Como o diretor João Paulo avalia o trabalho remoto off-line com os alunos
Por um lado, ele ressalta o fortalecimento dos vínculos com os estudantes e famílias. Por outro, acredita que os conteúdos dos materiais impressos distribuídos poderiam ser mais profundos
As atividades desenvolvidas pela EE Doutor Pompílio Guimarães ao longo dos meses de pandemia estão sendo constantemente avaliadas pela equipe. No contexto do distrito de Piacatuba, em Leopoldina (MG), o conhecimento prévio dos professores sobre a realidade de cada aluno - onde moram, como vivem - fez toda a diferença na criação de um material didático apropriado para o período de quarentena.
“Penso que esse conteúdo poderia ser mais avançado, mas, ao mesmo tempo, acho que isso traria mais estresse para pais e alunos”, pondera o diretor João Paulo Araújo. Abaixo, alguns itens do trabalho avaliados por ele e equipe.
Maura Barbosa, coordenadora pedagógica da área de gestão escolar e educacional, conhece e admira o trabalho do diretor da EE Pompílio. “João Paulo é muito preocupado com a qualidade do ensino e faz questão de ir à casa dos alunos para conhecer as famílias e saber quais as dificuldades que enfrentam.”
Maura ressalta que muitos alunos da zona rural podem não saber matemática formalmente, mas olham para um boi e sabem dizer quanto pesa, têm noção do tempo que leva para um ovo ser chocado. “Os saberes são outros, mas muitos professores desconhecem a realidade dessas crianças, por isso João fez muito bem em ir aos territórios.”
Para Isabel Frade, pesquisadora do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (Ceale) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o trabalho do gestor João Paulo é louvável porque faz essa ponte entre a escola e a cultura local. Ao ir às casas, ele não está delegando o trabalho dos professores aos pais, mas, sim, demostrando sua preocupação com o aluno, avaliando suas condições de aprendizagem e valorizando suas potencialidades.
FOI BOM
Aspectos socioemocionais
O trabalho de acolhimento e fortalecimento de vínculos é um dos pontos celebrados pela equipe da EE Doutor Pompílio Guimarães. “Conhecer o território nos deu força para seguir e criar projetos e conteúdos mais adequados”, explica João Paulo. “Os projetos de meio ambiente (distribuição de sementes e mudas) e da cápsula do tempo (saiba mais aqui <link conteúdo 5>) foram ideias muito importantes do ponto de vista socioemocional no contexto da quarentena.
Biblioteca a serviço dos alunos
A estruturação da biblioteca, iniciada em 2019 e continuada este ano, tem permitido entregar a cada aluno, juntamente com o Plano de Estudo Tutorado (PET), um livro mais de acordo com seus interesses, criando maior atenção à leitura.
PODE MELHORAR
Reconhecimento das limitações das famílias
Apesar do conhecimento prévio da realidade de Piacatuba, João Paulo diz que faltou em alguns momentos o cuidado para não exigir das famílias materiais que elas não tivessem acesso. “Havíamos combinado de não pedir nada para os alunos que eles não pudessem ter em casa, porque a proposta é de educação inclusiva. Mas falhamos nisso, porque pedimos cola e tesoura. E pedimos porque nós, professores, temos esses itens em nossas casas, e achávamos que os alunos teriam, o que foi um engano.”
Nas próximas vezes... A equipe da escola quer conhecer cada vez mais a realidade dos alunos. Ir pessoalmente à zona rural, por exemplo, o que não foi possível na semana de formação deste ano.
Aprofundamento dos conteúdos
João Paulo considera que talvez tenha faltado um aprofundamento maior nos conteúdos dos kits distribuídos. “Os PET podem ir mais a fundo, talvez. Mas o que buscamos, especialmente neste momento, é fazer com que o aluno participe, antes de tudo, e não desanime.
Nas próximas vezes... Pode ser interessante criar um canal de comunicação eficiente entre professores e alunos: uma ligação telefônica semanal, por exemplo, para se fazer mais presente. João Paulo considera que é possível também melhorar o retorno que a escola dá para os pais das atividades realizadas pelos alunos.
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