentoria. Mas não só. Na EMEF Álvaro Armeloni, em Cariacica (ES), um dos professores, com experiência em ensino a distância, propôs criar um curso de aperfeiçoamento no uso de ferramentas digitais e a gestão abraçou a ideia. A ação auxilia os colegas a atuarem no universo digital, ajustando a linguagem e as atividades para o contexto de aulas remotas. “O fato é que estamos conseguindo alcançar nossos objetivos e com plena consciência de que precisamos uns dos outros. A ajuda está ocorrendo mutuamente”, comemora a diretora Genilda Subtil dos Santos Marques.
Redes de apoio mútuo
Além dos encontros para pensar a prática pedagógica, é possível propor espaços para compartilhar angústias, medos ou dúvidas relacionados ao cotidiano escolar. Na EMEF Álvaro Armeloni, o grupo de WhatsApp dos professores tem sido um dos canais para isso. Quando alguém expõe suas dificuldades, os demais manifestam apoio e, juntos, buscam soluções para o problema. Outra iniciativa são os encontros semanais, realizados virtualmente, entre os educadores de cada turno da instituição. A ideia é que sejam momentos mais leves, de conversas descompromissadas. “Nos deixamos conduzir pela alegria de estarmos juntos mesmo que distantes”, conta Genilda. “Narramos alguns fatos sérios e engraçados e, se for preciso, direcionamos nosso cuidado àqueles que estão enfrentando situações mais difíceis”, completa.
Segundo Luísa, é importante que esses encontros permitam reconhecer similaridades. Quais são os sentimentos parecidos, as preocupações? Muitas vezes um colega compartilha algo que o outro não tinha conseguido formalizar em sua cabeça, mas com o qual concorda. “Esse é o efeito do grupo, a identificação do que há em comum e do que pode ser construído junto. Quando as dificuldades são colocadas, é possível pensar em saídas e estratégias coletivas”, explica. Um ponto precisa ficar claro na condução dessas redes de apoio: não existem respostas prontas. Todos estão engajados em encontrar soluções em conjunto, o que significa que não existe algo errado, tampouco certo. Entre os benefícios, de acordo com a psicóloga, está a mensagem para os docentes de que ninguém está só, o que pode ajudar a atenuar a angústia desse momento.
Fortalecimento da gestão democrática
Para que as ações coletivas aconteçam, é necessário a gestão agir levando em conta todo o contexto daquele grupo. “Se for algo proposto de cima a baixo, que delimita e controle o que o professor vai fazer, o profissional não vai se sentir confortável em expor as fragilidades vividas nesse processo de ensino aprendizagem adaptado”, argumenta Luísa. A postura institucional deve fortalecer a rede entre os docentes e a relação com a gestão. A escuta ativa entre as pessoas envolvidas é fundamental para que as ações deem resultado. “A gestão também está enfrentando dificuldades e lidando com novas situações, por isso o coletivo deve ser favorecido. Juntamente com os professores, podem traçar as estratégias e os planejamentos, e observar o que deu certo. Se algo não funcionar, não é um fracasso individual”, finaliza Luísa (leia aqui mais sugestões para fortalecer a relação entre gestores e equipe docente).
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