Como envolver de maneira adequada as famílias das crianças no ensino remoto?
Responsáveis precisam receber orientações, formação e serem acolhidos nas suas dúvidas e adversidades
Se por um lado a escola é um espaço individual do aluno, onde ele tem contato com outras crianças e adultos, além de outras formas de Educação, agora, no ensino emergencial provocado pela pandemia, familiares e responsáveis são imprescindíveis para que as atividades remotas ocorram. Essa participação é ainda mais intensa quando se trata dos alunos do 1º ao 5º ano.
Mas a relação dos professores com a presença ativa da família nas aulas e atividades, assim como a falta dela, se mal concebida, pode ser ruim para a família, para a escola, e, principalmente, para as crianças.
O primeiro passo é compreender que a família não é especialista em educação formal. Essa é uma atribuição da escola, que possui conhecimento técnico para um ensino intencional.
A pesquisadora do Grupo de Estudos em Educação Moral (Gepem), pela Unicamp, Adriana Ramos, afirma ser vital criar um canal de diálogo permanente com a família. “É preciso orientá-los de todas as formas para que compreendam o conteúdo pedagógico propriamente, sobre como deve funcionar o auxílio nas aulas e atividades, o que não é legal fazer e por que, e também atender questões individuais de cada aluno e seus responsáveis”, instrui a pesquisadora.
As principais dicas delas são:
- Faça encontros formativos coletivos antes das aulas, e explique o processo de ensino e aprendizado para os conteúdos daquele período
- Abra espaço para as dúvidas dos pais, incentivando que eles perguntem, mandem recados
- Crie canais de diálogo individual para questões mais complexas e específicas de um aluno ou família
- Oriente os responsáveis sobre como eles devem agir no acompanhamento das aulas e atividades, embasando teoricamente por que é melhor agir de uma forma em detrimento de outra
“Há uma linha tênue entre fazer com a criança e fazer pela criança. Têm sido comum relatos de pais que falam muito durante a aula, pedindo que o filho faça de uma maneira ou de outra. Isso prejudica a reflexão que a turma faz através do erro. Ao mesmo tempo, vemos que quando os pais compreendem o que precisa ser feito e por que, eles se sentem aliviados e acolhidos, e contribuem muito mais”, explica Adriana.
E essas orientações precisam ser bem planejadas. E-mails muito extensos, todos os dias, não funcionam. O ideal são encontros formativos no início, e conversas paralelas e individuais a medida da necessidade. Textos e reportagens sobre como organizar a rotina, transtornos do sono, alfabetização, por exemplo, podem ser enviados em doses homeopáticas, e ajudam.
“Criar uma salinha de bate-papo para ajudar um pai que não consegue colocar rotina no filho não é um trabalho a mais. Isso valida o papel da escola”, incentiva Adriana, completando “que é preciso que todos tenham em mente que a educação básica é, por excelência, presencial.”
O mais importante é estar atento a saúde mental das crianças. O que não for feito agora, será feito depois, e sem prejuízos. Se o diálogo entre família e escola for permanente, todos estarão fortalecidos para o retorno.
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