Para repensar a prática

Como organizar o espaço doméstico para dar aula #EmCasa

Conforto, ergonomia e organização prévia são essenciais; combinar algumas regrinhas com a escola e a família também

Não abra mão do conforto e da ergonomia nas aulas remotas. Ilustração: Pedro Hamdan/Nova Escola

Levar a escola para casa não se resume mais as estantes recheadas de caixas com pilhas de provas e trabalhos dos alunos, livros cheios de marcações e planejamentos espalhados pelos cômodos. Com a pandemia, a escola é em casa. Dá pra separar? Bom, o ensino remoto é muito mais do que transpor a sala de aula para a tela do computador, e todos estão tendo de se reinventar. 

O aluno está na casa do professor e vice-versa. É preciso criar interação sem desrespeitar a intimidade e a individualidade de cada um, além da rotina doméstica. Trabalhão, não é mesmo? Algumas dicas podem ajudar a diminuir os desgastes e criar um ambiente satisfatório para o trabalho. 

Preste atenção no que a câmera está mostrando. Nas videoconferências, ou momentos síncronos, é preciso estar atento a intimidade de todo o grupo. O que a câmera está mostrando? Dá pra ver a cama, o pijama, o varal? Prepare o ambiente para o encontro com os alunos tendo em mente que todo o espaço irá influenciar na dinâmica da aula. Em datas comemorativas, por exemplo, vale uma pequena decoração com materiais que se tem a mão, como bandeirinhas na parede na época do São João. Tudo isso ajudará os alunos a se envolverem com o que faz sentido para o encontro. 

Prepare-se com antecedência. Organize-se para o trabalho: cheque previamente se os aparelhos eletrônicos que serão usados estão funcionando, as baterias estão carregadas e os equipamentos configurados para as necessidades daquele momento. 

Observe o conforto e a ergonomia. Água sempre por perto, boa iluminação, escolher o ambiente de menor ruído, reivindicar uma boa cadeira – afinal, serão horas e horas sentado. E, de vez em quando, levantar e alongar. Isso pode ser feito, inclusive, junto com os alunos. 

Lembre-se: o espaço pode ser afetivo. “Não há problemas no gato que passa na frente do computador, o no filho pequeno que vem dar um oi. Isso ajuda a quebrar o gelo, a frieza da tela”, defende a coordenadora pedagógica Denis Jardim, da Escola Stance Dual, em São Paulo. Para a pedagoga, levar o público para o privado é o normal por hora, e embora seja necessário organização e apoio para que uma coisa não atrapalhe a outra, negar a realidade não é uma opção. Então, o melhor é dialogar e brincar com ela. “Com as crianças e mesmo os mais velhos dá pra pedir que cada um mostre o que está vestindo no pé. A conexão é imediata, e o professor fica relaxado para entrar na aula”, conta Jardim. 

Ajude a família e o aluno a organizarem também a rotina. Alunos e família também devem ser orientados de que o momento da aula e do estudo deve ser feito em espaço adequado. A aula é um ritual, e é preciso respeitar esse momento. A cama e o sofá podem gerar desânimo, e é preciso provocá-los a estarem ativos e participantes. Se possível, peça que abram as câmeras e ajudem a família a organizar essa rotina. 

Cuide das horas de trabalho. Do contrário, pode ficar exaustivo, sem começo e fim delimitados. É preciso montar o planejamento de trabalho para que em casa ele não ultrapasse o tempo que seria passado na escola. Esse é um papel da escola, e coordenadores e grupos gestores devem estar atentos; se necessário, professores devem delimitar as fronteiras do trabalho com a casa. Isso inclui tempo suficiente para fazer a comida e se servir, pausas para ir ao banheiro e fazer um lanche ao longo do período laboral, por exemplo. 

Essas fronteiras devem estar evidentes para a família também. Os pais podem, em muitos casos, acompanhar a aula, mas não podem interferir nas dinâmicas, como fazer comentários e tirar fotos da tela. Essa orientação deve ser passada previamente. “No caso dos adolescentes, a orientação é que a família deixe ele trabalhar livremente, mas com a porta aberta, e de vez em quando é bom passar e dar uma espiada. No momento da aula e do estudo, não é hora de jogos e conversas paralelas excessivas”, recomenda a pedagoga. Muitos alunos estão dividindo computadores e celulares com outras pessoas da casa, por isso, a organização em conjunto com a família deve avaliar uma flexibilidade de horários para encontros síncronos e assíncronos. 

Organize seus arquivos digitalmente. A professora de Português, também da Stance Dual, em São Paulo,  Francielli Miquelini de Acerga conta que é sempre desafiador ter de lidar com novas tecnologias. E que esse tempo adaptando a elas pode ser desgastante. “Acredito que o começo desse ensino emergencial tenha sido o pior. Foi importante migrar todos os meus arquivos para uma nuvem (servidor remoto) e fazer a organização digital dos planos, classes, trabalhos. Tirar um tempo só para isso pode poupar muito tempo no dia-a-dia”, relata a professora. 

Troque com outros professores. Por último e não menos importante: sempre vale conversar com os outros colegas professores, trocar experiências, dúvidas, conversar sobre a turma. Todos estão aprendendo a andar andando. 

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