Como uma professora de Alfabetização tem avaliado alunos do 2º ano
A alfabetizadora Kelly da Silva optou por continuar a acompanhar a mesma turma do ano passado para combinar avaliações cotidianas com encontros individuais com os alunos a cada 2 meses
Em março de 2020, a professora alfabetizadora Kelly Cristiane da Silva Verdan, de Vinhedo (SP), foi pega de surpresa pelo impacto que a crise do coronavírus, instantaneamente, causou à Educação. Mas ela tinha uma carta na manga: a comunicação direta com as famílias de seus alunos do 2º ano da EM Dra. Nilza Maria Carbonari Ferragut, por meio do projeto Escola e Família Conectadas, cujo objetivo era aproximar a comunidade escolar.
Com mais de um ano de distanciamento social, Kelly percebe o quanto esse canal facilitou a adaptação das aulas para o ensino remoto e, consequentemente, ajudou na hora de fazer as avaliações a distância. “Antes mesmo da pandemia, trabalhava questões como orientações de leituras e atividades de lição de casa, dificuldades e encaminhamentos com as famílias, pelo WhatsApp e por um canal que mantenho no YouTube, para que eu pudesse acessar mais pais e responsáveis”, explica.
Mesmo com essa “vantagem”, avaliar os alunos a distância tem sido um trabalho desafiador para a professora alfabetizadora. Ela nem sempre consegue falar com todas as famílias, o que dificulta o processo. Com alguns alunos, por exemplo, Kelly ainda não conseguiu fazer a sondagem, avaliação inicial para identificar a hipótese de escrita de cada criança, dada a indisponibilidade dos pais. Com os demais estudantes, a professora tem atuado em parceria com os familiares, que aprenderam a usar o Google Meet, ferramenta de videoconferência adotada pela rede municipal.
Neste ano, a educadora optou por continuar com a mesma turma do ano passado, a do 1º ano, justamente para acompanhar de perto a aprendizagem dos alunos. Desde 2020, as avaliações são feitas no dia a dia, de forma processual, também pelo Meet. Mas, pelo menos uma vez a cada dois meses, Kelly se encontra individualmente com cada aluno para uma avaliação mais completa das aprendizagens. No encontro virtual, ela faz projeções na tela para que a criança possa responder às perguntas de forma interativa, com jogos e brincadeiras, além de atividades como ditado, para avaliar a escrita, a oralidade e a leitura de cada um.
Crianças com mais dificuldade na Alfabetização
Para a professora Kelly, o principal obstáculo é avaliar as crianças que têm mais dificuldades. Ela observa que os pais têm mais paciência com crianças que estão alfabéticas e já respondem com autonomia. Mas com as não alfabéticas não é bem assim. Apesar das instruções para a família deixar a criança pensar e não interferir, às vezes o adulto fica ao lado apressando, ou mesmo silabando ou dando dicas, o que interfere no desenvolvimento da criança e compromete a avaliação no ambiente virtual, segundo a professora.
“Às vezes até a impaciência não verbal da família interfere no desenvolvimento da criança. Quanto mais a criança tem dificuldade, mais existe uma ansiedade da família e uma interferência. Mas, de todo modo, é bem melhor fazer uma avaliação com interferência do que não fazer nenhuma avaliação, porque senão ficamos no escuro”, pontua. Contudo, Kelly aproveita para orientar as famílias sobre a importância de fazer as atividades com calma, buscando repertoriar a criança com palavras sem soletrar, apoiando-se em listas de nomes e frutas, entre outros, letra inicial e final, por exemplo.
Há cerca de um mês, a professora Kelly também está lecionando no presencial. A rede municipal de Vinhedo, município localizado no interior do estado de São Paulo, mantém aulas remotas e presenciais desde maio. Assim, quem está em casa assiste às aulas de forma síncrona com os alunos que estão na escola. No entanto, esse processo será repensado para que possa contemplar mais crianças.
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