Veja o que funcionou - e o que não funcionou - no planejamento da escola
Formação ganhou novos sentidos diante da pandemia, ganhou potência e encontrou obstáculos. A coordenadora pedagógica avalia aqui todos eles
No livro A Educação na Cidade, Paulo Freire cravou: “Ninguém começa a ser educador numa certa terça-feira às quatro da tarde. Ninguém nasce educador ou marcado para ser educador. A gente se faz educador, a gente se forma, como educador, permanentemente, na prática e na reflexão sobre a prática”.
Pensar criticamente o processo é a base do trabalho proposto pela coordenadora pedagógica Jéssica Matsumoto, que há 10 anos atua na EMEB Aldino Pinotti, em São Bernardo do Campo (SP).
Lá, as professoras transformaram o Diário de Bordo, que comumente é visto como uma tarefa burocrática, de prestação de contas, “em investigação e compreensão da prática pedagógica como um sistema de crenças e valores, capazes de estreitar vínculos”, define Jéssica. Ainda assim, esse foi um “desafio com muito riso, mas também com muito choro”, complementa.
Criar identidade e memória com os pequenos, que estão justamente na fase de produzir a matéria-prima da lembrança (isto é, as experiências), foi o caminho natural de uma formação já em curso desde o início do ano na escola.
Com a pandemia, esse percurso formativo foi ressignificado e potencializado para dar conta dos novos dilemas da escola. Para as professoras da Aldino Pinotti, a devolutiva da coordenação ao trabalho desenvolvido foi feita por meio de cartas, favorecendo o diálogo, fala e escuta, neste momento de distanciamento social. Fica a dica.
Aqui, a coordenadora destaca o que, ao longo do processo, funcionou bem, quais foram os obstáculos, e o que, nas próximas vezes, deve ganhar mais importância no planejamento.
FOI BOM
Autonomia e autoria
Para a coordenadora pedagógica, a pandemia deu a oportunidade de ampliar os conceitos sobre documentação. Isso favoreceu a autonomia da equipe e melhorou as práticas de registro. “Todo o processo deve levar o professor a se descobrir pesquisador e autor do próprio trabalho. O grupo de professoras conseguiu criar uma memória individual e da turma, algo que era o nosso ponto de chegada.”
Uso de tecnologias
O emprego de novas ferramentas e as inovações no blog da escola também foi ponto positivo. O uso compartilhado de aplicativos como o Padlet ampliou a participação dos alunos e das famílias e organizou de forma eficiente uma grande quantidade de registros, que ficariam dispersos em pastas e no WhatsApp, inacessíveis e, portanto, sem grande utilidade.
Fortalecimento da equipe
Para a coordenadora, o trabalho efetivamente em grupo, com professores e direção se apoiando para a construção de práticas, estratégias e ideias em conjunto, é digno de nota: foi fundamental para que a formação se transformasse em prática pedagógica.
PODE MELHORAR
Observar e registrar cada vez melhor
As formas de observação ainda ficam muito restritas ao que a família escolhe - um desafio que dificilmente será superado durante o ensino remoto. Também há o desejo de buscar outras estratégias de documentação e qualificar as já usadas, de modo que favoreçam ainda mais a participação das crianças (esta é uma meta para o futuro). “Não temos ainda uma avaliação completa sobre a dimensão de tudo o que está sendo feito, mas com certeza sairemos desta situação ainda mais fortalecidos e conscientes de nossa intencionalidade pedagógica”, reflete Jéssica. Ela acredita também que é preciso ampliar o conhecimento das ferramentas tecnológicas e diversificar suas formas de uso.
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