O papel dos professores do 6º ano na transição durante a pandemia
Mais do que nunca, em 2021 será preciso acolher os alunos egressos do 5º ano e reforçar o diagnóstico pedagógico
Na passagem entre os anos iniciais e os finais do Ensino Fundamental, o papel dos professores especialistas que receberão as turmas do 6º ano é fundamental. Em 2021, após este ano de pandemia, a missão será ainda mais desafiadora. É que depois de tanto tempo longe da escola, os estudantes que estão mudando de etapa precisarão, mais do que nunca, de acolhimento, principalmente diante de tantas incertezas sobre o futuro. Por isso, é necessário que educadores do 6º ano estejam preparados para receber essas crianças de braços – e coração – abertos.
Renata Borges, mestre em Educação e doutoranda no programa de Psicologia da Educação pela PUC-SP, afirma que não há uma receita pronta, uma vez que cada escola tem sua própria realidade. Mas, para ela, o professor do 6º ano precisa, sobretudo, identificar-se com a etapa e ter nítido o que vai enfrentar no próximo ano. “Esse educador terá um grande trabalho pela frente, no sentido de desconstruir o medo e reconstruir sonhos dessas crianças”, ressalta.
Lys Vinhaes, doutora em Educação e pesquisadora na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e pesquisadora no projeto "Sexto ano, transições e participação: diagnóstico e intervenção no Colégio Municipal Presidente Castelo Branco, Pojuca (BA)", reforça que o professor do 6º ano deverá ser escolhido a dedo, por conta da sensibilidade que deverá ter com os alunos em processo de transição, de criança para adolescente, de tutorado para mais autônomo.
Para ela, será essencial começar o próximo ano com uma análise diagnóstica e, só depois disso, se aprofundar nos conteúdos pedagógicos. Antes de tudo, no entanto, é preciso saber como 2020 se desenrolará, já que são muitos os cenários que afetarão 2021.
A psicóloga, mestre e doutora em Educação Olívia Silveira sustenta que a pandemia e o distanciamento social fizeram um convite aos professores e todos os atores educacionais: salto no escuro, muitas vezes, sem paraquedas. Um convite que, segundo ela, foi aceito.
“É bonito acompanhar o comprometimento desses profissionais em enfrentar receios e resistências antigas e reinventar suas práticas para, de alguma forma, chegar até o estudante e não ‘deixar a peteca cair’. O momento é de manter o ritmo, de construir e fortalecer laços de pertencimento com os estudantes, mas também com as famílias/responsáveis. É manter o interesse pela escola e seus saberes”, argumenta a educadora, que atua como secretária de Educação de Pojuca (BA) e faz parte do mesmo projeto que Lys Vinhaes.
Dicas práticas para uma boa atuação na transição
Identifique-se com o 6º ano. Para Renata Borges, tudo começará na atribuição de aulas. “Se o professor tiver a escolha e a possibilidade, e também se identificar com o 6º ano para lecionar nessa etapa, ótimo. Se não tem, seja claro e transparente, pois essas crianças vão precisar ser muito bem acolhidas”, reflete.
Escute os alunos. Depois do processo de atribuição de aulas, quando os alunos chegarem, as escolas precisarão ter espaços de escuta, de interação com o grupo, de entender esse momento, as angústias e as expectativas. Ou seja, a escuta ativa deve ser primordial para as ações do início do ano ou do retorno das atividades. O professor precisa ter uma escuta ativa muito sensível para que observar as entrelinhas, reparar quais as expectativas e as fragilidades daquele grupo e, a partir daí, começar a estabelecer uma relação afetiva com os alunos.
Faça uma análise diagnóstica. Só depois desse momento é que começa, de fato, o trabalho efetivo de conteúdo pedagógico.
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